sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Linha de Pombas Giras

Linha de Pombo Giras
Imagem: Pombas Giras da Umbanda. Editadas em conjunto / Google

Essa linha é regida por Exu e amparada por Ogum, embora cada Pomba Gira (ou Pombogira) venha na irradiação de um ou mais Orixás, pois elas próprias são filhas de determinado Orixá e perante outros Orixás foram iniciadas para trabalharem em Seus Mistérios.
É o arquétipo da mulher forte, feminina, alegre, sensual e misteriosa, embora encontremos Pombas Giras que sejam mais sérias e reservadas. São entidades que em sua maioria, chegam gargalhando, girando e dançando. 
São espíritos humanos que tiveram várias encarnações e que, com o tempo, obtiveram a permissão da Lei Maior para se assentarem à Esquerda dos Orixás e trabalharem em favor da nossa evolução.
Sobre a origem da palavra Pomba Gira:
Na Cultura Nagô-Iorubá, de onde vem o culto aos Orixás, não existe um Orixá Pomba Gira (Divindade) e nem uma Entidade Pomba Gira. A provável origem do nome Pomba Gira está numa Divindade da Cultura Bantu. Os povos Bantus (ou Bantos) ocupavam a região de Angola, Congo e Cabinda, que ficava ao lado do território do povo Sudanês, este correspondente aos Nagôs e Jejes. Entre os Bantos, predomina a Cultura Angola, na qual o idioma mais falado é o Kimbundu (ou Kimbundo). Dentro dessa Cultura Angola de língua Kimbundu, as divindades são chamadas Inkices e entre elas há uma Divindade “Bombo Gila” ou “Bombo Njila” ou “Pambu Njila”, que é o Senhor ou Guardião dos caminhos e das encruzilhadas. Dessa designação pode ter derivado o nome Pomba Gira. Outros estudiosos afirmam que o nome Pomba Gira deriva de “Bombogira" (ou “Bombo Djiro”), divindade da Cultura Angola que recebia oferendas nas encruzilhadas e caminhos e que às vezes era identificada como feminina e outras, como masculina.
Dentro da Umbanda, o nome Pomba Gira pode ser traduzido como mensageira dos caminhos à Esquerda da Criação. “Pomba” é um pássaro que já foi usado como correio (pombos-correios); e “gira” expressa a ideia de movimento, caminhada, deslocamento, etc. Como essas Entidades atuam na Esquerda, vem o significado de mensageira dos caminhos à Esquerda. Logo no início da religião de Umbanda, as primeiras Entidades que se apresentaram foram os Caboclos, os Pretos Velhos e as Crianças. Em seguida vieram os Exus, que chegaram trazendo entidades companheiras, as quais se identificavam como Pomba Gira. Assim como Exu é um guardião e protetor na Esquerda, Pomba Gira também é uma guardiã protetora atuante na Esquerda da Umbanda. Ela se apresentou como par natural de Exu e por esse motivo, no início das suas manifestações, se pensava que Pomba Gira fosse “mulher de Exu” e até “mãe de Exu Mirim”.
Com o passar do tempo, a espiritualidade foi esclarecendo melhor aquele tipo de manifestação, aumentando a nossa compreensão a respeito dessas entidades.
Há registros de que entidades com características semelhantes já se manifestavam no Brasil antes do advento da Umbanda. O pesquisador João do Rio, no livro “As Religiões do Rio”, relata casos dessas manifestações nas chamadas “macumbas” cariocas. Porém, com características próprias, a presença de Pomba Gira se acentua na Umbanda nas décadas de 1960/70, coincidindo com os movimentos pela libertação feminina. Até então, historicamente, a mulher sempre teve um papel subalterno em nossa sociedade (marcadamente machista) sendo rotineiramente sufocada na sua expressão, pelo poder masculino. Não é demais lembrar que há questão de um século a legislação de muitos países permitia ao marido até mesmo matar a mulher que lhe fosse infiel. Porém, esse marido não poderia assassinar o homem que participou com ela da traição. Ou seja, as leis deixavam bem claro que o homem era superior à mulher, que a “culpa e o crime eram sempre da mulher e, portanto, ela merecia todos os castigos e punições”. Muitas religiões inclusive “sacramentavam” a condição subalterna das mulheres, impondo-lhes obediência irrestrita aos pais, maridos e aos parentes masculinos em geral, além de cobrir todo o corpo, até então visto como “fonte de pecado e luxúria”.
Dessa forma e por muito tempo, a mulher foi reduzida à condição de objeto, pois não era vista como um ser com direitos e foi levada a crer na sua inferioridade perante o homem e a acreditar que a sua sensualidade e sexualidade naturais, de origem Divina, era algo demoníaco. Também na política faz pouco tempo que as mulheres conquistaram direitos.
Com isso, as Pombas Giras trouxeram um novo padrão de valor feminino para a sociedade, ajudando muitas mulheres a conquistarem autoconfiança e a recuperarem sua autoestima. Indiretamente, ainda, auxiliavam a promover uma transformação do olhar masculino e de toda a sociedade para com as mulheres. Mais uma vez, nos deparamos com a Espiritualidade Superior buscando formas de nos ajudar a valorizar a figura da mulher e a quebrar mais um preconceito, levando a sociedade a avançar como um todo no caminho da fraternidade, da igualdade e do respeito ao outro.

Na Criação, encontramos o Princípio Masculino, o Poder e a Força Masculinos do Criador manifestados por meio dos Orixás Masculinos. É a Manifestação do aspecto “Pai” do Criador. Já o Princípio, o Poder e a Força Femininos do Criador são manifestados pelos Orixás Femininos. Manifestação do aspecto “Mãe” do Criador. E este mesmo Poder Feminino está presente em Pomba Gira. Ou seja, na Umbanda, Pomba Gira é também uma Manifestação do Sagrado Feminino, portanto, é uma entidade que deve ser tratada com o mesmo respeito que dedicamos às demais.
Na Umbanda, Pomba Gira é cultuada como Guia de Trabalho, como espírito que trabalha a serviço da Luz e que, portanto, só pode praticar o Bem, ainda que às vezes o faça com mão forte.
O Trono que corresponde ao Mistério Pomba Gira é denominado Trono do Estímulo ou do Desejo, pois esta é a energia que Pomba Gira nos transmite, e com muita propriedade; o despertar do estímulo, do gosto pela vida, o “start” para levarmos avante os nossos esforços pela conquista de uma vida melhor, mais saudável e equilibrada, em todos os setores.
O “desejo” que Pomba Gira desperta em nós não se refere ao campo unicamente sexual, como alguns pensam, mas tem uma conotação muito mais ampla. Sem estímulo, a pessoa não consegue caminhar em nenhum setor da vida. E no campo sexual, especificamente, Pomba Gira é a grande esgotadora dos desequilíbrios, dos entraves e bloqueios que possamos carregar em nosso íntimo, visto que a energia sexual é sagrada e, por isso mesmo, importante para o nosso equilíbrio geral. Pomba Gira muitas vezes revela o que está escondido, para promover o esgotamento desses negativismos. E por qual motivo Pomba Gira se apresentou, no início, como par natural de Exu? Exatamente porque Pomba Gira desperta nos seres o estímulo para agir, enquanto Exu vitaliza essa vontade, para que o objetivo seja alcançado.
Ainda há muita desinformação a respeito de Pomba Gira, inclusive no meio umbandista. Para alguns, seria uma entidade capaz de fazer o mal (amarrações, trabalhos de magia negativa, etc.). Grande equívoco! Uma entidade que trabalha a serviço da Lei Maior não se presta a tais coisas. O que pode acontecer é que seres trevosos se aproveitem da malícia e despreparo do médium ou do consulente, ou de ambos, para, usando o nome de Pomba Gira, atenderem a caprichos inferiores. Mas aí a responsabilidade é dividida de forma igual entre quem pediu, o médium que serviu de intermediário e quem fez, e não das Pombas Giras. Esta linha atua no desmanche de amarrações e outros trabalhos feitos através de magia negra, e não o contrário. É uma linha com múltiplas facetas.

Pomba Gira é um espírito humano que teve várias encarnações. Que, como todo ser humano, cometeu erros. Mas que se arrependeu e se reergueu, obtendo a permissão divina para trabalhar, usando da sua experiência em benefício da própria evolução e também da nossa, porque nos alerta sobre as consequências dos erros. Quem errou e reconheceu seus erros tem um grau de consciência apurado. E quem vem trabalhar como Guia de Umbanda tem um nível de evolução superior ao nosso. Pomba Gira também serviu de desculpa para que algumas pessoas atribuíssem a ela seus comportamentos no campo da sexualidade – Pomba Gira irá cobrar cada um destes por atribuir seus desvios a seu nome!
Ninguém pode afirmar, ao certo, quem foram as Pombas Giras em sua última encarnação ou nas anteriores. E isso não interessa, na verdade... Quem somos nós para julgar quem vem nos ajudar? O que importa é que se trata de Espíritos a serviço da Luz e que, por já terem errado, conseguem entender os nossos erros humanos. Falam conosco de igual para igual (no sentido de compreensão) e podem nos ajudar no caminho da recuperação, a partir do momento em que assumirmos responsabilidade pelos nossos atos. Quando uma Entidade da Esquerda vem e nos conta um episódio do seu passado como encarnado, fala dos seus erros e das suas consequências quando deixou a carne, e tudo isso nos serve de reflexão. Esse é um dos pontos de atuação de Pomba Gira em nosso favor, pois quando ela fala de erros, acertos e consequências, ela sabe do que está falando e nos transmite sinceridade e veracidade. Quem conhece o caminho pode guiar quem vem atrás.
A única maneira de quebrarmos os preconceitos que ainda existem em relação às Pombas Giras é pelo estudo da natureza e finalidade do trabalho dessas entidades dentro da Umbanda. Fieis de outras religiões não têm obrigação de conhecer isso, embora devam nos respeitar, até por força de mandamento constitucional. Mas enquanto houver médiuns e consulentes umbandistas achando que podem pedir qualquer coisa a uma Pomba Gira, ou médiuns vestindo roupas escandalosas, com decote exagerado, transparentes, barriga de fora, com maquiagem e adornos excessivos e requebrando de maneira vulgar por aí, e fazendo isso “em nome de Pomba Gira”, será difícil que a Umbanda obtenha o respeito das pessoas de fora da religião. E dentro da religião essas práticas absurdas só abrem caminho para a manifestação de seres trevosos, mentirosos e enganadores, que nada mais são do que afins com aqueles que deturpam o nome da Umbanda. Semelhante atrai semelhante.

“Ela mexeu com o imaginário popular e muitos a associaram à mulher da rua. Mas todos se quedaram diante de sua beleza, feminilidade e liberalidade. Sua desenvoltura e seu poder fascinam até os mais introvertidos que, diante dela, se abrem e confessam suas necessidades, seus recalques, suas frustrações, suas mágoas, tristezas e ressentimentos com os pretendentes. E a todos ela ouviu com compreensão e a ninguém negou seus conselhos e sua ajuda num campo que domina como ninguém mais é capaz. Quem não iria admirar e amar um arquétipo tão humano e tão liberalizado de sentimentos reprimidos à custa de muito sofrimento?”.


Símbolos de representação da linha: Tridentes arredondados, punhais, rosas vermelhas.
Cores: Vermelho, preto e vermelho, etc.
Ferramentas: Punhal, búzios, moedas de cobre/douradas, conchas, tridentes arredondados, flores, velas, baralhos, tecidos, etc.
Flores: Rosas vermelhas, flores vermelhas em geral.
Comidas: Geralmente frutas avermelhadas e cítricas, carnes, farofas.
Bebidas: Alcoólicas ou não. Champanhes, vinho, cerveja clara, cerveja escura, licores, etc.
Fumo: Cigarrilhas, fumos com ervas enroladas na palha, cigarros.
Pontos de Força: Preferencialmente encruzilhadas em T e Y. Caminhos e encruzilhadas em geral.
Saudação: Laroyê Pomba Gira! Pomba Gira é mojubá!

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Fontes:
Adaptação do texto original postado no site Instituto Cultural Sete Porteiras do Brasil.

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