sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Linha do Oriente

Linha do Oriente
Imagem: Entidades da Linha do Oriente da Umbanda. Editadas em conjunto / Google

A Linha do Oriente possui o amparo de todos os Orixás e trás arquétipos diversos. Ela é composta por inúmeras entidades, classificadas em sete falanges e majoritariamente de origem oriental. Apesar disso, muitos espíritos desta linha podem apresentar-se como caboclos ou pretos velhos. O Caboclo Timbirí (caboclo japonês) e Pai Jacó (Jacob do Oriente, um preto velho bastante versado na Cabala Hebraica), são os casos mais conhecidos. Hoje em dia, ganha força o culto do Caboclo Pena de Pavão, entidade que trabalha com as forças espirituais divinas de origem indiana. Mas nem todos os espíritos são orientais no sentido comum da palavra. Esta linha procurou abrigar as mais diversas entidades, que a princípio não se encaixavam na matriz formadora do brasileiro (índio, português e africano); é uma linha sincrética e ampla. Abriga povos de diversas culturas (não só orientais), como os médicos do espaço, mentores espirituais que não se classificam nas demais linhas, indianos, japoneses, chineses, egípcios, árabes, maias, incas, astecas, celtas, nórdicos, africanos que não se encaixam em outras linhas, etc.
A Linha do Oriente foi muito popular de 1950 a 1960, quando as tradições budistas e hindus se firmaram entre o povo brasileiro. Os imigrantes chineses e japoneses, sobretudo, passaram a frequentar a Umbanda e trouxeram seus ancestrais e costumes mágicos. Antes destas datas, também era comum nesta Linha a presença dos espíritos ciganos, que possuem origem oriental. Mas tamanha foi a simpatia do povo umbandista por estas entidades, que a espiritualidade criou uma linha independente de trabalho, com sua própria hierarquia, magia e ensinamentos.
Suas falanges, dentro da própria linha do Oriente, é dividida assim:

Falange dos Indianos: Espíritos de antigos sacerdotes, mestres, yogues e etc. Um de seus mais conhecidos integrantes é Ramatis. Está sob a chefia de Pai Zartu.
Falange dos Árabes e Turcos: Espíritos de mouros, guerreiros nômades do deserto (tuaregs), sábios marroquinos, etc. A maioria é muçulmana. Uma legião está composta de rabinos, cabalistas e mestres judeus que ensinam dentro da Umbanda a misteriosa Cabala. Está sob a chefia de Pai Jimbarue.
Falange dos Chineses, Mongóis e outros Povos do Oriente: Espíritos de chineses, tibetanos, japoneses, mongóis, etc. Curiosamente, uma legiăã está integrada por espíritos de origem esquimó, que trabalham muito bem no desmanche de demandas e feitiços de magia negra. Sob a chefia de Pai Ory do Oriente.
Falange dos Egípcios: Espíritos de antigos sacerdotes, sacerdotisas e magos de origem egípcia antiga. Sob a chefia de Pai Inhoaraí.
Falange dos Maias, Toltecas, Astecas e Incas: Espíritos de xamãs, chefes e guerreiros destes povos. Sob a chefia de Pai Itaraiaci.
Falange dos Europeus: Espíritos de sábios, magos, druidas, mestres e velhos guerreiros de origem européia: romanos, gauleses, ingleses, escandinavos, celtas, etc. Sob a chefia do Imperador Marcus I.
Falange dos Médicos e Sábios: Os espíritos desta Falange são especializados na arte da cura, que é integrada por médicos e terapeutas de diversas origens. Sob a chefia de Pai José de Arimatéia.

Os mentores de cura da Falange dos Médicos e Sábios são muito discretos em sua forma de se apresentar e trabalhar, e estas formas mudam de acordo com a religião ou local em que irão atuar. São espíritos de grande conhecimento, seriedade e elevação espiritual. São extremamente práticos, não aceitando conversas banais ou ficar se estendendo a assuntos que vão além de sua competência ou nos quais não podem interferir, pois não são guias de consulta no sentido ao qual estamos habituados na Umbanda. Para se ter uma ideia melhor, sua consulta seria o polo oposto à consulta com um Preto Velho. Normalmente os pretos velhos dão consultas longas, cheias de ensinamentos de histórias, apelando bem para o lado emocional. Já os Mentores de Cura, se dirigem ao raciocínio, buscam fazer o encarnado compreender bem as causas de suas enfermidades e a necessidade de mudança nessas causas, bem como a necessidade de seguirem à risca os tratamentos indicados. Quando precisam passar algum ensinamento o fazem em frases curtas e cheias de significado, daquelas que dão margem a longas meditações. São espíritos que quando encarnados foram: Médicos, Enfermeiros, Boticários, Orientais (que exercem sua própria medicina desde bem antes das civilizações ocidentais), Religiosos (monges, freis, padres, freiras, etc.), ou exerceram qualquer outra atividade ligada a cura das enfermidades dos seres humanos, seja por métodos físicos, científicos ou espirituais. Utilizam-se de cirurgias espirituais, cirurgias perispirituais, cromoterapia, fluidoterapia, reiki, homeopatia e outros métodos para realizarem a cura dos seguintes males:

Males Físicos: A maior parte dos males físicos de que os encarnados sofrem, são causados pelos maus hábitos, vícios e má alimentação. Os mentores nestes casos se utilizam das diversas terapias para a cura, mas principalmente esclarecem ao encarnado quanto à origem de tais males, sugerindo dietas, o abandono ou diminuição dos vícios e mudança de hábitos. Nestes casos a cura definitiva só pode ser obtida com a plena conscientização do paciente e com a sua força de vontade e compromisso na obtenção do equilíbrio orgânico.
Males Mentais: Parte dos males mentais (depressão, angústia, apatia) é causado por obsessores, mas a maior parte deles tem por origem a própria atitude mental do paciente. Pensamentos negativos atraem energias negativas, que quando se tornam constantes e intensas podem se materializar no corpo físico na forma de doenças. Males como: úlceras, enxaquecas, hipertensão, problemas cardíacos, e até mesmo algumas formas de câncer podem ser provocados pela mente do paciente, quando este se encontra tomado por pensamentos negativos. Também neste caso os mentores, além de indicarem os tratamentos apropriados, esclarecem ao paciente quanto à necessidade de mudar a atmosfera mental, com objetivo de não ficar atraindo continuamente energias desequilibrantes, costumam também sugerir passeios por locais da natureza e o hábito da prece como forma de atrair energias novas e regeneradoras.
Males Karmicos: Os males karmicos se caracterizam por doenças incuráveis (fatais ou não) tanto pela medicina alternativa, quanto por terapias alternativas ou por meios espirituais. Nestes casos o tratamento visa o alívio do paciente ou ampará-lo emocionalmente para que sua atitude mental não tome o rumo da revolta ou do desespero. As doenças karmicas são males que escolhemos antes de encarnar como forma de resgatarmos erros passados. Típicos males karmicos são: cegueira de nascença, mudez, atraso mental, epilepsia, síndrome de Down, má-formação do corpo físico, etc. Na maior parte são males de nascença, embora algumas doenças possam ter sido “programadas” para surgir em determinada época da encarnação. Nestes casos os mentores não podem (e nem deveriam) curar o corpo, pois através do padecimento deste é que o espírito está resgatando suas faltas e aprendendo valiosas lições para sua evolução e crescimento.
Males Espirituais: São aqueles causados pela atuação dos espíritos (obsessores, vampiros astrais, etc.) e que se refletem no corpo físico. Nestes casos os mentores cuidam do corpo físico enquanto o paciente é tratado também em sessões de desobsessão, descarrego, etc. Ou seja, os mentores com as terapias à seu alcance minimizam e atenuam os males causados ao corpo físico enquanto o paciente é tratado na origem espiritual do mal de que sofre. Quando o paciente se vê livre da presença espiritual nociva, os mentores costumam ainda continuar com os tratamentos visando reparar os males que já haviam sido causados ao organismo, até que ele retorne ao seu equilíbrio.

Como visto, é uma linha ampla com atuações diversas. Cada entidade carrega consigo suas especialidades de trabalho, podendo ser descarrego, desobsessão, doutrina, cura, auxílio no desenvolvimento de habilidades mediúnicas, etc.
Existem terreiros que não trabalham com esta linha e médiuns que não se permitem manifestar entidades com vibrações diferentes das comuns. Esta é uma linha como qualquer outra da Umbanda, com entidades maravilhosas à serviço do Bem Maior.


Símbolos de representação da linha: Símbolos próprios de cada cultura.
Cores: Todas as cores, principalmente a laranja.
Ferramentas: Elementos próprios de cada cultura.
Flores: Flores de todo tipo e de todas as cores.
Comidas: Frutas de todo tipo e comidas específicas de cada cultura.
Bebidas: Bebidas de todo tipo.
Fumo: Charutos, cachimbos, cigarros, etc.
Pontos de Força: Qualquer ponto da natureza da preferência do Guia.
Saudação: Salve a Linha do Oriente! (ou alguma saudação específica, como Namastê).

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Fontes:
Adaptação do texto original postado no site Instituto Cultural Sete Porteiras do Brasil.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Estrutura física dos terreiros de Umbanda

Estrutura física dos terreiros de Umbanda
Imagem: Congá da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade,
primeiro templo de Umbanda fundado no Brasil.
Reprodução/ Google
Hoje falarei sobre a estrutura física de um terreiro de Umbanda, abordando os pontos necessários para a fixação de forças do terreiro.
Muitos de nós ficam admirados com a beleza dos congás e com o formato das demais estruturas do terreiro, mas nem sempre sabem qual o real fundamento de tudo aquilo. Essa postagem visa apenas explicar o que é e qual o objetivo desses elementos, sem "passar a receita" dos elementos magísticos a serem inseridos e como consagrar. Pois além de ser praticamente impossível já que cada terreiro tem seus objetos e método de consagração próprios, a grande sacada da coisa é manter tudo em sigilo para proteger o próprio terreiro.
Antes de entrarmos no assunto, precisamos ter em mente que não importa como o terreiro seja (seu tamanho, vertente, etc.), esses são pontos essenciais para o pleno funcionamento de um templo.


Congá
Um congá, ou altar, quando devidamente fundamentado é um ponto de força pelo qual as irradiações dos poderes divinos e forças espirituais alcançarão todo o espaço e as pessoas presentes no terreiro. Sua principal função é criar um magnetismo específico; um portal de captação das irradiações dos Orixás e Guias irradiadores dessas energias positivas que se espalharão por todo terreiro. Por conta de sua ação irradiadora é que o congá tem polaridade positiva. É sustentador, amparador, estabilizador.
No congá são colocados elementos materiais que, assim que são consagrados religiosamente, tornam-se os irradiadores dessas energias puras. Alguns itens estão à mostra e outros estão escondidos (como o assentamento principal e as firmezas).
Embora o congá tenha uma função coletiva de irradiação, é necessário que esteja disposto seguindo as características da casa e aspectos mediúnicos do sacerdote, sem padrões. Desde o seu formato aos elementos ali presentes, tudo é preparado conforme orientações da espiritualidade (os Guias chefes da casa), por isso nunca veremos congás iguais.
Os elementos, com o tempo, podem ser trocados. Elementos podem ser adicionados, pode haver fontes de luz (como lâmpadas coloridas), água em cascata ou outros elementos naturais, tudo conforme a espiritualidade orientar. Como em qualquer estrutura essencial do centro (congá, tronqueira, casa de Exu e cruzeiro das Almas), nenhum elemento disposto ali pode ser tocado por outras pessoas ou serem tratados como elementos comuns, profanos.
O altar deve estar sempre limpo e arrumado, para que os elementos consagrados cumpram sua função sempre com harmonia e energia.

Como Fazer um Congá? 
Um congá nunca será igual a nenhum outro porque ele contém particularidades do(s) sacerdote(s) da casa. Não existe um padrão dos elementos que serão ali colocados, pois cada sacerdote tem seus Orixás e Guias específicos, bem como suas preferências pessoais e as necessidades de seus Guias. Também é possível fazer um altar em casa, inserindo itens da preferência de quem o fizer, devendo, entretanto, consagrá-los, se não serão meros objetos de decoração, não cumprindo o objetivo de irradiação de energias. 
O congá pode ser feito de alvenaria, madeira, pedra, aço, etc. Os elementos que podem ser colocados no altar incluem toalhas, imagens, flores, ervas, frutos, velas, cristais, minérios, ferramentas, quartinhas com fundamentos, etc. – tudo consagrado e programado para o objetivo de irradiar energias sagradas, e principalmente, de acordo com as orientações do Guia chefe da casa ou seguindo as particularidades de quem o fizer em casa. Seu tamanho depende do tamanho do espaço que se tem, não havendo certo ou errado. O correto é sempre o jeito de quem está fazendo, com fé e cuidado.


Tronqueira
As tronqueiras são “casinhas” que tem como finalidade abrigar o assentamento e as firmezas das forças dos Exus, Pombas Giras e Exus Mirins da casa. Este recurso é, no templo, um ponto de força onde está firmado (ativado) o poder dos guardiões que militam em dimensões à nossa esquerda, para segurar a casa e o trabalho realizado dentro dela.
A tronqueira funciona como um para-raios; é um portal que impede as forças hostis de se servirem do ambiente religioso de forma deturpada. No astral, os Exus, Pombas Giras e Exus Mirins utilizam-se dos elementos dispostos na tronqueira para beneficiar os trabalhos que são realizados dentro do templo. Com estes elementos, as entidades anulam forças negativas, recolhem e encaminham seres trevosos, abrem caminhos, protegem, etc. A tronqueira tem polaridade negativa, ou seja, é drenador, magnetizador, absorvedor (e não significado mau, ruim, como sempre pensamos quando falamos em negativo; clique aqui para ver postagens explicando sobre a dualidade do universo). É um receptáculo poderoso para absorção de toda energia negativa do terreiro. O assentamento e firmezas existentes na tronqueira enviam as energias negativas às dimensões elementais, onde são diluídas e incorporadas ao éter novamente.
Nesses assentamentos e firmezas encontramos vários tipos de ferramentas (instrumentos mágicos), cada um com sua finalidade específica. Os Exus, Pombas Giras e Exus Mirins ativam seus mistérios nestes elementos com a finalidade de realizarem seus trabalhos espirituais de defesa do terreiro. É importante que os médiuns e os assistidos saibam da importância de uma tronqueira e que todos saibam que este ponto de força está sob as ordens da Lei Maior.
As tronqueiras devem ser saudadas de forma respeitosa quando adentramos nos templos. Qualquer um pode se servir do poder desses guardiões, basta acender uma vela e pedir proteção e auxílio com fé e assim receberá. Eles estão a serviço do Bem, da Lei Maior, da proteção da casa e de todos aqueles que estão nela.

Como fazer uma tronqueira?
Sua estrutura deve ser, preferencialmente, de alvenaria. Outros materiais também são aceitáveis, mas deve-se ter cuidado com materiais inflamáveis. Uma cobertura é necessária para proteger os elementos que ali estão.
Deve ser construída preferencialmente à esquerda da entrada do terreiro, mas não é uma regra. Como o congá, não existe um padrão. Muitos terreiros possuem limitações de espaço – nem sempre é possível fazer a tronqueira à esquerda. Muitos terreiros possuem suas tronqueiras bem adaptadas com sua realidade, em locais incomuns, que cumprem seu papel tão bem quanto outra. É necessário ter em mente que a espiritualidade, acima de tudo, é adaptável. Nenhum Guia ou Orixá deixará de atuar em um terreiro por conta de posições geográficas. Em um terreiro de fé, seriedade e firmeza, certos detalhes podem ser ajustados sem problemas.
Dentro da tronqueira é onde fica o assentamento e as firmezas dos Guias de esquerda. O assentamento é do guardião (sendo este o Exu, a Pomba Gira ou o Exu Mirim da casa), e as firmezas de outros Exus, Pombas Giras e Exus Mirins que auxiliam no processo, coletivamente ou pessoalmente. Geralmente são enterrados embaixo da tronqueira, mas também podem estar embaixo da terra em caldeirões, alguidares e outros receptáculos. Nos assentamentos e firmezas são firmados elementos magísticos a pedido dos Guias, como imagens, tridentes, punhais, pedras, ervas, sementes, ferramentas, etc. Os elementos devem ser consagrados pelo médium e pelos guardiões e programados para cumprir seu dever. As bebidas podem estar em uma quartinha de barro, e as velas podem ser acesas conforme intuição do médium. Um assentamento demora, em média, três anos para maturar completamente. Os itens essenciais presentes nos assentamentos e firmezas devem estar ocultos aos olhos das outras pessoas, para proteção do próprio terreiro; somente o pai e/ou mãe deve saber o que está enterrado. Os demais elementos expostos na composição da tronqueira, como as ferramentas, quartinhas, imagens e velas, não há problema.
É necessário manter o local sempre limpo, não demorando a recolher as oferendas e alimentações feitas. Sujeiras e materiais deteriorados deixam de cumprir seu objetivo com eficácia ou podem, ainda, funcionar inadequadamente.

É comum as entidades usarem a tronqueira para realizar atendimentos?
Sim. Alguns terreiros não permitem que outras pessoas visualizem o que há em seu interior, muitas vezes nem mesmo por sua corrente. Outros, entretanto, permitem a entrada, pois o essencial (o que está dentro das quartinhas, quartilhões, alguidares, caldeirões ou mesmo embaixo do chão) já está escondido. Dessa forma, se utilizam da tronqueira para descarregos, desobsessões e outros trabalhos. Não existe uma regra definida, cada terreiro decide se usará a tronqueira para mais alguma função ou não. 

Qualquer um pode ter uma tronqueira ou apenas os terreiros?
Sim, qualquer um pode ter, o que se discute apenas é a real necessidade de se ter uma tronqueira em casa, num cômodo de comércio, etc. A tronqueira é uma estrutura preparada para abrigar forças e descarregar grandes cargas e energias negativas, por isso no terreiro é essencial; a atividade energética de um terreiro é muito maior que de casas e comércios. Nestes lugares, costuma-se usar firmezas mais simples (de variadas entidades, inclusive) que cumprem bem seu trabalho de proteção.


Abaixo, outros elementos da estrutura de um templo que não são necessariamente obrigatórios mas que possuem fundamentos específicos e são muito úteis para os trabalhos da casa:

Casa de Exu
A casa de Exu em seu conceito confunde-se muito com a tronqueira, mas sua finalidade em algumas casas pode ser diferente. A casa de Exu é onde fica o congá da esquerda, com todos os materiais utilizados pelos Exus, Pombas Giras e Exus Mirins. Lá é onde é feito todo trabalho denso como descarregos, desobsessões, etc. O quarto de Exu, geralmente, tem uma egrégora própria, ideal para os trabalhos realizados ali, com assentamento de força específico. Terreiros que têm tronqueira e casa de Exu separados é porque provavelmente o sacerdote optou por deixar a tronqueira somente para a absorção de energias negativas e a casa de Exu para os Guias de esquerda utilizarem, para as pessoas não ficarem curiosas para com os elementos que estão presentes na tronqueira. A casa de Exu tem polaridade negativa também, assim como a Tronqueira.

Cruzeiro das Almas
O Cruzeiro das Almas, igual ou similar ao que encontramos no cemitério, é um portal regido pelo Orixá Omolu (Obaluaê) e amparado pelos Pretos Velhos.
Tem a função de passagem, transmutação. É um portal de luz onde o espírito desencarnado confuso e perdido é orientado e assim conclui de fato sua passagem do mundo físico para o espiritual, não ficando preso à Terra. Além disso, como transmutador, age nas passagens de um estado de doença física ou emocional, obsessão complexa, mágoas, ódios, rancor e todo sentimento de ordem negativa para uma situação de cura, equilíbrio e harmonia. Transmuta e protege.
Como no Cruzeiro do cemitério, pode-se acender velas para os entes queridos já desencarnados, buscando a ajuda das almas para que estes estejam sempre em seu caminho de evolução.
Pode estar localizado dentro ou fora do terreiro; é adaptado de acordo com o espaço do terreno. Assim como os outros pontos de força, têm em si seus elementos de firmeza.


Todo o resto (como a cozinha, quartos de vestir, banheiros e outros cômodos) são elementos auxiliares da estrutura, próprios para o uso dos médiuns e consulentes, portanto não necessitam de nenhum preparo ritualístico.

Saravá!

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Recomendo:
- O curso do Umbanda EAD, Altares e Tronqueiras. Já foi ministrado antes, mas como acontece com alguns cursos, eles voltam depois de um tempo.
- Este vídeo do sacerdote Norberto Peixoto sobre Cruzeiro das Almas. 

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Linha de Ciganos

Linha de Ciganos
Imagem: Ciganos da Umbanda. Editadas em conjunto / Google

Os Ciganos inicialmente se manifestaram na Umbanda dentro da Linha do Oriente. Mais tarde, vieram como Linha autônoma e com um campo especializado de atuação, que se volta muito para a magia visando à prosperidade, à união das famílias, ao amor, à cura, à quebra de magias negativas, à superação de preconceitos e traumas e bloqueios emocionais. A magia cigana é muito ampla e não possui a regência de um Orixá específico, sendo Santa Sara Kali, padroeira dos Ciganos, a principal regente dessa linha tendo a subregência de todos os Orixás.
A linha traz o arquétipo de um povo muito antigo e místico, de alma livre, desapegado e, por isso mesmo, capaz de atrair a prosperidade no campo espiritual e material e de ensiná-la a quem precise. Popularmente, às vezes se pensa que os Ciganos eram apegados a joias e metais preciosos, mas o que ocorre é que esses valores eram de fácil transporte para eles, que eram nômades, e assim procuravam ter meios de subsistência. O desapego e o senso de liberdade aparecem na sua maneira de viver, que é sustentada em suas crenças, tradições e na valorização da família. Nunca se envolveram em disputas por domínio ou conquistas. Nem todos foram precisamente Ciganos quando em vida, muitos se agruparam por afinidade energética desta bonita linha.

Segundo a maioria dos pesquisadores da atualidade, a origem dos Ciganos está na Índia. Ao que tudo indica, de início não eram nômades, mas condições adversas os levaram a peregrinar. Alguns pesquisadores apontam que foram expulsos por invasores muçulmanos, por volta do século X, e daí em diante tornaram-se nômades. Os Ciganos são grandes conhecedores da magia, muito alegres, amantes da natureza, muito voltados para a família, serenos e sábios conselheiros. São especialistas em preparar remédios com raízes, folhas e pós. São portadores de uma Energia que favorece muito a prosperidade, pois estimula nas pessoas um sentimento de liberdade, de amor e celebração da vida, bem como o desapego, fatores indispensáveis para se atrair a ”boa sorte” e “a fortuna”. O Povo Cigano traz uma extraordinária bagagem cultural. Por sua natureza nômade, os Ciganos viveram em diversas regiões do mundo, acabando por somar aos próprios conhecimentos aquilo que assimilaram de tantas outras culturas. Ao longo da história, os Ciganos enfrentaram inúmeros preconceitos, desconfianças e acusações injustas, sendo banidos de muitas regiões do planeta. Eram fechados na sua maneira de viver, no sentido de que falavam um idioma próprio, não tinham escrita e tudo era passado oralmente. Por serem muito místicos, pareciam sempre misteriosos. Muitos foram presos e escravizados; grande número deles foi assassinado na Inquisição e, mais recentemente, pelo nazismo. Todos os povos têm entre si bons e maus elementos, e com os Ciganos não poderia ser diferente. O que não se pode é julgar todos pelo comportamento da minoria. A causa de tantas perseguições foi a sua cor de pele e a sua mística (seus dons), outro motivo nunca foi provado. Eles sofreram porque eram diferentes, e o que acontece até hoje.
Apesar de tudo isso, os Ciganos souberam preservar sua mística, sua alma livre e suas tradições culturais, inclusive a partir do idioma, o Romani (ou Romanês), até hoje é falado pela grande maioria dos Ciganos de todo o mundo. Eles mantiveram sua fé, suas crenças, sua sabedoria, sua magia, seu espírito livre de “cidadãos do mundo”, nunca lutaram por uma terra própria, não se apegaram a pedaço algum de chão. São “viajantes que dormem sob o teto das estrelas; filhos da Terra, da água, do vento, do sol, da lua, da chuva, do dia e da noite; e irmãos de todas as criaturas”.
Por toda a sua bagagem espiritual e cultural e por sua história de peregrinações e sofrimento, os Ciganos receberam do Astral Superior uma Linha de Trabalho que lhes rende homenagem. Não foram aceitos em alguns lugares, quando encarnados. Mas, ao desencarnar, conquistaram um Grau perante a Espiritualidade; vindo a somar suas forças às das demais falanges de trabalhadores da Umbanda, o que nos proporciona o privilégio de entrar em contato com esses espíritos antigos, que muito podem nos auxiliar com sua sabedoria de vida. Nos terreiros mais tradicionais os Ciganos ainda não são recebidos.

Trabalham na Vibração de Direita e Esquerda. Existem ainda alguns Exus e Pomba Giras Ciganas, Guardiões a serviço da Luz nas trevas, dentro dos seus campos de atuação, como todo Guardião. Os Ciganos gostam de música e dança. Suas Giras são envolventes, às vezes serenas, no entanto alegres e receptivas. Uma gira de Ciganos é aconchegante e acolhedora.
Usam muitos elementos magísticos, tais como: lenços e fitas coloridas, moedas, punhais, espelhos, taças, chaves, baralho cigano, dados, pedras, runas, leques, incensos, conchas, amuletos e talismãs. Podem se utilizar disso tudo ou não se utilizarem de nada; os Ciganos são uma linha de trabalho extremamente flexível. Observam as fases da Lua para os seus trabalhos.

Tudo no mundo Cigano está envolvo em magia. Há muitos símbolos, tais como:
Roda: É o grande símbolo Cigano. Simboliza o “Sansara”, o ir e vir; o passar por diversos estados; o ciclo nascimento/morte/renascimento. Usado para “o despertar da consciência” e assim promover a evolução e o equilíbrio.
Estrela de seis pontas: Simboliza proteção e está ligado à diversos clãs ciganos. É o símbolo dos grandes Chefes Ciganos. Usado como talismã de proteção contra inimigos visíveis e invisíveis. Também conhecido como Estrela Cigana e Estrela de David. Representa sucesso e evolução interior. Suas seis pontas formam dois triângulos iguais, que indicam a igualdade entre o que está encima e o que está embaixo (princípio de uma das Leis Herméticas).
Estrela de cinco pontas (pentagrama): Simboliza evolução, o domínio dos cinco sentidos. Usado para proteção, está associado também à intuição, à sorte e ao êxito.
Ferradura: Simboliza energia e sorte. Os Ciganos a consideram um poderoso talismã. É usada para atrair energia positiva, a boa sorte e a fortuna e para afastar a má sorte. Também representa o esforço e o trabalho.
Chave: Simboliza as soluções. Usada para atrair boas soluções de problemas. Quando trabalhada no fogo, atrai sucesso e riquezas.
Lua: Simboliza a magia e os mistérios. Usada geralmente pelas Ciganas para atrair percepção, o poder feminino, a cura e o exorcismo, e sempre atentando para as suas fases: Nova, Crescente, Cheia e Minguante. A Lua Cheia é o maior símbolo de ligação com o Sagrado, sendo chamada de “madrinha”. As grandes festas Ciganas sempre acontecem em noites de Lua Cheia.
Coruja: Simboliza "ver a totalidade". É usado para ampliar a percepção com a sabedoria, possibilitando ver a totalidade, o consciente e o inconsciente. Símbolo de sabedoria.
Âncora: Simboliza segurança. Usada para trazer segurança e equilíbrio no plano físico, inclusive financeiro e para se livrar de perdas materiais.
Moeda: Simboliza proteção e prosperidade. Usada contra energias negativas e para atrair dinheiro. É associada ao equilíbrio e à justiça, bem como à riqueza material e espiritual representada nas duas faces da moeda (cara e coroa). Para os Ciganos, cara é o ouro físico; e coroa é o espiritual.
Punhal: Simboliza força, poder, vitória e superação. Muito usado nos rituais de magia, tem o poder de transmutar energias. Os Ciganos usavam o punhal para abrir matas e por isso ele é um dos grandes símbolos de superação e pioneirismo, além da roda.
Taça: Simboliza união e receptividade (qualquer líquido cabe nela e adquire sua forma). No casamento Cigano, os noivos tomam vinho numa única taça, representando valor e comunhão eterna.
Trevo: É o símbolo mais tradicional de boa sorte. O trevo de quatro folhas traz felicidade e fortuna; encontrar um é prenúncio de boas notícias. 

Sobre o dia de comemoração dos Ciganos:
A maior peregrinação dos Ciganos encarnados é a que acontece para Saintes-Maries-de-La-Mèr, na região de Camargue (Sul da França), onde fica o Santuário de Santa Sara Kali. Todos os anos, Ciganos do mundo inteiro peregrinam às margens do mar Mediterrâneo para louvar Santa Sara, nos dias 24 e 25 de maio (o que tornou este o dia dos Ciganos na Umbanda). A origem do culto a Santa Sara permanece um mistério.
Foi provavelmente na primeira metade do século XIX que os Boêmios criaram o hábito da grande peregrinação anual a Camargue. Contam-se muitos milagres atribuídos a Santa Sara, considerada a Padroeira do Povo Cigano. Além de trazer saúde e prosperidade, Santa Sara Kali é cultuada pelas Ciganas por ajudá-las diante da dificuldade de engravidar e como protetora dos partos difíceis. Muitas Ciganas que não conseguiam ter filhos faziam promessas: se concebessem, iriam à cripta da Santa, em Saintes-Maries-de-La-Mèr, cumprindo uma noite de vigília e depositando em seus pés, como oferenda, o mais bonito lenço (diklô) que encontrassem. E lá existem centenas de lenços, como prova que muitas Ciganas receberam esta graça.


Símbolos de representação da linha: Os símbolos ciganos em geral, mas principalmente a roda.
Cores: Todas as cores. Branca para Santa Sara.
Ferramentas: Baralho, espelho, punhal, cristais e pedras coloridas, moedas antigas, medalhas, estrelas de seis e de cinco pontas, chave, ferradura, trevo, taça, roda, âncora, bolas de cristal, fitas e lenços coloridos, instrumentos musicais, leques, folhas e pétalas, tacho de cobre ou de prata, cestas de vime, etc.
Flores: Qualquer flor e de todas as cores. Rosas coloridas são especiais.
Comidas: Frutas não cítricas, frutas secas, carnes bem preparadas ao molho de frutas ou vinho.
Bebidas: Vinho tinto, licores, Martini, Amarula, etc.
Fumo: Cigarrilhas, cigarros de sabor, charutos, etc.
Pontos de Força: Grandes campos ou qualquer ponto da natureza da preferência do cigano.
Saudação: Optchá! Salve o Povo Cigano!

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Fontes:
Adaptação do texto original postado no site Instituto Cultural Sete Porteiras do Brasil.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A Umbanda faz de você um ser humano melhor?

A Umbanda faz de você um ser humano melhor?
Imagem: Reprodução / Google
No último sábado ocorreu uma gira no terreiro em que faço parte. Com a virada para a esquerda, um Exu da casa incorporou para nos passar um ensinamento sobre ser uma pessoa melhor e no quanto isso é urgente para nós médiuns, já que precisamos ser um exemplo e passar isso pra frente. Desde então venho pensando em como a Umbanda e as religiões em geral cumprem esse papel em nossas vidas e no quanto estamos dispostos a aceitar nossas imperfeições e mudar.
Pode parecer meio batido já que isso é sempre falado, e ninguém precisa de uma religião para ser um ser humano melhor. Mas a missão da Umbanda é nos auxiliar em nossa transformação também, sejamos médiuns ou não. E digo auxiliar sim, porque antes de qualquer irradiação positiva de um Orixá ou Guia existe a nossa vontade, o nosso querer, e tudo depende do que fazemos a partir de então. Será que colocamos em prática?

Você tem observado seu comportamento diante de qualquer situação da vida? Aí vai alguns exemplos:

  • Quando lhe contam uma fofoca sobre a vida de alguém, você rapidamente julga essa pessoa sem saber se o que lhe contaram é verdade?
  • Você trai a confiança de alguém, seja este companheiro amoroso, familiar, amigo ou colega de trabalho?
  • Julga alguém pelas suas roupas, moradia, orientação sexual ou qualquer outro fator de seu estilo de vida ou condição natural?
  • Quando algo de ruim acontece na sua vida você procura saber, antes de mais nada, se isso não é consequência de alguma ação cometida por si mesmo?
  • Quando lhe fazem mal ou algo que lhe machuca, você busca vingança ou resolve juridicamente no tribunal dos homens/espera pela justiça divina?
  • Quando descobre que alguém fala mal de você ou de algo/alguém que você ama, qual é seu primeiro pensamento?
  • Exige respeito irrestrito pela Umbanda e pelo seu templo mas respeita as outras religiões e os templos de seus irmãos de fé?
  • Busca ajuda quando precisa ou acha que é imbatível e pode resolver tudo sozinho?
  • Se sente superior aos outros ou entende que todos somos iguais perante a espiritualidade?
  • Gosta e aceita as pessoas pelo que são?
  • Faz uma boa ação buscando visibilidade terrena ou recompensa após a morte ou ajuda o próximo somente pelo prazer e amor de se fazer o bem?

Ninguém precisa se tornar ingênuo, sabemos que existe maldade no mundo. Mas também não precisamos ser radicais. E a gente não precisa ser um Buda, basta querer melhorar e se esforçar. Como eu disse numa outra postagem, sempre é bom rever valores e condutas pleno de que essas reformas íntimas são longas e demandam paciência, determinação e coragem.
Só não dá pra entender quem não consegue absorver nem um pouquinho das preciosidades que os Guias estão nos dizendo gira após gira, ou quem não consegue apenas parar e pensar: "e se alguma coisa que eu estou fazendo fere o mundo que eu vivo, de alguma forma?"
O que você busca na Umbanda, afinal de contas? Para quê serve a Umbanda?
A Umbanda é um remédio que você usa quando algo dói?
A Umbanda é um balcão de loja onde você pede o que quer e só retorna se isso que conseguiu estragou/acabou?
A Umbanda é maravilhosa quando tudo vai bem em sua vida e enganosa ou charlatã quando algo dá errado?

E olha, não há terreiro que vá fazer você mudar se você não quiser de verdade. Se sua fé te transformar em alguém melhor, não importa qual seja. Mas faça, mude, absorva os ensinamentos da Umbanda. De verdade.
A Umbanda é muito mais que pedir coisas da Terra. A Umbanda é sobre se conectar ao sagrado, sobre prestar a caridade e o amor com humildade e verdadeira compaixão.
Orai e vigiai sempre. Mas vigie a si mesmo e não os outros! Seja o senhor de suas ações e pensamentos.
Medite e busque o sagrado.

Paz e luz!

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Linha de Boiadeiros

Linha de Boiadeiros
Imagem: Boiadeiros da Umbanda. Editadas em conjunto / Google

Essa linha é regida por Ogum, embora cada Boiadeiro e Boiadeira venha na irradiação de um ou mais Orixás, pois eles próprios são filhos de determinado Orixá e perante outros Orixás foram iniciados para trabalharem em Seus Mistérios.
Os espíritos que se manifestam na Linha dos Boiadeiros são aguerridos, valorosos, sisudos, de poucas palavras, mas de muitas ações. Apresentam-se como espíritos que encarnaram, em algum momento, como tocadores de boiada, vaqueiros, pastoreadores, etc., ou espíritos que se agruparam à linha por afinidade energética. Os seus pontos cantados sempre aludem a bois e boiadas, a campos e viagens, a ventanias e tempestades. O laço e o chicote são seus instrumentos magísticos de trabalhos espirituais. Eventualmente usam colares de sementes ou de pedras.
O Arquétipo da Linha de Boiadeiros é a figura mítica do peão sertanejo, do tocador de gado, dos homens e mulheres que viveram na lida do campo e dos animais e que desenvolveram muita força e habilidade para lidar contra as intempéries e as adversidades. É um arquétipo forte, impositivo, vigoroso, valente e destemido. Representa a natureza desbravadora, romântica, simples e persistente do homem (e das poucas mulheres) do sertão, também chamado de caboclo sertanejo. Lembra os vaqueiros, boiadeiros, laçadores, peões e tocadores de viola; muitos deles mestiços, filhos de branco com índio, de índio com negro, etc., trazendo à nossa lembrança a essência da miscigenação do povo brasileiro, com seus costumes, crendices, superstições e fé.

Existem, no astral, muitos espíritos que, em suas últimas encarnações, praticamente viveram sobre o lombo dos cavalos, dedicando-se a criar e a domesticar esses animais, tão úteis à humanidade, já que até um século atrás o cavalo era o principal meio de transporte. Foram vaqueiros, domadores de cavalos, soldados de cavalaria etc., e guardam em suas memórias recordações preciosas e inesquecíveis daqueles tempos. Em homenagem a eles é que se construiu, no Astral, o arquétipo da Linha dos Boiadeiros. Nesta Linha manifestam-se espíritos que usam seus conhecimentos ocultos para auxiliar pessoas que estejam atravessando momentos muito difíceis. São combativos, inclusive no corte de magias negativas, porque conseguem promover “um choque” em nosso campo magnético e liberá-lo de acúmulos negativos, obsessores etc. Além disso, são exímios descarregadores nos terreiros, grandes disciplinadores de seus médiuns e casas e protetores atentos como os Exus, vigiam tudo o que acontece dentro do campo da Lei Maior, estando sempre prontos a acudir os necessitados. São também sustentados por Yansã, pois combatem as forças das trevas pela libertação e o reerguimento consciencial dos espíritos que se negativaram, se desequilibraram e se perderam, recolhendo-os e os encaminhando para o seu local de merecimento na Criação.

Quando um Boiadeiro da Umbanda gira no ar o seu laço, ele está criando magisticamente, dentro do espaço religioso do Terreiro, as ondas espiraladas que irão recolher os espíritos perdidos nas próprias memórias desequilibradas e/ou irão desfazer energias densas acumuladas no decorrer do tempo. Já quando um Boiadeiro vibra o seu chicote, está recorrendo de forma magística e religiosa à Yansã, para movimentar e direcionar os espíritos estagnados no erro e na desordem. É muito efetivo o seu trabalho contra os espíritos endurecidos (eguns).
Dentro da linha de Boiadeiros, se manifestam em algumas casas os Cangaceiros, simbolizando os espíritos daqueles que em recente encarnação viveram no sertão e lutaram contra grandes injustiças sociais. Isso pode parecer estranho, à primeira vista, e muitos se perguntam o quê um “cangaceiro” teria a oferecer em termos de trabalho espiritual de ajuda.
Ocorre que os Cangaceiros do sertão brasileiro de fato surgiram, em meados dos anos 20, para defender as populações humildes dos maus tratos e desmandos dos “coronéis” e demais detentores do poder material que massacravam os menos favorecidos, tomando-lhes muitas vezes até as mulheres, os poucos bens e a dignidade pessoal. Esses homens poderosos mandavam e desmandavam, pois se achavam acima das leis humanas e, por certo, não conheciam ou não respeitavam as Leis Divinas. E os Cangaceiros (Lampião e seu bando, citando os mais famosos) representaram, à época, um movimento popular de revolta e combate a tais desmandos. Foram marginalizados, até porque aos poderosos isso convinha. É provável que tenham cometido lá seus excessos também, respondendo à violência das armas com outras armas... Mas, pelo menos, tinham a justificativa de estar lutando pelos mais fracos. Já os opressores, qual desculpa teriam?
Dessa forma, o temperamento combativo desses espíritos de certa forma foi-se agrupando à Linha dos Boiadeiros e eles começaram a se manifestar para trabalhar nos terreiros de Umbanda que os acolhiam. Não são bandidos e malfeitores, mas espíritos que têm identificação com o arquétipo do sertanejo forte e destemido. Em alguns terreiros, os Cangaceiros manifestam-se na linha de Baianos por serem espíritos advindos de uma mesma região, embora “combinem” melhor com os boiadeiros.

Na linguagem dos Boiadeiros, “boi” é o próprio ser humano em desequilíbrio. Ou seja, são os espíritos encarnados e os desencarnados em desequilíbrio perante a Lei Maior, necessitados de auxílio. Suas referências a cavalos, a tocar a boiada, a laçar e trazer de volta “o boi” desgarrado do rebanho, ou atolado na lama, ou arrastado pelos temporais, ou que se embrenhou nas matas e se perdeu, ou que foi atravessar o rio e foi arrastado pela correnteza, etc., tudo isso tem a ver com o trabalho realizado pelos destemidos Boiadeiros de Umbanda: eles resgatam os espíritos que se rebelaram contra a Lei Divina, pois esses espíritos são como “bois e cavalos” que não aceitam os “cabrestos” ou limites criados pela Lei de Deus e que por isso precisam ser “domesticados” e educados.
Mais exemplos da linguagem simbólica:

Cavalos: filhos de fé;
Boi: espírito acomodado;
Boiada: grande grupo de espíritos reunidos por eles e reconduzidos lentamente às suas sendas evolucionistas;
Laçar: recolher à força os espíritos rebelados;
Boi atolado: espírito que afundou nos lamaçais e regiões pantanosas;
Açoite ou chicote: instrumento mágico de Yansã, feito de fios de crina ou de rabo de cavalo;
Bois afogados em rios: espíritos caídos nas águas profundas das paixões humanas;
Bois arrastados pelas correntezas: espíritos arrastados pelas correntezas turbulentas da vida;
Bois perdidos nos pantanais: espíritos que abandonaram a segurança da razão e se entregaram
às incertezas das emoções.


Símbolos de representação da linha: Berrantes, laços, chicotes.
Cores: Vermelho, marrom, amarelo, verde.
Ferramentas: Berrantes, couros, laços, cabaças, pedras, sementes, cordas, chifres, chicotes.
Flores: Cravos vermelhos, rosas vermelhas e amarelas, flores amarelas e vermelhas em geral.
Comidas: Frutas cítricas e frutas de Ogum.
Bebidas: Vinho tinto seco, aguardente, cerveja clara, conhaque, café, quentão.
Fumo: Cigarros de palha, charutos, cachimbos.
Pontos de Força: Campinas, caminhos.
Saudação: Chetruá (ou Jetuá) boiadeiro!

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Fontes:
Adaptação do texto original postado no site Instituto Cultural Sete Porteiras do Brasil.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Sobre a diversidade dos terreiros de Umbanda

Sobre a diversidade dos terreiros de Umbanda
Imagem: Reprodução / Google
Todo umbandista alguma vez já se pegou pensando nas diversas Umbandas dentro da Umbanda, ou seja, toda a diversidade e como é que cada terreiro funciona. Se você, umbandista, pensa na Umbanda do seu irmão com preconceito, você é em parte culpado por todo o restante das pessoas acreditarem que a Umbanda é uma grande bagunça que cada um faz o que quer.
Mesmo com a internet incentivando os debates e disseminando as diferenças para a oportunidade de crescimento e aprendizado de um terreiro com o outro, ainda existem médiuns/terreiros que não aceitam uma Umbanda diferente da sua.
É humano sentir estranheza no que é do outro, se for tão diferente do nosso. Mas na Umbanda as diferenças precisam ser tratadas como enriquecimento da própria religião. A Umbanda é múltipla, é plural, é rica e é linda. Cada qual com seu ritual, seus costumes, suas heranças.
Vale lembrar que essa diversidade acontece também no Catolicismo, no Judaísmo e no Budismo, como bem diz o sacerdote Alexandre Cumino neste vídeo sobre a diversidade Umbandista. Porque a Umbanda em todo o seu dinamismo seria diferente? E que graça teria se os terreiros fossem todos iguais?

Terreiro que usa o jogo de búzios, terreiro que não.
Terreiro que oferenda animais, terreiro que não.
Terreiro que usa somente o branco na vestimenta, terreiro que usa diversas cores.
Terreiro com uma ou duas giras por trabalho, terreiro com mais.
Terreiro que cruza linhas, terreiro que não.
Terreiro com santos católicos, terreiros sem imagens, corrente de pés descalços, terreiro que cultua orixá Exu, terreiro com ou sem atabaques, médiuns que não usam álcool e fumo, etc.

A Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da caridade de forma gratuita, com base numa ritualística própria (diferente das outras religiões) e a crença nos Orixás. A partir disso, cada terreiro é livre para desempenhar sua missão da forma que melhor couber ao médium e ao Guia Chefe, respeitando os princípios básicos da religião.
Respeite a Umbanda que seu irmão pratica, sem julgamentos. Cada terreiro é uma escola diferente!
Mais união, menos disputa.


"Meus irmãos: sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham a baixar entre vós; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda. ... Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar." Caboclo das Sete Encruzilhadas
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