quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Linha de Boiadeiros

Linha de Boiadeiros
Imagem: Boiadeiros da Umbanda. Editadas em conjunto / Google

Essa linha é regida por Ogum, embora cada Boiadeiro e Boiadeira venha na irradiação de um ou mais Orixás, pois eles próprios são filhos de determinado Orixá e perante outros Orixás foram iniciados para trabalharem em Seus Mistérios.
Os espíritos que se manifestam na Linha dos Boiadeiros são aguerridos, valorosos, sisudos, de poucas palavras, mas de muitas ações. Apresentam-se como espíritos que encarnaram, em algum momento, como tocadores de boiada, vaqueiros, pastoreadores, etc., ou espíritos que se agruparam à linha por afinidade energética. Os seus pontos cantados sempre aludem a bois e boiadas, a campos e viagens, a ventanias e tempestades. O laço e o chicote são seus instrumentos magísticos de trabalhos espirituais. Eventualmente usam colares de sementes ou de pedras.
O Arquétipo da Linha de Boiadeiros é a figura mítica do peão sertanejo, do tocador de gado, dos homens e mulheres que viveram na lida do campo e dos animais e que desenvolveram muita força e habilidade para lidar contra as intempéries e as adversidades. É um arquétipo forte, impositivo, vigoroso, valente e destemido. Representa a natureza desbravadora, romântica, simples e persistente do homem (e das poucas mulheres) do sertão, também chamado de caboclo sertanejo. Lembra os vaqueiros, boiadeiros, laçadores, peões e tocadores de viola; muitos deles mestiços, filhos de branco com índio, de índio com negro, etc., trazendo à nossa lembrança a essência da miscigenação do povo brasileiro, com seus costumes, crendices, superstições e fé.

Existem, no astral, muitos espíritos que, em suas últimas encarnações, praticamente viveram sobre o lombo dos cavalos, dedicando-se a criar e a domesticar esses animais, tão úteis à humanidade, já que até um século atrás o cavalo era o principal meio de transporte. Foram vaqueiros, domadores de cavalos, soldados de cavalaria etc., e guardam em suas memórias recordações preciosas e inesquecíveis daqueles tempos. Em homenagem a eles é que se construiu, no Astral, o arquétipo da Linha dos Boiadeiros. Nesta Linha manifestam-se espíritos que usam seus conhecimentos ocultos para auxiliar pessoas que estejam atravessando momentos muito difíceis. São combativos, inclusive no corte de magias negativas, porque conseguem promover “um choque” em nosso campo magnético e liberá-lo de acúmulos negativos, obsessores etc. Além disso, são exímios descarregadores nos terreiros, grandes disciplinadores de seus médiuns e casas e protetores atentos como os Exus, vigiam tudo o que acontece dentro do campo da Lei Maior, estando sempre prontos a acudir os necessitados. São também sustentados por Yansã, pois combatem as forças das trevas pela libertação e o reerguimento consciencial dos espíritos que se negativaram, se desequilibraram e se perderam, recolhendo-os e os encaminhando para o seu local de merecimento na Criação.

Quando um Boiadeiro da Umbanda gira no ar o seu laço, ele está criando magisticamente, dentro do espaço religioso do Terreiro, as ondas espiraladas que irão recolher os espíritos perdidos nas próprias memórias desequilibradas e/ou irão desfazer energias densas acumuladas no decorrer do tempo. Já quando um Boiadeiro vibra o seu chicote, está recorrendo de forma magística e religiosa à Yansã, para movimentar e direcionar os espíritos estagnados no erro e na desordem. É muito efetivo o seu trabalho contra os espíritos endurecidos (eguns).
Dentro da linha de Boiadeiros, se manifestam em algumas casas os Cangaceiros, simbolizando os espíritos daqueles que em recente encarnação viveram no sertão e lutaram contra grandes injustiças sociais. Isso pode parecer estranho, à primeira vista, e muitos se perguntam o quê um “cangaceiro” teria a oferecer em termos de trabalho espiritual de ajuda.
Ocorre que os Cangaceiros do sertão brasileiro de fato surgiram, em meados dos anos 20, para defender as populações humildes dos maus tratos e desmandos dos “coronéis” e demais detentores do poder material que massacravam os menos favorecidos, tomando-lhes muitas vezes até as mulheres, os poucos bens e a dignidade pessoal. Esses homens poderosos mandavam e desmandavam, pois se achavam acima das leis humanas e, por certo, não conheciam ou não respeitavam as Leis Divinas. E os Cangaceiros (Lampião e seu bando, citando os mais famosos) representaram, à época, um movimento popular de revolta e combate a tais desmandos. Foram marginalizados, até porque aos poderosos isso convinha. É provável que tenham cometido lá seus excessos também, respondendo à violência das armas com outras armas... Mas, pelo menos, tinham a justificativa de estar lutando pelos mais fracos. Já os opressores, qual desculpa teriam?
Dessa forma, o temperamento combativo desses espíritos de certa forma foi-se agrupando à Linha dos Boiadeiros e eles começaram a se manifestar para trabalhar nos terreiros de Umbanda que os acolhiam. Não são bandidos e malfeitores, mas espíritos que têm identificação com o arquétipo do sertanejo forte e destemido. Em alguns terreiros, os Cangaceiros manifestam-se na linha de Baianos por serem espíritos advindos de uma mesma região, embora “combinem” melhor com os boiadeiros.

Na linguagem dos Boiadeiros, “boi” é o próprio ser humano em desequilíbrio. Ou seja, são os espíritos encarnados e os desencarnados em desequilíbrio perante a Lei Maior, necessitados de auxílio. Suas referências a cavalos, a tocar a boiada, a laçar e trazer de volta “o boi” desgarrado do rebanho, ou atolado na lama, ou arrastado pelos temporais, ou que se embrenhou nas matas e se perdeu, ou que foi atravessar o rio e foi arrastado pela correnteza, etc., tudo isso tem a ver com o trabalho realizado pelos destemidos Boiadeiros de Umbanda: eles resgatam os espíritos que se rebelaram contra a Lei Divina, pois esses espíritos são como “bois e cavalos” que não aceitam os “cabrestos” ou limites criados pela Lei de Deus e que por isso precisam ser “domesticados” e educados.
Mais exemplos da linguagem simbólica:

Cavalos: filhos de fé;
Boi: espírito acomodado;
Boiada: grande grupo de espíritos reunidos por eles e reconduzidos lentamente às suas sendas evolucionistas;
Laçar: recolher à força os espíritos rebelados;
Boi atolado: espírito que afundou nos lamaçais e regiões pantanosas;
Açoite ou chicote: instrumento mágico de Yansã, feito de fios de crina ou de rabo de cavalo;
Bois afogados em rios: espíritos caídos nas águas profundas das paixões humanas;
Bois arrastados pelas correntezas: espíritos arrastados pelas correntezas turbulentas da vida;
Bois perdidos nos pantanais: espíritos que abandonaram a segurança da razão e se entregaram
às incertezas das emoções.


Símbolos de representação da linha: Berrantes, laços, chicotes.
Cores: Vermelho, marrom, amarelo, verde.
Ferramentas: Berrantes, couros, laços, cabaças, pedras, sementes, cordas, chifres, chicotes.
Flores: Cravos vermelhos, rosas vermelhas e amarelas, flores amarelas e vermelhas em geral.
Comidas: Frutas cítricas e frutas de Ogum.
Bebidas: Vinho tinto seco, aguardente, cerveja clara, conhaque, café, quentão.
Fumo: Cigarros de palha, charutos, cachimbos.
Pontos de Força: Campinas, caminhos.
Saudação: Chetruá (ou Jetuá) boiadeiro!

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Fontes:
Adaptação do texto original postado no site Instituto Cultural Sete Porteiras do Brasil.

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