terça-feira, 29 de setembro de 2015

Linha de Exus Mirins

Linha de Exus Mirins
Imagem: Exus Mirins da Umbanda. Editadas em conjunto / Google
Essa linha é regida por Exu, embora cada Exu Mirim venha na irradiação de um ou mais Orixás, pois eles próprios são filhos de determinado Orixá e perante outros Orixás foram iniciados para trabalharem em Seus Mistérios.
Os Exus Mirins são entidades de uma dimensão à Esquerda da nossa. Assim como os Erês, pode-se ter Exus Mirins e Pombas Giras Mirins, embora estas sejam raras. Seu trabalho é igual ao de Exu Mirim, agregando, entretanto, características da linha de Pombas Giras. 
Na respectiva dimensão, alguns deles são seres infantis (nem todos) e são agrupados como os erês: maioria encantados e um grupo pequeno de Mirins que já encarnaram. Os que se manifestam nos trabalhos religiosos de Umbanda já trazem da sua dimensão um nível de evolução diferenciado. Além disso, também são preparados para vir, até obterem a licença da Criação e dos Sagrados Orixás que os amparam nesse trabalho junto à nossa humanidade. Exu, Pomba Gira e Exu Mirim formam o triângulo de forças à Esquerda da Umbanda, bem como as crianças da direita formam o triângulo de forças com os Caboclos e Pretos Velhos.
Exu Mirim e Pomba Gira Mirim NÃO são filhos de Exu e de Pomba Gira. São arquétipos adotados pela Umbanda para englobar numa só linha de trabalho essas entidades, pois de qualquer forma estamos ligados mentalmente a eles por meio de cordões energéticos. Em decorrência desta ligação mental, ou nos mantemos em equilíbrio com eles, ou somos afetados de forma acentuada. Exu Mirim é um dos Mistérios que a Umbanda buscou e incorporou, em sua fundamentação divina.
A Criação é infinita em todos os sentidos, inclusive nas funções divinas exercidas pelos seres. Deus não criou nada ou ninguém que não tivesse sua função na Criação. Nós estamos ligados mentalmente a um Exu Mirim, à nossa esquerda, por um cordão energético invisível aos nossos olhos materiais, mas não à visão superior do espírito. Temos uma ligação mental com cada Dimensão da Vida. Se ela for equilibrada, isso nos beneficia; se for desequilibrada, nos prejudica. Nossas ligações mentais com outros seres e espécies visam a nos manter em equilíbrio com toda a Criação, pois no Corpo de Deus somos uma só “célula”, uma consciência, e nada mais. Além disso, elas nos mantêm amparados por toda a Criação e, ao mesmo tempo, nos impulsionam a viver de forma harmônica com outros seres e espécies. Certos desvios de personalidade tratados pelas ciências médicas, certas alterações de humor, certos comportamentos antissociais, certos fanatismos, etc., têm a ver com desequilíbrios existentes com os seres na outra ponta das nossas ligações mentais, espirituais e conscienciais.
O desequilíbrio com os Erês (da direita) gera uma série de transformações em nossa consciência e em nossos comportamentos. O desequilíbrio com os Exus Mirins gera uma alteração comportamental e consciencial de caráter, de humor e emocional tão intensa que a pessoa começa a regredir e fecha-se em si mesma.
Tendo Exu Mirim (à Esquerda) e os Erês (à Direita) em equilíbrio conosco, isto faz com que sejamos alegres, dispostos, de bom humor, falantes e sonhadores. Ao contrário, estando em desequilíbrio com um deles ou com ambos, nos tornamos taciturnos, melancólicos, irritados, cabisbaixos, isolacionistas, sem iniciativas e sem criatividade; sentimo-nos velhos e sem ânimo para mais nada. Alguns negativismos afloram em nós: avareza, mesquinhez, egoísmo, irritabilidades à flor da pele, incapacidade de raciocinar coisas novas, intolerância com crianças, etc.
Por um lado, tais ligações existem e não podem ser rompidas. Por outro, os seres são portadores de poderes excepcionais que, doutrinados de forma correta, muito nos auxiliam. Então, a Umbanda optou por incorporá-los à Direita (os Erês) e à Esquerda (os Exus Mirins).

Exus Mirins não são espíritos de “meninos maus”, como pensam alguns; assim como as Pombas Giras e os Exus não são, necessariamente, espíritos de ex-prostitutas e ex-bandidos. Há poucos escritos que nos ensinem sobre o Exu Mirim ou que o fundamentem como Mistério Religioso. Isso deu margem a interpretações fantasiosas e até preconceituosas, levando muitos a acreditarem que os Exus Mirins seriam “espíritos de moleques de rua”, crianças mal-educadas, encrenqueiras, “bocudas”, chulas, etc. Esse desconhecimento acabou fazendo com que muitos dirigentes proibissem as manifestações de Exus Mirins.
Médiuns doutrinados e equilibrados incorporam Exus Mirins que realizam trabalhos de grande ajuda às pessoas. Quem precisa ser doutrinado é sempre o médium, e nunca as entidades de lei, que já vêm mais que preparadas para atuar entre nós. Não é demais ponderar que tudo vem ao seu tempo, conforme o nosso grau de amadurecimento, de entendimento e de merecimento perante o Astral Superior. Afinal, “desde que o mundo é mundo”, Deus, as Divindades e os Mentores e Trabalhadores da Luz existem e atuam em nosso benefício, mas a nossa reflexão e compreensão a respeito disso começou há não muito tempo e a cada dia recebemos novas informações da espiritualidade que ampliam o nosso entendimento sobre essas questões. A compreensão dos fundamentos da religião nos ajuda a perceber que tudo corre para o nosso melhor, pois todas as manifestações que acontecem nos trabalhos da Umbanda têm o amparo da Criação e para uma função específica, sempre voltada para auxiliar a nossa evolução e o despertar de uma consciência ampliada do Todo da Criação. A função de Exu Mirim é a de fazer regredir todos os espíritos que atentam contra os princípios da vida e contra a paz, e a harmonia entre os seres.

Os Exus Mirins são conhecidos por suas habilidades magísticas de “desatar nós”, desembaraçando situações entravadas. Atuam principalmente a partir das intenções negativas dos seres, nem sempre reveladas; reduzem a “nada” as intenções maldosas.
Quando alguém vem alimentando em seu íntimo planos e intenções maldosas contra outras, mas ainda não tomou atitude alguma que possa revelar o que está arquitetando, essa maldade “intencionada” é captada pelo Exu Mirim e este age para cortar o mal na origem. Enquanto a pessoa não põe em prática seus pensamentos de vingança, de ódio, de traição ou de qualquer outra intenção maldosa e injusta, nada se pode perceber. Mas Exu Mirim atua sobre este “nada”, justamente para que não se realize a maldade, paralisando o ser mal intencionado. É preciso que fique claro que a expressão “faz regredir” não pode ser tomada ao pé da letra. Não é que Exu Mirim faça regredir aquele ser negativo; o que ele faz é identificar quem é, de fato, aquele ser e colocá-lo no seu lugar de merecimento na Criação. Pois uma criatura maldosa, invejosa e traiçoeira nem sempre aparenta ser assim. Parece boazinha, mas não é. Está entre pessoas de bom coração e desfrutando da sua confiança, mas não é como elas. Então, esta pessoa de má índole receberá, tão logo for permitido, a atuação de Exu Mirim e será colocada onde merece estar. Neste caso, a atuação de Exu Mirim é a de um Executor da Lei Divina; lei que sempre nos ampara, mesmo que não o saibamos. Ao mesmo tempo, Exu Mirim estará protegendo a vítima daquelas intenções negativas, sempre que ela faça por merecer o amparo da Lei, e ainda que não suspeitasse do que estava sendo tramado contra ela.
Por outro aspecto, Exu Mirim também atua amparando os seres equilibrados e merecedores do amparo da lei, desembaraçando entraves e dificuldades dos seus caminhos, para que os seus projetos bons, saudáveis e justos se concretizem. Em tudo e por tudo, como se vê, na atuação de Exu Mirim está Presente a Mão do Criador, a nos direcionar e amparar, e se necessário, a nos corrigir, para evitar nossa persistência no erro e consequências mais danosas à nossa evolução.
A irreverência ou má educação comportamental não é típica dos Exus Mirins na dimensão onde vivem. São naturalmente irrequietos e curiosos sim, mas nunca intrometidos ou desrespeitadores. O que acontece é que os Exus Mirins são nossos refletores naturais. Eles refletem o inconsciente de seus médiuns, tal como acontece com Exu e Pomba Gira. Se o médium não está centrado, ou se tiver crenças negativas a respeito dessas Entidades (acreditar que fazem o mal, que usam de vocabulário grosseiro, que são indisciplinadas, etc.), tudo isso virá à tona no momento da incorporação, pois Exu Mirim também põe para fora o que está oculto no íntimo dos médiuns. Os Exus Mirins não aprovam ser invocados para demandas e magias negativas contra pessoas. Quando um médium os ativa para prejudicar seus desafetos, seu Exu Mirim se enfraquece automaticamente, e pode ocorrer que uma quiumba tome o seu lugar junto ao médium, gerando-lhe toda a sorte de problemas, até que esse médium se conscientize e se corrija.
Gostam de ter suas ferramentas de trabalho (como os erês) e manipulam as bebidas mais agradáveis ao paladar dos seus médiuns, sejam elas alcoólicas ou não. Podem utilizar também o fumo e os doces.


Símbolos de representação da linha: Tridentes retos, crânios.
Cores: Vermelho e preto, preto, vermelho, roxo, etc.
Ferramentas: Pedras, moedas, cabaças, pembas, sementes, pimentas, brinquedos, etc.
Flores: Cravos vermelhos, cravina, cactos.
Comidas: Frutas ácidas e escuras, doces duros (como rapadura, pé de moleque, quebra queixo, cocadas secas), balas ardidas, farofa.
Bebidas: Bebidas doces em geral como licores, groselha, guaraná, aguardente com mel, etc.
Fumo: Charutos, cigarrilhas, fumo de corda, fumos com ervas enroladas na palha, cigarros.
Pontos de Força: Todos da natureza, como preferir o Exu Mirim.
Saudação: Laroyê Exu Mirim! Exu Mirim é mojubá!

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Fontes:
Adaptação do texto original postado no site Instituto Cultural Sete Porteiras do Brasil.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Curimba na Umbanda

Curimba na Umbanda
Imagem: Reprodução / Google
A Curimba, na Umbanda e no Candomblé, é a junção dos instrumentos de percussão e o canto ritualístico para os rituais da religião. O mais comum na Umbanda são os atabaques junto aos pontos cantados (ou somente os pontos cantados), mas vários terreiros ainda utilizam agogô, afoxé, chocalho, pandeiro, entre outros.
Muito mais que simplesmente fazer música, a Curimba é um elemento importantíssimo para a sustentação da energia dos trabalhos.


Pontos Cantados
São cantados na forma de saudar os Orixás e as entidades manifestadas durante a execução das giras. O ponto representa uma oração, um pedido de proteção, abertura de caminhos, louvação e assim por diante. São poderosas ferramentas para a firmeza de pensamento, ou seja, ajudam os médiuns a entrarem em transe e incorporarem suas entidades, além de ajudar na concentração que é necessária para o bom andamento de um trabalho espiritual. O ponto cantado unido ao toque correto é que chamamos as entidades. O som produzido sustenta a vibração e representa um elo energético entre a falange atuante e a gira do terreiro.
Têm-se pontos para todos os momentos, como abertura de gira, batimento de cabeça, chamada e partida de Guias espirituais, chamada e louvação a Orixás, defumação, descarrego, firmeza de energia, fechamento, etc.

Atabaques
O atabaque é um instrumento de percussão originário da África, trazido ao Brasil pelos negros. No Candomblé os atabaques são tocados geralmente com baquetas, na Umbanda com as mãos. É feito de madeira, ferragens e couro de animal. São tocados por médiuns (homens ou mulheres) seriamente preparados para tal fim. Existem três tipos:
Rum: é o mais alto e de som grave, tocado pelo ogã chefe. O Rum é responsável pela puxada de pontos, repiques e dobras de toque. 
Rumpi: de estatura média e som mais baixo que o Rum, o Rumpi "responde" ao Rum.
Lê: é o menor e de som agudo, geralmente tocado pelos ogãs iniciantes. Acompanham o Rumpi. 

O atabaque, mais que um instrumento musical, é um instrumento sagrado de comunicação com os Orixás. É usado para invocar Orixás e Guias, firmando a gira com uma energia e vibração únicas com seus mais diversos tipos de toques. Quem toca atabaque pode ser chamado de Ogã (Ogan) ou Atabaqueiro. O instrumento é abençoado pelos Orixás e Guias da casa, sendo consagrado especificamente para este fim.
Seus cuidados incluem hidratação do couro, manutenção da madeira e das ferragens. Sua decoração pode variar de acordo com as giras, mas pode ser enfeitado com panos e fitas, de acordo com o fundamento da casa. Somente o Ogã o toca e é preciso ter muito respeito.

Membros da Curimba
Nas casas em que o grupo da Curimba é bem estruturado e tem seus membros fixos, têm-se os Ogãs e médiuns que cantam os pontos e talvez façam uso de outro instrumento (como o agogô). É necessário que seja um grupo harmonioso e unido, pois são responsáveis por toda a vibração do terreiro.
Os Ogãs são mais do que "médiuns que não incorporam" - são médiuns que escolhem dedicar-se totalmente à Curimba, aprendendo os mais diversos toques, sabendo quando usá-los e com quais pontos. É um médium intuitivo, conhecedor dos fundamentos da religião e muito responsável. Deve ser muito respeitado dentro do terreiro.

Entendendo o processo do canto e toque
As ondas energéticas sonoras emitidas pela curimba, tomam todo o templo e dissolvem negatividades, diluindo miasmas, larvas astrais, limpando e criando toda uma atmosfera psíquica com condições ideais para a realização das práticas espirituais. A curimba transforma-se em um verdadeiro polo irradiador de energia dentro do terreiro, potencializando ainda mais as vibrações dos Orixás.
Claro que os Guias não são invocados somente pelos atabaques como muitos dizem; todos já se encontram no espaço do terreiro antes mesmo do começo dos trabalhos. A curimba não funciona como um "telefone", mas sim como uma sustentadora da manifestação dos Guias. O que realmente invoca os Guias e os Orixás são os nossos pensamentos e sentimentos positivos, em que todos se concentram cantando e batendo palmas.

Salve o ponto!

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Linha de Exus

Linha de Exus
Imagem: Exus da Umbanda. Editadas em conjunto / Google

Essa linha é regida por Exu e amparada por Ogum, embora cada Exu venha na irradiação de um ou mais Orixás, pois eles próprios são filhos de determinado Orixá e perante outros Orixás foram iniciados para trabalharem em Seus Mistérios.
Na Umbanda, os Exus compõem uma Linha de Trabalho à Esquerda. São espíritos humanos que tiveram várias encarnações, cometendo erros e acertos, como todo ser humano, mas com um diferencial: se conscientizaram e retomaram o caminho da Lei Divina, obtendo permissão para se assentarem à Esquerda dos Orixás e trabalharem no auxílio à nossa evolução. Alguns podem, ainda, serem espíritos que nunca encarnaram, mas que trabalham a favor do resgate e da Lei Divina também.
Embora Exu Orixá seja, na Umbanda, pouco cultuado diretamente, está sempre presente e atuante, pois as Divindades existem e estão presentes em nossas vidas, ainda que alguém não as reconheça. Por exemplo: quer se reconheça ou não que Oxalá e Oxum são Orixás, Eles continuam existindo e atuando na Criação. O mesmo acontece em relação aos demais Orixás, inclusive ao Orixá Exu. Quando uma Entidade trabalha na Força, no Poder e no Mistério de determinado Orixá, então as Qualidades desse Orixá se manifestam por meio dela. Os Exus recebem oferendas em todos os pontos da natureza. Existem Exus trabalhando na irradiação de todos os Orixás e os seus nomes simbólicos podem indicar o campo de ação de cada um e onde deve ser oferendado. Exemplos: Exu das Matas (Irradiação de Pai Oxóssi) recebe oferenda nas matas; Exu Caveira (Irradiação de Pai Omolu) recebe oferenda no cemitério; Exu do Lago (Irradiação de Mãe Nanã) recebe oferenda nos lagos e lagoas; Exu do Mar (Irradiação de Mãe Yemanjá) recebe oferenda à beira-mar, etc.

A origem do Orixá Exu enquanto Divindade está em Deus. Todas as Divindades provêm de Deus. Mas em termos culturais, sabemos que o culto de Orixás vem da África, especificamente dos povos Nagôs, de língua Iorubá. Logo, a origem cultural do Orixá Exu também é Nagô-Iorubá. Na África, o culto ao Orixá Exu é ancestral e milenar. Curiosamente, aparece em todas as regiões daquele continente, de forma que não há como saber em qual região africana esse culto começou. Ao contrário dos demais Orixás, que eram cultuados nessa ou naquela região (daí o nome Culto de Nação), o Orixá Exu aparece em todas as regiões da África. Dentro da visão umbandista, isto tem uma razão de ser. Os Exus que trabalham na Umbanda atuam em todos os sentidos da vida, ou seja, atuam nos campos de todos os Orixás. E dizemos: Exu é o dono das encruzilhadas, o que é fato. Mas o que é uma encruzilhada?
Encruzilhada é o encontro de duas realidades, de duas verdades diferentes, tais como: matéria/astral; razão/emoção; luz/trevas; ou, literalmente, pode ser o encontro de dois caminhos. Esta é a representação do ponto de força de Exu. Exu está em todos os caminhos, em todos os lugares e passagens, e não apenas na encruzilhada de rua, de terra, ou de mata. Todos os pontos que marcam a entrada e a saída de uma realidade são pontos de firmeza e de manifestação de Exu. Outra maneira, talvez, de se entender isso é lembrar que Exu é Guardião da Lei Maior e que trabalha na Lei e pela Lei regida por Pai Ogum, o Senhor de todos os Caminhos.

Na África não se cultuava a Entidade Exu, como ocorre na Umbanda. Lá, Exu é um Orixá “mensageiro” que leva os pedidos das pessoas aos outros Orixás e traz as respostas; é a grande “boca” pela qual os outros Orixás falam com os homens; é o primeiro a receber oferendas, a ser servido e despachado, para recolher as negatividades e levar embora os problemas e perturbações. Tem culto e oferendas específicos e também seus sacerdotes que o tratam com o mesmo respeito dedicado aos demais Orixás. É respeitado como Orixá, e não como espírito. Já na Umbanda não é comum (embora exista) o culto ao Orixá Exu e Sua presença entre nós se faz por intermédio das Entidades Exus, que são os manifestadores do Seu Mistério. Devemos entender, entretanto, que o Orixá Exu tem sua grande importância na Umbanda. Existem aspectos na atuação de Exu que nem sempre são bem interpretados:
Exu lida com aspectos positivos e negativos da Criação. Exu rege sobre a dualidade; o que acarreta uma dificuldade na compreensão do Mistério Exu. Pois Exu atua no Alto, no Embaixo, na Direita e na Esquerda, guardando e mantendo a Lei e a Ordem na Criação. No Embaixo, é bom lembrar que Exu é quem leva Luz às trevas; um Exu de Umbanda NÃO é das trevas! Exu é ativo, mas também passivo e neutro. Exu guarda a quem faz por merecer o amparo da Lei Divina (atuação passiva). Mas também intervém como Executor da Lei contra quem viola as Leis do Criador, para esgotar suas negatividades (atuação ativa). Quando elas forem esgotadas, Exu vitaliza as qualidades positivas do ser (atuação ativa), para então neutralizar-lhe o magnetismo. A partir daí, aquele ser tem como recomeçar o trabalho evolutivo que a cada um compete. Exu não ataca a ninguém. Exu só intervém por um comando da Lei Maior, ou quando é ativado magisticamente. 

Nos trabalhos religiosos de Umbanda, também a atuação de Exu é sempre delimitada pela Lei Divina, é sempre para o Bem. A interpretação negativa (demonização) do Mistério Exu é antiga. Remonta à época da colonização das Américas, quando os europeus iam à África para comprar escravos e lá encontraram uma cultura muito diferente da sua, passando a interpretá-la com base em seus próprios valores e crenças. E a primeira demonização de Exu foi feita principalmente pelos Padres católicos, conforme relatos registrados por Pierre Verger nos seus livros “Orixás” (Editora Currupio) e “Notas sobre o Culto de Orixás e Voduns” (Editora Edusp). Para a Igreja Católica da época (séculos XIV a XVII), nenhuma religião, além do Catolicismo, era válida. As outras religiões “não eram de Deus”; logo, suas Divindades também “não eram de Deus”, então só poderiam ser “demônios”. Para o modelo judaico-cristão do que é religião e do que é o Sagrado, era muito difícil compreender aquela cultura na qual as pessoas não usavam roupas, o sexo não era considerado profano, não existia pecado original, os órgãos sexuais não tinham de ser escondidos etc.; e onde o Orixá Exu representava, entre outras coisas, a virilidade masculina, tendo como um de seus símbolos o órgão sexual masculino.
Além disso, na cultura Africana as lendas mostram Exu com um comportamento muito próximo do nosso: ora alegre, ora nervoso, irreverente, irrequieto; ora protegendo as pessoas nas guerras e lutas, ora fazendo emboscadas. Exu é mostrado como o mais “humano” dos Orixás, e o símbolo fálico representava a virilidade, a força masculina, o poder e o Mistério do Orixá Exu, a vitalidade ou vigor que é preciso para se fazer as coisas, não tendo conotação sexual e muito menos “pecaminosa”. Mas para a Igreja Católica da época o sexo era algo pecaminoso, o corpo humano deveria ser coberto etc.; e, portanto, Exu só poderia ser “um demônio”.
O Orixá Exu é uma Divindade de Deus. Logo, NÃO é perigoso, vingativo ou coisa semelhante. Enquanto Divindade de Deus, quando nos relacionamos com ele de forma bem intencionada o que resulta é uma ação positiva, sempre. Só temos de tomar cuidado se estivermos mal intencionados, pretendendo prejudicar alguém, achando que podemos “manipular” um Mistério de Deus. Alguém pensaria em ativar de forma negativa o Orixá Oxalá? Ou Oxum? Ou Yemanjá, etc.? Ou em fazer isso com seus Caboclos, Pretos Velhos, Crianças e demais Linhas de Trabalho? Claro que não! Pois com o Orixá Exu e as Entidades Exus acontece a mesma coisa. Podemos nos relacionar com o Orixá Exu, acender uma vela e pedir ajuda numa determinada situação, oferecer flores e ervas, etc., pois se trata de uma Divindade de Deus. O local correto para se firmar velas para Exu é separado de onde acendemos velas para os demais orixás, porque a função destes últimos é irradiar, enquanto a de Exu é absorver.
Fazemos firmezas para Exu (Orixá ou Entidade) no quintal, na varanda, na lavanderia, ou seja, em locais externos. Por quê? Porque o Orixá Exu e as Entidades Exus guardam “o lado de fora” da Criação, cercam a Criação para protegê-la. Quando estamos em nossa casa, ela de certo modo representa o nosso corpo, é um abrigo que precisa ser guardado “por fora”, para impedir que algo externo nos atinja. No Terreiro acontece o mesmo; assim como em qualquer ambiente que estejamos. E o Orixá Exu, por intermédio das Entidades Exus, faz esse papel de Guardião da Lei Divina, para refrear ataques negativos injustos. Não se firma Exu junto com os demais orixás e as Entidades da Direita por este motivo; e não porque Exu “não possa estar no mesmo ambiente”. A questão envolve unicamente as funções específicas de cada Orixá e Linha.

Por qual motivo Exu é o primeiro a receber oferendas?
Nos livros “Lendas da Criação” e “Orixá Exu”, ambos de Rubens Saraceni (Editora Madras), encontramos uma explicação do porquê Exu ser o primeiro a receber oferendas. Vamos imaginar um momento anterior à Criação.
No Princípio, a ideia da Criação existia apenas “no íntimo” do Criador. (Ou, como está na Bíblia: “No Princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”.) Deus ainda não havia “exteriorizado” a Criação. Tudo existia apenas no Íntimo do Criador. Em torno da morada interior do Criador só existia “o Vazio”. Então, desde o Princípio, esse “Vazio” cerca e protege toda a Criação. E Exu é o Orixá Regente do Vazio. Tudo quanto seria construído por Olorum iria ocupar esse Vazio e dependeria da concordância de Exu. Então, os Orixás deram a primazia a Exu, pois do contrário nada poderiam construir. Num segundo momento, e para receber a Criação que Olorum iria exteriorizar, foi criado o Espaço, este regido por Oxalá, o Senhor das Formas. E Oxalá só pôde criar o Espaço com a concordância de Exu, pois o Espaço foi criado em cima dos domínios de Exu. Só depois da criação do Espaço por Oxalá, em cima do Vazio de Exu, é que tudo pôde ser  criado, inclusive a humanidade. E é por isso que Exu deve ser o primeiro a receber oferendas. Não importa quem foi o primeiro Orixá a ser criado, porque todos são atemporais e pré-existiam em Olorum. Mas o Vazio é anterior a tudo.
Exu guarda e protege tudo o que cerca a Criação. Quem não respeita os seus domínios não respeita o Sagrado. E para entrar no Sagrado, primeiro passamos por Exu. Daí que Exu é o primeiro a receber oferendas. Este é o significado.

O Orixá Exu também rege sobre o mistério relativo à reprodução, ao órgão genital masculino e ao vigor sexual. Uma das suas representações é um cetro fálico, simbolizando o vigor e a vitalidade de que necessitamos em todos os campos e sentidos, e não apenas no campo sexual. Outro dos mistérios de Exu são as cabaças, que simbolizam o útero e o poder procriador feminino. Exu rege o Mistério da sexualidade masculina e guarda o Mistério da sexualidade feminina.
Nos terreiros, quando incorporam, os Exus são, em sua maioria, alegres, falantes, galhofeiros, sarcásticos e irônicos. Alguns são mais calados e sérios. Tudo isso faz parte do arquétipo marcante que assumiram na Umbanda. Sempre estão dispostos a ajudar a quem os procura. Manipulam bebidas e um bom charuto, além de serem servidos com farofas apimentadas com carnes ou miúdos de frangos. São espíritos “terra” e atuam com grande poder de realização nos casos de magias negativas, de relacionamentos e de assuntos profissionais.

Exus são grandes protetores e verdadeiros amigos de seus médiuns e "filhos", mas médiuns mal orientados ou mal doutrinados dão vazão aos seus recalques ou sentimentos íntimos negativos, e assim, seu Exu torna-se grosseiro, chulo, desrespeitoso, revelando o íntimo do médium. Já com médiuns bem doutrinados e preparados, Exu “continua sendo Exu”, mas se apresenta de uma forma agradável e respeitosa. Isso ocorre por que Exu mostra o íntimo do médium, como se fosse um espelho, e por isso se diz que Exu é especular. No campo da Física, a “reflexão especular” ocorre quando a luz incide sobre uma superfície bastante polida (lisa), sendo que a imagem refletida tem forma igual à do original. Um espelho é uma superfície muito lisa e permite alto índice de reflexão da luz que incide sobre ele, de modo que reflete imagens com muita nitidez. No caso Exu/médium, Exu é “o espelho” que mostra a imagem do que está escondido no íntimo do médium desequilibrado, para que este possa ser alertado e venha a corrigir-se. E, nesse processo, Exu é também “a Luz Divina incidindo”, para viabilizar o trabalho de correção dos sentimentos e comportamentos humanos negativos. Afinal, Exu leva a Luz às Trevas, principalmente às nossas trevas interiores.

“Exu ironiza a vida, ri da desgraça, dança sobre o fogo e domina a ilusão, principalmente aquela que nos envolve pelo ego, materialismo e vaidade. Ele domina todos os sentidos do apego, conhece nossas vaidades e vícios. Talvez por isso seja considerado o mais humano dos Orixás e passa a ser o mais “temido”, pois quando Exu se mostra “igual a nós” ele nos assusta, simplesmente porque quer nos mostrar a dualidade humana, que ora nos leva para a luz, ora nos puxa para as trevas. Céu e Inferno, tudo ao mesmo tempo em nossa mente, o maior juiz. Exu joga e brinca com todos estes valores e por isso ele assusta uns e faz temer a outros; no entanto é tão Orixá quanto Oxalá e as lendas mostram o quanto ele pode ser amigo, fiel, querido e até servo (mas não serviçal), pois é também senhor da magia, dos caminhos, das encruzilhadas, das portas e passagens, é quem permite a comunicação. E também é bem como mal, tanto amigo quanto inimigo, luz e trevas, Céu e Inferno. Exu é Vazio e cada um de nós escolhe com quais valores preenche este Vazio”.


Símbolos de representação da linha: Tridentes retos, punhais, crânios.
Cores: Preto e Vermelho, Preto, Vermelho, Roxo, Branco, etc. A cor preta de Exu significa absorção, e a vermelha, vitalização.
Ferramentas: Alguidares, tridentes, pedras, punhais, pembas pretas, moedas, ossos, correntes de aço, carvão, enxofre, cabaças.
Flores: Cravos vermelhos, antúrios vermelhos e rosas vermelhas.
Comidas: Frutas (principalmente as ácidas e escuras), farofa, carnes (fígado, frangos, carnes de vaca), pimentas, cebolas e alho.
Bebidas: Uísque, conhaque, rum, cachaça, licor, vinho, etc.
Fumo: Charutos, cigarrilhas, fumo de corda, fumos com ervas enroladas na palha, cigarros.
Pontos de Força: Todos da natureza, mas principalmente as encruzilhadas em X.
Saudação: Laroyê Exu! Exu é mojubá! 

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Fontes:
Adaptação do texto original postado no site Instituto Cultural Sete Porteiras do Brasil.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Egrégora de um terreiro de Umbanda

Egrégora de um terreiro de Umbanda
Imagem: Egrégora. Reprodução / Google
Conforme definição encontrada na internet:
Egrégora, ou egrégoro para outros, (do grego egrêgorein; velar, vigiar), é como se denomina a força criada a partir do coletivo pertencente a uma assembleia.
Segundo as doutrinas que aceitam a existência da egrégora, esta está presente em todas as coletividades, sejam nas mais simples associações informais quanto nas assembleias religiosas, gerada pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade.
Quando a energia é deliberadamente gerada, ela forma um padrão, ou seja, tem a tendência de se manter como está e de influenciar o meio ao seu redor. No mais, as egrégoras são esferas (concentrações) de energia comum. Quando várias pessoas tem um mesmo objetivo comum, sua energia se agrupa e se "arranja" numa egrégora. Esse é um conceito místico com vínculos muito próximos à teoria das formas-pensamento, onde todo pensamento e energia gerada têm existência, podendo circular livremente pelo cosmo.

Na Umbanda
Segundo o Núcleo Mata Verde, a egrégora é um Campo Estrutural específico, formado pelas vibrações espirituais oriundas de muitas origens. O local que chamamos Terreiro de Umbanda onde são realizados os trabalhos espirituais não é somente uma casa, uma construção. Além da estrutura material existe uma estrutura espiritual que é mantida por todos aqueles espíritos (Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, Exus, etc.) e por todos os médiuns, cambonos e participantes do terreiro. Esta estrutura espiritual é um tipo de campo estrutural.
Quando uma pessoa vai até um terreiro de Umbanda e ao adentrar ao recinto se concentra em preces e respeita o lugar sagrado, ela está neste momento vibrando e alimentando o campo estrutural daquele terreiro, ela está alimentando com vibrações espirituais a egrégora da casa.
Ao alimentar a egrégora ela passa a se envolver naquele campo espiritual e imediatamente passa a receber as vibrações espirituais que aquela egrégora (Campo Estrutural do Terreiro) devolve a ela, existe uma troca de energia espiritual.

Como é formada
Começa na fundação de um terreiro, quando o(s) sacerdote(s) iniciam seus assentamentos e firmezas e reúnem médiuns para a formação de uma corrente. Assim já temos um grupo de pessoas vibrando no mesmo objetivo, formando essa egrégora de boas energias e vibrações de amor e caridade. Os assentamentos e firmezas funcionam como combustíveis, sustentando a vibração para que essa egrégora mantenha-se e cresça cada vez mais.
A partir daí temos a assistência, que também vibra a favor da egrégora com sentimentos de fé e renovação. Por isso é tão importante que corrente e assistência estejam sempre concentrados no objetivo do trabalho, para que essa poderosa energia não seja fragmentada. É muito complicado que todas as pessoas da assistência estejam sempre focadas, por isso a corrente deve ser unida e forte para poder manter a energia da melhor forma possível.

Alimentação e evolução
A alimentação de uma egrégora é quase automática, funciona pela própria vibração no trabalho. Como um assentamento que é alimentado com luz, energia e fortes orações, uma egrégora é alimentada com a firmeza do conjunto do terreiro, de todos os elementos (físico + espiritual). E é dessa forma que se dá sua evolução; uma egrégora se constroi através de anos, e cada vez mais se expande e ganha força. Ela está, o tempo todo, aumentando, se transformando, se fortificando.
Dessa forma, cabe aos terreiros evoluí-las cada vez mais, para seu próprio bem e o bem de todos que precisam da casa.

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Fontes:

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Linha de Pombas Giras

Linha de Pombo Giras
Imagem: Pombas Giras da Umbanda. Editadas em conjunto / Google

Essa linha é regida por Exu e amparada por Ogum, embora cada Pomba Gira (ou Pombogira) venha na irradiação de um ou mais Orixás, pois elas próprias são filhas de determinado Orixá e perante outros Orixás foram iniciadas para trabalharem em Seus Mistérios.
É o arquétipo da mulher forte, feminina, alegre, sensual e misteriosa, embora encontremos Pombas Giras que sejam mais sérias e reservadas. São entidades que em sua maioria, chegam gargalhando, girando e dançando. 
São espíritos humanos que tiveram várias encarnações e que, com o tempo, obtiveram a permissão da Lei Maior para se assentarem à Esquerda dos Orixás e trabalharem em favor da nossa evolução.
Sobre a origem da palavra Pomba Gira:
Na Cultura Nagô-Iorubá, de onde vem o culto aos Orixás, não existe um Orixá Pomba Gira (Divindade) e nem uma Entidade Pomba Gira. A provável origem do nome Pomba Gira está numa Divindade da Cultura Bantu. Os povos Bantus (ou Bantos) ocupavam a região de Angola, Congo e Cabinda, que ficava ao lado do território do povo Sudanês, este correspondente aos Nagôs e Jejes. Entre os Bantos, predomina a Cultura Angola, na qual o idioma mais falado é o Kimbundu (ou Kimbundo). Dentro dessa Cultura Angola de língua Kimbundu, as divindades são chamadas Inkices e entre elas há uma Divindade “Bombo Gila” ou “Bombo Njila” ou “Pambu Njila”, que é o Senhor ou Guardião dos caminhos e das encruzilhadas. Dessa designação pode ter derivado o nome Pomba Gira. Outros estudiosos afirmam que o nome Pomba Gira deriva de “Bombogira" (ou “Bombo Djiro”), divindade da Cultura Angola que recebia oferendas nas encruzilhadas e caminhos e que às vezes era identificada como feminina e outras, como masculina.
Dentro da Umbanda, o nome Pomba Gira pode ser traduzido como mensageira dos caminhos à Esquerda da Criação. “Pomba” é um pássaro que já foi usado como correio (pombos-correios); e “gira” expressa a ideia de movimento, caminhada, deslocamento, etc. Como essas Entidades atuam na Esquerda, vem o significado de mensageira dos caminhos à Esquerda. Logo no início da religião de Umbanda, as primeiras Entidades que se apresentaram foram os Caboclos, os Pretos Velhos e as Crianças. Em seguida vieram os Exus, que chegaram trazendo entidades companheiras, as quais se identificavam como Pomba Gira. Assim como Exu é um guardião e protetor na Esquerda, Pomba Gira também é uma guardiã protetora atuante na Esquerda da Umbanda. Ela se apresentou como par natural de Exu e por esse motivo, no início das suas manifestações, se pensava que Pomba Gira fosse “mulher de Exu” e até “mãe de Exu Mirim”.
Com o passar do tempo, a espiritualidade foi esclarecendo melhor aquele tipo de manifestação, aumentando a nossa compreensão a respeito dessas entidades.
Há registros de que entidades com características semelhantes já se manifestavam no Brasil antes do advento da Umbanda. O pesquisador João do Rio, no livro “As Religiões do Rio”, relata casos dessas manifestações nas chamadas “macumbas” cariocas. Porém, com características próprias, a presença de Pomba Gira se acentua na Umbanda nas décadas de 1960/70, coincidindo com os movimentos pela libertação feminina. Até então, historicamente, a mulher sempre teve um papel subalterno em nossa sociedade (marcadamente machista) sendo rotineiramente sufocada na sua expressão, pelo poder masculino. Não é demais lembrar que há questão de um século a legislação de muitos países permitia ao marido até mesmo matar a mulher que lhe fosse infiel. Porém, esse marido não poderia assassinar o homem que participou com ela da traição. Ou seja, as leis deixavam bem claro que o homem era superior à mulher, que a “culpa e o crime eram sempre da mulher e, portanto, ela merecia todos os castigos e punições”. Muitas religiões inclusive “sacramentavam” a condição subalterna das mulheres, impondo-lhes obediência irrestrita aos pais, maridos e aos parentes masculinos em geral, além de cobrir todo o corpo, até então visto como “fonte de pecado e luxúria”.
Dessa forma e por muito tempo, a mulher foi reduzida à condição de objeto, pois não era vista como um ser com direitos e foi levada a crer na sua inferioridade perante o homem e a acreditar que a sua sensualidade e sexualidade naturais, de origem Divina, era algo demoníaco. Também na política faz pouco tempo que as mulheres conquistaram direitos.
Com isso, as Pombas Giras trouxeram um novo padrão de valor feminino para a sociedade, ajudando muitas mulheres a conquistarem autoconfiança e a recuperarem sua autoestima. Indiretamente, ainda, auxiliavam a promover uma transformação do olhar masculino e de toda a sociedade para com as mulheres. Mais uma vez, nos deparamos com a Espiritualidade Superior buscando formas de nos ajudar a valorizar a figura da mulher e a quebrar mais um preconceito, levando a sociedade a avançar como um todo no caminho da fraternidade, da igualdade e do respeito ao outro.

Na Criação, encontramos o Princípio Masculino, o Poder e a Força Masculinos do Criador manifestados por meio dos Orixás Masculinos. É a Manifestação do aspecto “Pai” do Criador. Já o Princípio, o Poder e a Força Femininos do Criador são manifestados pelos Orixás Femininos. Manifestação do aspecto “Mãe” do Criador. E este mesmo Poder Feminino está presente em Pomba Gira. Ou seja, na Umbanda, Pomba Gira é também uma Manifestação do Sagrado Feminino, portanto, é uma entidade que deve ser tratada com o mesmo respeito que dedicamos às demais.
Na Umbanda, Pomba Gira é cultuada como Guia de Trabalho, como espírito que trabalha a serviço da Luz e que, portanto, só pode praticar o Bem, ainda que às vezes o faça com mão forte.
O Trono que corresponde ao Mistério Pomba Gira é denominado Trono do Estímulo ou do Desejo, pois esta é a energia que Pomba Gira nos transmite, e com muita propriedade; o despertar do estímulo, do gosto pela vida, o “start” para levarmos avante os nossos esforços pela conquista de uma vida melhor, mais saudável e equilibrada, em todos os setores.
O “desejo” que Pomba Gira desperta em nós não se refere ao campo unicamente sexual, como alguns pensam, mas tem uma conotação muito mais ampla. Sem estímulo, a pessoa não consegue caminhar em nenhum setor da vida. E no campo sexual, especificamente, Pomba Gira é a grande esgotadora dos desequilíbrios, dos entraves e bloqueios que possamos carregar em nosso íntimo, visto que a energia sexual é sagrada e, por isso mesmo, importante para o nosso equilíbrio geral. Pomba Gira muitas vezes revela o que está escondido, para promover o esgotamento desses negativismos. E por qual motivo Pomba Gira se apresentou, no início, como par natural de Exu? Exatamente porque Pomba Gira desperta nos seres o estímulo para agir, enquanto Exu vitaliza essa vontade, para que o objetivo seja alcançado.
Ainda há muita desinformação a respeito de Pomba Gira, inclusive no meio umbandista. Para alguns, seria uma entidade capaz de fazer o mal (amarrações, trabalhos de magia negativa, etc.). Grande equívoco! Uma entidade que trabalha a serviço da Lei Maior não se presta a tais coisas. O que pode acontecer é que seres trevosos se aproveitem da malícia e despreparo do médium ou do consulente, ou de ambos, para, usando o nome de Pomba Gira, atenderem a caprichos inferiores. Mas aí a responsabilidade é dividida de forma igual entre quem pediu, o médium que serviu de intermediário e quem fez, e não das Pombas Giras. Esta linha atua no desmanche de amarrações e outros trabalhos feitos através de magia negra, e não o contrário. É uma linha com múltiplas facetas.

Pomba Gira é um espírito humano que teve várias encarnações. Que, como todo ser humano, cometeu erros. Mas que se arrependeu e se reergueu, obtendo a permissão divina para trabalhar, usando da sua experiência em benefício da própria evolução e também da nossa, porque nos alerta sobre as consequências dos erros. Quem errou e reconheceu seus erros tem um grau de consciência apurado. E quem vem trabalhar como Guia de Umbanda tem um nível de evolução superior ao nosso. Pomba Gira também serviu de desculpa para que algumas pessoas atribuíssem a ela seus comportamentos no campo da sexualidade – Pomba Gira irá cobrar cada um destes por atribuir seus desvios a seu nome!
Ninguém pode afirmar, ao certo, quem foram as Pombas Giras em sua última encarnação ou nas anteriores. E isso não interessa, na verdade... Quem somos nós para julgar quem vem nos ajudar? O que importa é que se trata de Espíritos a serviço da Luz e que, por já terem errado, conseguem entender os nossos erros humanos. Falam conosco de igual para igual (no sentido de compreensão) e podem nos ajudar no caminho da recuperação, a partir do momento em que assumirmos responsabilidade pelos nossos atos. Quando uma Entidade da Esquerda vem e nos conta um episódio do seu passado como encarnado, fala dos seus erros e das suas consequências quando deixou a carne, e tudo isso nos serve de reflexão. Esse é um dos pontos de atuação de Pomba Gira em nosso favor, pois quando ela fala de erros, acertos e consequências, ela sabe do que está falando e nos transmite sinceridade e veracidade. Quem conhece o caminho pode guiar quem vem atrás.
A única maneira de quebrarmos os preconceitos que ainda existem em relação às Pombas Giras é pelo estudo da natureza e finalidade do trabalho dessas entidades dentro da Umbanda. Fieis de outras religiões não têm obrigação de conhecer isso, embora devam nos respeitar, até por força de mandamento constitucional. Mas enquanto houver médiuns e consulentes umbandistas achando que podem pedir qualquer coisa a uma Pomba Gira, ou médiuns vestindo roupas escandalosas, com decote exagerado, transparentes, barriga de fora, com maquiagem e adornos excessivos e requebrando de maneira vulgar por aí, e fazendo isso “em nome de Pomba Gira”, será difícil que a Umbanda obtenha o respeito das pessoas de fora da religião. E dentro da religião essas práticas absurdas só abrem caminho para a manifestação de seres trevosos, mentirosos e enganadores, que nada mais são do que afins com aqueles que deturpam o nome da Umbanda. Semelhante atrai semelhante.

“Ela mexeu com o imaginário popular e muitos a associaram à mulher da rua. Mas todos se quedaram diante de sua beleza, feminilidade e liberalidade. Sua desenvoltura e seu poder fascinam até os mais introvertidos que, diante dela, se abrem e confessam suas necessidades, seus recalques, suas frustrações, suas mágoas, tristezas e ressentimentos com os pretendentes. E a todos ela ouviu com compreensão e a ninguém negou seus conselhos e sua ajuda num campo que domina como ninguém mais é capaz. Quem não iria admirar e amar um arquétipo tão humano e tão liberalizado de sentimentos reprimidos à custa de muito sofrimento?”.


Símbolos de representação da linha: Tridentes arredondados, punhais, rosas vermelhas.
Cores: Vermelho, preto e vermelho, etc.
Ferramentas: Punhal, búzios, moedas de cobre/douradas, conchas, tridentes arredondados, flores, velas, baralhos, tecidos, etc.
Flores: Rosas vermelhas, flores vermelhas em geral.
Comidas: Geralmente frutas avermelhadas e cítricas, carnes, farofas.
Bebidas: Alcoólicas ou não. Champanhes, vinho, cerveja clara, cerveja escura, licores, etc.
Fumo: Cigarrilhas, fumos com ervas enroladas na palha, cigarros.
Pontos de Força: Preferencialmente encruzilhadas em T e Y. Caminhos e encruzilhadas em geral.
Saudação: Laroyê Pomba Gira! Pomba Gira é mojubá!

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Fontes:
Adaptação do texto original postado no site Instituto Cultural Sete Porteiras do Brasil.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

A Semeadura e a Colheita

A Semeadura e a Colheita
Imagem: Reprodução / Google
Eu estava procurando uma imagem condizente com o que eu queria transmitir e fazendo a pesquisa, encontrei essa ilustração. Mostra muito bem as mãos de um trabalhador, que semeia e colhe incessantemente. 
Assim é a nossa trajetória nessa Terra enquanto espíritos encarnados! Viemos a essa Terra com um saco cheio de sementes e uma ferramenta dada por nosso pai cuja função é preparar as sementes e arar a nossa terra, o LIVRE ARBÍTRIO.
Deus, em sua ação nos permite fazermos o que bem entendemos, a galgar nossos passos com esmero a fim de nos tornarmos melhores para nosso convívio aqui na Terra e bons trabalhadores mediante nosso regresso á Pátria Espiritual. Esse é um conceito fenomenal e nos leva realmente de volta ao PAI com o tempo; alguns levam mais e outros levam menos.
Mas durante essa trajetória por aqui na Terra, temos que ter em mente e plena certeza que somos livres para prepararmos as sementes que escolhermos e pô-las na terra para germinar assim como devemos ter a certeza de que colheremos exatamente o que plantarmos, nem mais, nem menos – A mão que planta é a mesma mão que colhe!
Não basta também só plantarmos as sementes, temos que cuidar para que elas germinem e esse conceito vale tanto para as boas sementes quanto as ruins. Cuidamos através de nossas ações, através de nossos sentimentos, através de nosso livre arbítrio, comunhão entre encarnados e espirituais, fé... etc.
Por isso a reflexão é outra ferramenta muito importante. O olhar para si mesmo e enxergar a ti, enxergar as mãos que usou para a semeadura e as que são usadas para a colheita e se perguntar: O que eu plantei?, Como estou cuidando?, O que eu espero da minha colheita? E nessa hora, não adianta esconder-se, fugir de si mesmo, pois a sua conexão com o divino não lhe trará nada, absolutamente nada além da verdade que só você sabe.
Portanto, reconheça a tua imagem, reconheça seus plantios, aceite a verdade e mude sempre que necessário. Tempo? É somente uma variável sem razão para o Espirito, pois nossa caminhada não tem fim!

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Assentamentos e Firmezas

Assentamentos e Firmezas
Imagem: Reprodução / Google
A postagem de hoje vem para complementar a postagem Estrutura física dos terreiros de Umbanda, a qual abordei sobre os pontos de força dentro do templo. Lá eu comecei a falar sobre os assentamentos e firmezas e como elas agem no Congá e na Tronqueira. Agora vou explicar melhor sobre elas, mas ainda é necessário que você leia a postagem citada (caso não tenha lido ainda) antes de prosseguir.

Na Umbanda os assentamentos e firmezas são utilizados para irradiar energias e proteger a casa, basicamente. Existem assentamentos e firmezas de Orixás, Guias e Linhas de Trabalho, tudo isso visando a proteção da casa e a potencialização do poder de atuação das divindades e espíritos dentro do terreiro.

O Assentamento
O assentamento é o local onde são inseridos elementos com poderes magísticos com a finalidade de criar um ponto de proteção, defesa, descarga e irradiação. Um assentamento pode ser destinado a uma só força ou a várias. Geralmente, em uma casa, temos o assentamento principal de um ou dois Orixás (é possível assentar mais de um no congá sem haver conflitos, já que na Umbanda temos a crença de que os Orixás trabalham em perfeita harmonia, complementando-se) e firmezas auxiliares de outros Orixás e dos Guias/Linhas de trabalho.
O assentamento pode ser classificado como pessoal ou coletivo, sendo o pessoal exclusivo para o sacerdote que o assentou (e pode estar localizado na própria casa do sacerdote), e o coletivo para a energia da casa como um todo, abrangendo todas as pessoas do terreiro (corrente e assistência). Geralmente são enterrados sob o chão do terreiro, perto do congá. Também podem estar dentro de um receptáculo sem estar enterrado no chão, como em quartinhas, quartilhões, caldeirões, etc.

Por que fazer um assentamento?
Assentamos Orixás e Guias para que o poder de atuação dessas forças dentro do terreiro sejam mais fortes e fluídas; é um amparo importantíssimo para os trabalhos. O assentamento do congá irradia e sustenta a energia positiva do trabalho, vibrando em todo o terreiro a pura energia do(s) Orixá(s) assentado(s). Já o assentamento da tronqueira anula demandas e cargas negativas, por isso é preciso que exista no plano material pontos de descarga que possam absorvê-las e enviá-las de volta às faixas vibratórias negativas. Os assentamentos se complementam, cada qual com sua atuação específica.
A entidade assentada (Orixá e Guia Espiritual) tem no assentamento elementos com poderes mágicos, os quais utiliza ativando-os segundo as necessidades do terreiro, do trabalho espiritual e dos médiuns.
Os assentamentos criam vórtices ou pontos de força, enquanto as firmezas de outros guias e Orixás dotam-no de um maior poder de realização. Esse aumento de poder de realização deve-se ao fato de que os Guias e os Orixás firmados ao redor do assentamento central “emprestam-lhe suas forças e poderes e abrem-lhe seus campos de ações e atuações”, aumentando o leque de opções ao Guia e/ou ao Orixá assentado, que lhe repassará atribuições às quais exercerão com desenvoltura, porque terão no assentamento um poderoso ponto de descarga, de proteção e de auxílio nas suas ações mais profundas.
Normalmente se assentam o Guia-Chefe e o(s) Orixá(s) regente(s) da(s) coroa(s) do(s) dirigente(s) espiritual(is), assim como ao seu Exu e/ou sua Pomba Gira e/ou seu Exu Mirim.

Localização
Os assentamentos do Guia-Chefe e do Orixá estão localizados dentro da construção que abriga o terreiro. Os assentamentos do Exu/Pomba Gira/Exu Mirim geralmente são feitos do lado de fora da construção principal que abriga o terreiro, ainda que esteja dentro de outra construção de menor porte (tronqueira). 

Alimentação e Trato
A alimentação do assentamento se dá através de oferendas de determinados elementos, periodicamente. É recomendável ter um dia definido na semana (mesmo que o espaçamento desse dia varie) para ser iluminado e realimentado. Somente o dirigente pode tratar do assentamento.

É bom ressaltar novamente que a espiritualidade, acima de tudo, é adaptável. Nenhum Guia ou Orixá deixará de atuar em um terreiro por conta de posições geográficas. Caso os assentamentos precisem ficar em lugares não-convencionais, não haverá problema. O que é regra e não pode deixar de ser feito: ser alimentado, ser limpo (caso necessário) e tratado com profundo respeito. Além de, é claro, manter segredo sobre o conteúdo do assentamento para própria segurança da casa.


A Firmeza
A firmeza pode ser feita ao redor de um assentamento ou independente dele. Firmar um Guia espiritual ou um Orixá significa proporcionar-lhe condições mínimas para que tenha um ponto fixo onde receba os pedidos de auxilio, oferendas, etc. A firmeza assemelha-se a um assentamento, mas tem menos recursos ou poderes de realização, pois é uma simplificação dele e destina-se a facilitar a atuação das entidades. As firmezas aumentam o campo de ação do assentamento, irradiando ainda energias de amparo a uma linha específica. Ao contrário do assentamento, a firmeza pode ser temporária e feita exclusivamente para um objetivo.

Por que fazer uma firmeza?
O assentamento cria um vórtice e um campo eletromagnético que interagem com outras dimensões da vida de forma permanente, sendo em si um ponto de força localizado nas dependências do terreiro. Já uma firmeza cria um ponto de sustentação para as ações da entidade firmada, dando-lhe um pouco mais de segurança para que possa resistir às reações das suas atuações em beneficio das pessoas necessitadas do seu auxilio. Além disso, são grandes amparadoras e irradiadoras de energias variadas, já que as firmezas podem ser feitas para todas os Orixás e linhas de trabalho.
Seu conteúdo também deve ser sigiloso.

Localização
Pode estar dentro e fora do terreiro; no congá, nos altares espalhados pelo templo, tronqueira, casa de exu, cruzeiro das almas, na porta de entrada da assistência, etc.

Alimentação e Trato
Deve ser iluminada periodicamente e realimentada sempre que o seu zelador fizer um novo pedido de auxilio à força firmada ou quando a própria força (no caso, Guia Espiritual) solicitar. Somente o dirigente ou zelador específico pode tratar da firmeza. 


Considerações Gerais
- O assentamento e a firmeza são similares. A firmeza é uma simplificação do assentamento, mas tem as mesmas funções que é proteger, sustentar e amparar;
- O Orixá ou Guia NÃO está preso ao assentamento ou firmeza, não se firmou o Orixá ou Guia no sentido de aprisioná-lo no terreiro. Eles se utilizam dos elementos presentes ali (os quais são elementos relacionados à eles) para potencializar seu trabalho no terreiro, apenas;
- Assentamento e firmeza devem ser tratados com respeito por todos os membros do terreiro, embora caiba somente aos dirigentes ou aos zeladores de determinada firmeza manuseá-los;
- Assentamentos e firmezas também fazem parte da egrégora da casa;
- Qualquer pessoa pode fazer uma firmeza para proteger sua casa e família, basta buscar o auxílio de um dirigente de sua confiança e seguir as orientações corretamente.


Saravá!
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