Imagem: Exus da Umbanda. Editadas em conjunto / Google |
Essa linha é regida por Exu e amparada por Ogum, embora cada Exu venha na irradiação de um ou mais Orixás, pois eles próprios são filhos de determinado Orixá e perante outros Orixás foram iniciados para trabalharem em Seus Mistérios.
Na Umbanda, os Exus compõem uma Linha de Trabalho à Esquerda. São espíritos humanos que tiveram várias encarnações, cometendo erros e acertos, como todo ser humano, mas com um diferencial: se conscientizaram e retomaram o caminho da Lei Divina, obtendo permissão para se assentarem à Esquerda dos Orixás e trabalharem no auxílio à nossa evolução. Alguns podem, ainda, serem espíritos que nunca encarnaram, mas que trabalham a favor do resgate e da Lei Divina também.
Embora Exu Orixá seja, na Umbanda, pouco cultuado diretamente, está sempre presente e atuante, pois as Divindades existem e estão presentes em nossas vidas, ainda que alguém não as reconheça. Por exemplo: quer se reconheça ou não que Oxalá e Oxum são Orixás, Eles continuam existindo e atuando na Criação. O mesmo acontece em relação aos demais Orixás, inclusive ao Orixá Exu. Quando uma Entidade trabalha na Força, no Poder e no Mistério de determinado Orixá, então as Qualidades desse Orixá se manifestam por meio dela. Os Exus recebem oferendas em todos os pontos da natureza. Existem Exus trabalhando na irradiação de todos os Orixás e os seus nomes simbólicos podem indicar o campo de ação de cada um e onde deve ser oferendado. Exemplos: Exu das Matas (Irradiação de Pai Oxóssi) recebe oferenda nas matas; Exu Caveira (Irradiação de Pai Omolu) recebe oferenda no cemitério; Exu do Lago (Irradiação de Mãe Nanã) recebe oferenda nos lagos e lagoas; Exu do Mar (Irradiação de Mãe Yemanjá) recebe oferenda à beira-mar, etc.
A origem do Orixá Exu enquanto Divindade está em Deus. Todas as Divindades provêm de Deus. Mas em termos culturais, sabemos que o culto de Orixás vem da África, especificamente dos povos Nagôs, de língua Iorubá. Logo, a origem cultural do Orixá Exu também é Nagô-Iorubá. Na África, o culto ao Orixá Exu é ancestral e milenar. Curiosamente, aparece em todas as regiões daquele continente, de forma que não há como saber em qual região africana esse culto começou. Ao contrário dos demais Orixás, que eram cultuados nessa ou naquela região (daí o nome Culto de Nação), o Orixá Exu aparece em todas as regiões da África. Dentro da visão umbandista, isto tem uma razão de ser. Os Exus que trabalham na Umbanda atuam em todos os sentidos da vida, ou seja, atuam nos campos de todos os Orixás. E dizemos: Exu é o dono das encruzilhadas, o que é fato. Mas o que é uma encruzilhada?
Encruzilhada é o encontro de duas realidades, de duas verdades diferentes, tais como: matéria/astral; razão/emoção; luz/trevas; ou, literalmente, pode ser o encontro de dois caminhos. Esta é a representação do ponto de força de Exu. Exu está em todos os caminhos, em todos os lugares e passagens, e não apenas na encruzilhada de rua, de terra, ou de mata. Todos os pontos que marcam a entrada e a saída de uma realidade são pontos de firmeza e de manifestação de Exu. Outra maneira, talvez, de se entender isso é lembrar que Exu é Guardião da Lei Maior e que trabalha na Lei e pela Lei regida por Pai Ogum, o Senhor de todos os Caminhos.
Na África não se cultuava a Entidade Exu, como ocorre na Umbanda. Lá, Exu é um Orixá “mensageiro” que leva os pedidos das pessoas aos outros Orixás e traz as respostas; é a grande “boca” pela qual os outros Orixás falam com os homens; é o primeiro a receber oferendas, a ser servido e despachado, para recolher as negatividades e levar embora os problemas e perturbações. Tem culto e oferendas específicos e também seus sacerdotes que o tratam com o mesmo respeito dedicado aos demais Orixás. É respeitado como Orixá, e não como espírito. Já na Umbanda não é comum (embora exista) o culto ao Orixá Exu e Sua presença entre nós se faz por intermédio das Entidades Exus, que são os manifestadores do Seu Mistério. Devemos entender, entretanto, que o Orixá Exu tem sua grande importância na Umbanda. Existem aspectos na atuação de Exu que nem sempre são bem interpretados:
Exu lida com aspectos positivos e negativos da Criação. Exu rege sobre a dualidade; o que acarreta uma dificuldade na compreensão do Mistério Exu. Pois Exu atua no Alto, no Embaixo, na Direita e na Esquerda, guardando e mantendo a Lei e a Ordem na Criação. No Embaixo, é bom lembrar que Exu é quem leva Luz às trevas; um Exu de Umbanda NÃO é das trevas! Exu é ativo, mas também passivo e neutro. Exu guarda a quem faz por merecer o amparo da Lei Divina (atuação passiva). Mas também intervém como Executor da Lei contra quem viola as Leis do Criador, para esgotar suas negatividades (atuação ativa). Quando elas forem esgotadas, Exu vitaliza as qualidades positivas do ser (atuação ativa), para então neutralizar-lhe o magnetismo. A partir daí, aquele ser tem como recomeçar o trabalho evolutivo que a cada um compete. Exu não ataca a ninguém. Exu só intervém por um comando da Lei Maior, ou quando é ativado magisticamente.
Nos trabalhos religiosos de Umbanda, também a atuação de Exu é sempre delimitada pela Lei Divina, é sempre para o Bem. A interpretação negativa (demonização) do Mistério Exu é antiga. Remonta à época da colonização das Américas, quando os europeus iam à África para comprar escravos e lá encontraram uma cultura muito diferente da sua, passando a interpretá-la com base em seus próprios valores e crenças. E a primeira demonização de Exu foi feita principalmente pelos Padres católicos, conforme relatos registrados por Pierre Verger nos seus livros “Orixás” (Editora Currupio) e “Notas sobre o Culto de Orixás e Voduns” (Editora Edusp). Para a Igreja Católica da época (séculos XIV a XVII), nenhuma religião, além do Catolicismo, era válida. As outras religiões “não eram de Deus”; logo, suas Divindades também “não eram de Deus”, então só poderiam ser “demônios”. Para o modelo judaico-cristão do que é religião e do que é o Sagrado, era muito difícil compreender aquela cultura na qual as pessoas não usavam roupas, o sexo não era considerado profano, não existia pecado original, os órgãos sexuais não tinham de ser escondidos etc.; e onde o Orixá Exu representava, entre outras coisas, a virilidade masculina, tendo como um de seus símbolos o órgão sexual masculino.
Além disso, na cultura Africana as lendas mostram Exu com um comportamento muito próximo do nosso: ora alegre, ora nervoso, irreverente, irrequieto; ora protegendo as pessoas nas guerras e lutas, ora fazendo emboscadas. Exu é mostrado como o mais “humano” dos Orixás, e o símbolo fálico representava a virilidade, a força masculina, o poder e o Mistério do Orixá Exu, a vitalidade ou vigor que é preciso para se fazer as coisas, não tendo conotação sexual e muito menos “pecaminosa”. Mas para a Igreja Católica da época o sexo era algo pecaminoso, o corpo humano deveria ser coberto etc.; e, portanto, Exu só poderia ser “um demônio”.
O Orixá Exu é uma Divindade de Deus. Logo, NÃO é perigoso, vingativo ou coisa semelhante. Enquanto Divindade de Deus, quando nos relacionamos com ele de forma bem intencionada o que resulta é uma ação positiva, sempre. Só temos de tomar cuidado se estivermos mal intencionados, pretendendo prejudicar alguém, achando que podemos “manipular” um Mistério de Deus. Alguém pensaria em ativar de forma negativa o Orixá Oxalá? Ou Oxum? Ou Yemanjá, etc.? Ou em fazer isso com seus Caboclos, Pretos Velhos, Crianças e demais Linhas de Trabalho? Claro que não! Pois com o Orixá Exu e as Entidades Exus acontece a mesma coisa. Podemos nos relacionar com o Orixá Exu, acender uma vela e pedir ajuda numa determinada situação, oferecer flores e ervas, etc., pois se trata de uma Divindade de Deus. O local correto para se firmar velas para Exu é separado de onde acendemos velas para os demais orixás, porque a função destes últimos é irradiar, enquanto a de Exu é absorver.
Fazemos firmezas para Exu (Orixá ou Entidade) no quintal, na varanda, na lavanderia, ou seja, em locais externos. Por quê? Porque o Orixá Exu e as Entidades Exus guardam “o lado de fora” da Criação, cercam a Criação para protegê-la. Quando estamos em nossa casa, ela de certo modo representa o nosso corpo, é um abrigo que precisa ser guardado “por fora”, para impedir que algo externo nos atinja. No Terreiro acontece o mesmo; assim como em qualquer ambiente que estejamos. E o Orixá Exu, por intermédio das Entidades Exus, faz esse papel de Guardião da Lei Divina, para refrear ataques negativos injustos. Não se firma Exu junto com os demais orixás e as Entidades da Direita por este motivo; e não porque Exu “não possa estar no mesmo ambiente”. A questão envolve unicamente as funções específicas de cada Orixá e Linha.
Por qual motivo Exu é o primeiro a receber oferendas?
Nos livros “Lendas da Criação” e “Orixá Exu”, ambos de Rubens Saraceni (Editora Madras), encontramos uma explicação do porquê Exu ser o primeiro a receber oferendas. Vamos imaginar um momento anterior à Criação.
No Princípio, a ideia da Criação existia apenas “no íntimo” do Criador. (Ou, como está na Bíblia: “No Princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”.) Deus ainda não havia “exteriorizado” a Criação. Tudo existia apenas no Íntimo do Criador. Em torno da morada interior do Criador só existia “o Vazio”. Então, desde o Princípio, esse “Vazio” cerca e protege toda a Criação. E Exu é o Orixá Regente do Vazio. Tudo quanto seria construído por Olorum iria ocupar esse Vazio e dependeria da concordância de Exu. Então, os Orixás deram a primazia a Exu, pois do contrário nada poderiam construir. Num segundo momento, e para receber a Criação que Olorum iria exteriorizar, foi criado o Espaço, este regido por Oxalá, o Senhor das Formas. E Oxalá só pôde criar o Espaço com a concordância de Exu, pois o Espaço foi criado em cima dos domínios de Exu. Só depois da criação do Espaço por Oxalá, em cima do Vazio de Exu, é que tudo pôde ser criado, inclusive a humanidade. E é por isso que Exu deve ser o primeiro a receber oferendas. Não importa quem foi o primeiro Orixá a ser criado, porque todos são atemporais e pré-existiam em Olorum. Mas o Vazio é anterior a tudo.
Exu guarda e protege tudo o que cerca a Criação. Quem não respeita os seus domínios não respeita o Sagrado. E para entrar no Sagrado, primeiro passamos por Exu. Daí que Exu é o primeiro a receber oferendas. Este é o significado.
O Orixá Exu também rege sobre o mistério relativo à reprodução, ao órgão genital masculino e ao vigor sexual. Uma das suas representações é um cetro fálico, simbolizando o vigor e a vitalidade de que necessitamos em todos os campos e sentidos, e não apenas no campo sexual. Outro dos mistérios de Exu são as cabaças, que simbolizam o útero e o poder procriador feminino. Exu rege o Mistério da sexualidade masculina e guarda o Mistério da sexualidade feminina.
Nos terreiros, quando incorporam, os Exus são, em sua maioria, alegres, falantes, galhofeiros, sarcásticos e irônicos. Alguns são mais calados e sérios. Tudo isso faz parte do arquétipo marcante que assumiram na Umbanda. Sempre estão dispostos a ajudar a quem os procura. Manipulam bebidas e um bom charuto, além de serem servidos com farofas apimentadas com carnes ou miúdos de frangos. São espíritos “terra” e atuam com grande poder de realização nos casos de magias negativas, de relacionamentos e de assuntos profissionais.
Exus são grandes protetores e verdadeiros amigos de seus médiuns e "filhos", mas médiuns mal orientados ou mal doutrinados dão vazão aos seus recalques ou sentimentos íntimos negativos, e assim, seu Exu torna-se grosseiro, chulo, desrespeitoso, revelando o íntimo do médium. Já com médiuns bem doutrinados e preparados, Exu “continua sendo Exu”, mas se apresenta de uma forma agradável e respeitosa. Isso ocorre por que Exu mostra o íntimo do médium, como se fosse um espelho, e por isso se diz que Exu é especular. No campo da Física, a “reflexão especular” ocorre quando a luz incide sobre uma superfície bastante polida (lisa), sendo que a imagem refletida tem forma igual à do original. Um espelho é uma superfície muito lisa e permite alto índice de reflexão da luz que incide sobre ele, de modo que reflete imagens com muita nitidez. No caso Exu/médium, Exu é “o espelho” que mostra a imagem do que está escondido no íntimo do médium desequilibrado, para que este possa ser alertado e venha a corrigir-se. E, nesse processo, Exu é também “a Luz Divina incidindo”, para viabilizar o trabalho de correção dos sentimentos e comportamentos humanos negativos. Afinal, Exu leva a Luz às Trevas, principalmente às nossas trevas interiores.
“Exu ironiza a vida, ri da desgraça, dança sobre o fogo e domina a ilusão, principalmente aquela que nos envolve pelo ego, materialismo e vaidade. Ele domina todos os sentidos do apego, conhece nossas vaidades e vícios. Talvez por isso seja considerado o mais humano dos Orixás e passa a ser o mais “temido”, pois quando Exu se mostra “igual a nós” ele nos assusta, simplesmente porque quer nos mostrar a dualidade humana, que ora nos leva para a luz, ora nos puxa para as trevas. Céu e Inferno, tudo ao mesmo tempo em nossa mente, o maior juiz. Exu joga e brinca com todos estes valores e por isso ele assusta uns e faz temer a outros; no entanto é tão Orixá quanto Oxalá e as lendas mostram o quanto ele pode ser amigo, fiel, querido e até servo (mas não serviçal), pois é também senhor da magia, dos caminhos, das encruzilhadas, das portas e passagens, é quem permite a comunicação. E também é bem como mal, tanto amigo quanto inimigo, luz e trevas, Céu e Inferno. Exu é Vazio e cada um de nós escolhe com quais valores preenche este Vazio”.
Símbolos de representação da linha: Tridentes retos, punhais, crânios.
Cores: Preto e Vermelho, Preto, Vermelho, Roxo, Branco, etc. A cor preta de Exu significa absorção, e a vermelha, vitalização.
Ferramentas: Alguidares, tridentes, pedras, punhais, pembas pretas, moedas, ossos, correntes de aço, carvão, enxofre, cabaças.
Flores: Cravos vermelhos, antúrios vermelhos e rosas vermelhas.
Comidas: Frutas (principalmente as ácidas e escuras), farofa, carnes (fígado, frangos, carnes de vaca), pimentas, cebolas e alho.
Bebidas: Uísque, conhaque, rum, cachaça, licor, vinho, etc.
Fumo: Charutos, cigarrilhas, fumo de corda, fumos com ervas enroladas na palha, cigarros.
Pontos de Força: Todos da natureza, mas principalmente as encruzilhadas em X.
Saudação: Laroyê Exu! Exu é mojubá!
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Fontes:
Adaptação do texto original postado no site Instituto Cultural Sete Porteiras do Brasil.
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