terça-feira, 30 de junho de 2015

Linha de Pretos Velhos

Linha de Pretos Velhos
Imagem: Pretos e Pretas Velhas da Umbanda. Editadas em conjunto / Google

A Linha de Pretos Velhos é regida pelo Orixá Omolu com sub-regência de Nanã, mas cada Preto Velho ou Preta Velha vem na irradiação de um ou mais Orixás, pois eles próprios são filhos de determinado Orixá e perante outros Orixás foram iniciados para trabalharem em Seus Mistérios.
Pai Antonio foi o primeiro Preto Velho a se manifestar na Religião de Umbanda em seu médium Zélio Fernandino de Morais onde se estabeleceu a Tenda Nossa Senhora da Piedade. Assim, ele abriu esta linha para nossa religião, introduzindo o uso do cachimbo, guias e o culto aos Orixás.
São espíritos que se apresentam nesta roupagem fluídica por afinidade energética e objetivos de trabalho, e que sabem que em essência não temos raça nem cor, e a cada encarnação, temos uma experiência diferente. Os Pretos Velhos trazem consigo o mistério ancião, pois não basta ter a forma de um velho, antes, precisam ser espíritos amadurecidos e reconhecidos como irmãos mais velhos na senda evolutiva, e claro, nem todos foram escravos africanos. 
O Preto Velho está ligado à cultura religiosa Afro-Brasileira em geral e à Umbanda de forma específica, pois dentro da Religião Umbandista este termo identifica um dos elementos formadores de sua liturgia, representa uma linha de trabalho, uma falange de espíritos, todo um grupo de mentores espirituais que se apresentam como negros anciões, ex-escravos e conhecedores dos Orixás Africanos. São entidades elevadas que se apresentam estereotipados como anciãos negros conhecedores profundos da magia Divina, da manipulação de ervas, mirongas e curas. São excelentes mandingueiros, mestres dos elementos da natureza, os quais utilizam em seus benzimentos e trabalhos espirituais. Crê-se que em referência à dor e aflição sofrida pelo povo negro durante a escravidão, a linha de Preto Velho reflita a humildade, a sabedoria, a paciência e a perseverança. Sua sabedoria e humildade são características marcantes e sua calma e ensinamentos são profundos. Apresentam-se na Umbanda sentados em seus banquinhos atendendo seus “fios e fias” com uma linguagem simples, porém sábia.
Preto é Cor e Negro é Raça, logo o termo Preto Velho torna-se característico e com sentido apenas dentro de um contexto, já que fora de tal contexto o termo de uso amplo e irrestrito seria “Negro Velho”, “Negro Ancião” ou ainda “Negro de idade avançada” para identificar o homem e a mulher da raça negra que se encontra já na terceira idade. Por conta disso alguns se sentem desconfortáveis em utilizar um termo que à primeira vista pode parecer desrespeitoso ao citar amáveis senhores e senhoras negras, já com suas madeixas brancas, cachimbo e sorriso fácil, que por trás do olhar sofrido, na humildade da subjugação forçada e escrava encontrou a liberdade do espírito sobre a alma, através da sabedoria vinda da Mãe África, na figura de nossos Orixás, vindo de encontro à imagem e resignação de nosso senhor Jesus Cristo.
Alguns preferem chamá-los apenas de “Pais Velhos” o que é bonito ao ressaltar paternidade, mas ao mesmo tempo oculta a raça que no caso é motivo de orgulho. São eles, em sua maioria, que souberam passar por uma vida de escravidão com honra e nobreza de caráter, mais um motivo de orgulho em se auto afirmar “nêgo véio” e ex-escravo; talvez assim se mantenham para que nunca nos esqueçamos de que em qualquer situação temos ainda oportunidade de evoluir. Quanto mais adversa maior a oportunidade de dar o testemunho de nossa fé.
O Preto Velho é um ícone da Umbanda, resumindo em si boa parte da filosofia umbandista. Assim, os espíritos desencarnados de ex-escravos e diversos outros espíritos se identificam nesta condição, se apresentando assim também em homenagem a eles, por tê-los como Mestres no astral.

A característica principal desta linha é a sua elevada orientação espiritual. São verdadeiros psicólogos da espiritualidade, representam, na máxima fidelidade, o poder de cura e a compaixão de Omolu e a sabedoria e amparo à evolução de Nanã, os regentes da linha. Àqueles que os procuram oferecem conselhos, orientação espiritual; receitam tratamentos caseiros, banhos de ervas, chás, entre outros, para os males do corpo e do espírito. Utilizam vários elementos nos seus trabalhos como o cachimbo, cigarros de palha (que usam como defumadores, para limpeza espiritual), ervas e velas. Em sua linha de atuação eles se apresentam com nomes conforme seu Orixá regente ou região de onde vieram (conforme acontecia na época da escravidão), por exemplo:

Congo (Pai Francisco do Congo): refere-se a pretos velhos ativos na linha de Iansã;
Aruanda (Vó Maria de Aruanda), refere-se a pretos velhos ativos na linha de Oxalá;
D'Angola (Pai Pedro D'Angola): refere-se a pretos velhos ativos na linha de Ogum;
Matas (Tio João das Matas): refere-se a pretos velhos ativos na linha de Oxóssi;
Calunga, Cemitério ou das Almas (Mãe Sebastiana da Calunga, Mãe Maria do Cemitério ou Pai Sebastião das Almas): refere-se a pretos velhos ativos na linha de Omolu.

Vale ressaltar que nem sempre essa regra se aplica exclusivamente à regência de Orixás, já que podem simbolizar a região de onde vieram quando encarnados, como uma lembrança carinhosa e orgulhosa de sua terra natal.

A linha de Pretos Velhos está integrada à tríade da direita na Umbanda, formada por Caboclos, Pretos Velhos e Erês.


Símbolos de representação da linha: Cachimbo, terço, cruz.
Cores: Preto e branco, branco, azul e branco, roxo, lilás, etc.
Ferramentas: Ervas, cruzes, terços, pembas, etc.
Flores: Crisântemo branco, rosa branca, margarida, azaleia branca, flores brancas em geral.
Comidas: Bolo de milho, bolo de fubá, pamonha, cural de milho, pipoca, mandioca, rapadura, doces de abóbora e batata roxa, etc.
Bebidas: Café, aguardente, água.
Fumo: Cachimbo, cigarro de palha, etc.
Pontos de Força: Cruzeiro das Almas ou o ponto de preferência do Preto Velho.
Saudação: Adorei as almas!

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Fontes:
Adaptação do texto original postado no site Instituto Cultural Sete Porteiras do Brasil.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

A importância dos Cambonos

A importância dos Cambonos
Imagem: Reprodução / Google
O cambono é o médium que participa nas giras de assistência para auxiliar os Guias em terra. Algumas casas podem ainda ter cambonos em suas correntes que não são médiuns, mas pessoas profundamente vinculadas com a religião de Umbanda que se comprometem a esta função dentro do terreiro; são raros, mas existem. 
O cambono é a viga mestra do trabalho, sua energia é fundamental na sustentação vibracional da casa, por isso é tão importante que possuam muita firmeza durante as giras.
Ainda que muitas vezes passem despercebidos aos consulentes durante um trabalho, são os cambonos os grandes responsáveis pelo bom andamento de um trabalho. Durante os trabalhos, podem incorporar para descarregar antes ou depois dos atendimentos. Além do trabalho de auxiliar os Guias durante os trabalhos, são também preparados para a doutrinação de espíritos menos esclarecidos. São treinados para terem uma concentração excepcional para o auxilio na firmeza do ritual, e é claro, a manter sempre a discrição sobre o que é conversado entre Guia e Consulente. 

O ato de cambonar é muito recomendado aos médiuns iniciantes em desenvolvimento. O desenvolvimento desses médiuns acontece em giras separadas, e nos trabalhos propriamente ditos, os médiuns cambonam; é como um estágio. Muito se aprende cambonando entre ritualísticas e comportamento, mas o ensinamento principal é ter humildade (em ajudar outro médium, limpar os materiais na gira e organizar tudo, em geral) e respeitar a hierarquia (o cambono chefe, os sacerdotes e os Guias). 

Responsabilidades de um cambono
Providenciar e cuidar das ferramentas de trabalho (bebidas, fumo, pemba, materiais do Guia, etc. e depois guardá-los no local de origem);
Manter a limpeza e a organização do ambiente (cinzeiros, copos, pranchetas e demais materiais);
Chamada dos consulentes para se consultar com os Guias (de forma organizada);
Anotações (de orientações e recados dos Guias para os consulentes e médiuns, de forma legível);
Doutrina de espíritos menos esclarecidos (com firmeza, fé e sobretudo paciência);
Demais tarefas próprias da casa (a casa pode atribuir mais alguma tarefa, se for necessário).

Além disso, comunicam-se com os sacerdotes durante a gira caso haja algo especial a se fazer ou qualquer problema que aconteça. Orientam os consulentes caso o Guia use algum termo que não se conheça (pataco, lua inteira, etc.). Possuem autoridade para pedir para um Guia subir e mudar a gira se preciso for. Mediam a comunicação entre o consulente com alguma dúvida e o sacerdote. São os olhos e ouvidos dos sacerdotes enquanto estes estão incorporados. 

Firmeza e harmonia
Um cambono precisa estar sempre concentrado. Manter a mente firme no propósito do trabalho, sem muita divagação sobre assuntos terrenos. É complicado, e um bom cambono se faz com o tempo, assim como um médium de incorporação. Todos na Umbanda tem seu processo, sua evolução. Uns mais lentos, outros mais rápidos; cada um tem seu ritmo e isso também deve ser respeitado.
Cantam pontos junto à curimba e iniciam orações em puxadas*; mantêm a vibração necessária para o trabalho e controlam o diálogo na assistência.

Estudo e crescimento espiritual
Um cambono, assim como os médiuns incorporantes e os ogãs, devem buscar estudo e compreensão das ritualísticas da religião, sempre. Isso serve para seu crescimento pessoal e evolução na própria Umbanda. Deve saber de todos os rituais da casa e seus significados, bem como demonstrar interesse em aprender sempre mais. Um cambono bem instruído faz maravilhas em seu terreiro.
Além disso, é importante o cambono estar disposto em obter o maior aprendizado possível quando acaba, vez ou outra, escutando problemas e anseios alheios. Deve-se aproveitar este momento para reflexão pessoal, e não para satisfazer a curiosidade de saber de alguma coisa sobre alguém. Além de manter a maior discrição possível, extrair daí um ensinamento do Guia que pode servir para si mesmo. Um erro que pode ser evitado, um conselho que pode ser aplicado para um problema semelhante... Ser cambono é uma das funções que oferece as maiores e melhores possibilidades de crescimento espiritual.

Atributos básicos
O cambono pode saber executar todas as suas funções com primazia, mas se não possuir alguns atributos básicos, ainda não estará de pleno acordo em seu posto num terreiro. São elas:
Responsabilidade, comprometimento, prazer em ajudar, ausência de preconceitos, firmeza emocional, bom humor e amor à religião. Com estes atributos, o caminho evolutivo do cambono fica bem mais fácil!

Quando um médium deixa de ser cambono
Isto é relativo. Quando o médium em desenvolvimento está pronto para integrar-se aos médiuns incorporantes, ele deixa de cambonar para incorporar, o que não significa que nunca mais ajudará em nada durante as giras, pois a ajuda de todos é essencial. Isso acontece com a autorização do Guia Chefe da casa.
Há casos, ainda, em que o médium abdica de seu trabalho de incorporação para ser cambono em tempo integral. Muitas vezes esses médiuns se tornam Cambonos Chefe da casa, orientando os demais cambonos e sendo responsáveis por eles.

Cambonos não são servos
Cambonos não são empregados de nenhum médium ou entidade, e não devem virar empregado particular de ninguém. Todos que tem essa função deverão ajudar a todas as entidades, não escolhendo o médium e/ou Guia por afinidade pessoal (a não ser que a casa possua cambonos suficientes para que se forme pares). Cambonos são parte da estrutura humana básica e essencial do terreiro, devem ser respeitados como qualquer outro.

Sem cambono um trabalho não acontece. O cambono deve buscar sempre exercer a caridade, com humildade, assim como todos os outros membros da corrente do terreiro.

Saravá!

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*Puxada: Descarrego, desobsessão. Os Guias fazem as puxadas quando um filho carrega consigo um espírito trevoso.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Linha de Caboclos

Linha de Caboclos
Imagem: Caboclos e caboclas da Umbanda. Editadas em conjunto / Google

A Linha de Caboclos é regida pelo Orixá Oxóssi, mas cada Caboclo ou Cabocla vem na irradiação de um ou mais Orixás, pois eles próprios são filhos de determinado Orixá e perante outros Orixás foram iniciados para trabalharem em Seus Mistérios.
Os Caboclos são espíritos muito esclarecidos e caridosos, assim como os Pretos Velhos. Tiveram encarnações como cientistas, sábios, magos, professores, etc., sendo alguns, realmente indígenas. No decorrer de suas encarnações e enquanto espíritos, elevaram-se e trabalham na Umbanda para auxiliar aos irmãos enfermos da alma e do corpo. Muitos são escolhidos pela Espiritualidade para serem os Guias Chefes dos Terreiros ou então de seus médiuns. Na linguagem comum, a palavra “caboclo” designa o homem nativo, às vezes mestiço de branco com indígena, mas na Umbanda o significado é outro. Os espíritos que se apresentam na Umbanda como Caboclos assumem a forma plasmada de índios em homenagem aos povos nativos do Brasil e de outras regiões do globo (como os xamãs), que nutriam uma forte relação de amor e de respeito à Natureza e muito contribuíram com seus conhecimentos e valores morais e culturais para a formação da nossa Pátria. Em seu arquétipo temos os mais sérios e calados, mas temos também os mais "suaves" e falantes. Muito depende, em parte, do Orixá ao qual é regido, mas não podemos nos esquecer que cada espírito, independente de um arquétipo generalizado da linha, tem suas características próprias.
Rubens Saraceni explica que, há séculos, houve um momento em que os Regentes Planetários idealizaram uma estrutura de Trabalho Espiritual que reuniria espíritos desencarnados originários das mais diferentes religiões e culturas do planeta, arregimentados a partir de determinado grau espiritual, ético, moral e de conhecimentos. Formaram-se grupos por afinidades (de valores culturais e morais, de especialidades, etc.), porém todos voltados a um único propósito: ajudarem-se mutuamente na tarefa de auxílio à evolução de encarnados e desencarnados em geral. Com isto, também aceleravam as próprias evoluções, pois estavam realizando algo inédito até então; os desencarnados se agrupavam no Astral conforme suas origens aqui na Terra, e ajudavam apenas aos “da sua gente”. Agora, a Espiritualidade punha em prática um verdadeiro Universalismo, reunindo num trabalho comum representantes de todas as religiões e crenças antigas, muitas já desaparecidas da face do planeta. Com o tempo, levas e levas de espíritos que desencarnavam puderam se filiar àqueles grupos. Então, os Regentes Planetários idealizaram uma religião que atuasse no plano da Terra, por meio desses espíritos de índole universalista. O local escolhido foi o Brasil, país que estava destinado a receber povos de todas as origens e crenças. A religião idealizada foi a Umbanda, que mais tarde o Senhor Caboclo das Sete Encruzilhadas trouxe ao plano material, manifestado no médium Zélio Fernandino de Moraes. Assim, criaram-se as Linhas de Trabalho por especialidades de atuação, sendo que as primeiras homenageavam os povos formadores da nossa cultura: nativos (Caboclos) e africanos (Pretos Velhos). Portanto, os espíritos que atuam na Umbanda como Caboclos têm origens culturais e religiosas diversas, e nem todos foram indígenas (assim como nem todo Preto Velho foi um Negro escravizado).
O que lhes dá o título de Caboclo é o seu grau de elevação perante as Leis do Criador.  São espíritos que habitam da 4ª Esfera Vibratória Positiva para cima e que trazem no íntimo um profundo senso de Fraternidade e Irmandade para com toda a Criação Divina. Dentro da Linha de Caboclos há, portanto, espíritos com diferentes graus de elevação. Fato que explica toda uma hierarquia, onde encontramos:

- Aqueles que deram nome às Falanges e que não incorporam (habitam na 7ª e 6ª Faixas de Luz, onde já não têm um corpo plasmado, são apenas Luz);
- Outros, vindos da 4ª e 5ª Esferas Positivas, e de diferentes graus, que se integram nas Falanges (e Sub-falanges etc.) e se manifestam entre nós; sendo todos eles mais adiantados e elevados que seus médiuns. 

São espíritos evoluídos que optaram por apresentar-se dentro do arquétipo do homem nativo, aquele que sempre viveu em contato direto com a Natureza e que já trazia consigo um profundo senso de amor e respeito por todos os seres e elementos à sua volta (terra, água, plantas, animais, pedras, etc.) e de harmonia com todas as forças e fenômenos naturais (sol, lua, chuva, dia, noite, estações climáticas etc.).
A presença dos Caboclos nas Giras de Umbanda nos leva a refletir sobre a importância do meio natural que nos acolheu e nos ajuda a compreender que somos parte da Criação Divina e, por isso mesmo, precisamos viver em harmonia com o Todo. Eles são um exemplo de forma de vida simples, natural, livre de preconceitos e artifícios, de arrogância e de vaidade. Sua atuação junto de nós é libertadora, própria daqueles que evoluíram. Caboclos e Pretos Velhos manipulam ervas de todos os Orixás porque têm essa autorização e conhecimento, conforme o grau elevado que os distingue. Existem Falanges de doutrinadores, de guerreiros, de “feiticeiros” (isto é, que atuam mais fortemente na quebra de magias negativas), de curadores, de justiceiros etc. Os Caboclos são profundos conhecedores das ervas e dos seus princípios ativos. Suas “receitas” (banhos, defumações, oferendas, etc.) costumam produzir curas inesperadas. Conhecem como ninguém o Reino Vegetal e podem nos ensinar o valor e a melhor utilização das ervas e dos alimentos vindos da terra. Também grandes conhecedores da Magia, nos seus trabalhos costumam utilizar pembas, velas, essências, flores, ervas, pedras, frutas, vinho, sumo de ervas, raízes, cipós e sementes, entre outros elementos. Usam charutos e fumos à base de ervas para defumar o ambiente e as pessoas presentes, recolhendo e neutralizando as cargas densas que os envolvam.
Sua forte carga magnética nos impulsiona a ir em frente, a enfrentar os obstáculos com coragem e determinação. Porque Caboclo é o arquétipo do guerreiro corajoso, valente, simples, honrado, justo e harmonizado com as Forças da Mãe Natureza. Pela simples presença entre nós, quando incorporados em seus médiuns, já nos imantam com essas fortes energias e nos estimulam a conseguir nossos objetivos. São “caçadores”, vão buscar e nos ensinam a buscar o melhor para a nossa evolução. Grandes doutrinadores e disciplinadores, são muito atuantes na orientação de sessões de desenvolvimento mediúnico, uma vez que os Guias Espirituais agem principalmente sobre o mental do médium, que está relacionado ao Chakra Frontal, regido por Oxóssi, justamente o regente dos caboclos.
Também atuam nas desobsessões, na solução de problemas psíquicos e materiais, na quebra de demandas, entre outros trabalhos espirituais de Umbanda, utilizando vários recursos magísticos nos quais são iniciados. Não ostentam conhecimentos, colocam em prática.

Seus assobios e brados assemelham-se a mantras. Cada Caboclo emite um som, de acordo com o trabalho que vai realizar, criando condições que facilitem a incorporação e liberando bloqueios energéticos dos médiuns e consulentes. Os assobios traduzem sons básicos das Forças da Natureza, dão um impulso no campo magnético (corpo espiritual) do médium para direcioná-lo corretamente, liberando-o de cargas negativas, larvas e miasmas astrais. Nos consulentes, produzem igual efeito.
Os Caboclos incorporados também costumam estalar os dedos, bater no peito e estender o braço na direção do Altar. Tudo isto tem um significado magístico-religioso:

- Estalar dos dedos: Nossas mãos têm vários terminais nervosos que se comunicam com os sete chakras principais e com os chakras menores do nosso corpo. O estalar dos dedos se dá sobre o Monte de Vênus (a parte gordinha da palma da mão) e reequilibra a rotação e a frequência de todos os chakras, que voltam a funcionar plenamente. O equilíbrio vibracional gera a consequente descarga de energias desequilibradas (“negativas”). Ao estalar os dedos, o Caboclo provoca essas reações no campo magnético do médium ou, conforme o caso, descarrega o campo do consulente. Ao estalar os dedos da mão esquerda, ele absorve negatividades e faz uma limpeza energética; e quando estala os da mão direita, ele irradia cargas altamente positivas e reenergiza, acalma, cura etc.
- Bater no peito: Com isso, o Caboclo ativa o chakra cardíaco do médium e equilibra suas emoções, possibilitando uma sintonia mais apurada com o medianeiro e a efetivação de um bom trabalho espiritual.
- Estender os braços (ou um braço) para o Altar: Com esse gesto, o Caboclo lança uma “flecha energética” que ativa os Poderes e Forças assentados e firmados no Terreiro, conforme a necessidade do trabalho espiritual a realizar.

A linha de Caboclos está integrada à tríade da direita na Umbanda, formada por Caboclos, Pretos Velhos e Erês.


Símbolos de representação da linha: Penas, arco e flecha.
Cores: Geralmente a do Orixá correspondente, mas as mais comuns são: verde, marrom, vermelho, azul, amarelo e branco.
Ferramentas: Machadinhas, arco e flecha, lanças, chocalhos, cabaças, etc.
Flores: As do orixá correspondente ou flores da preferência do Caboclo.
Comidas: As do orixá correspondente ou comidas da preferência do Caboclo.
Bebidas: Cerveja branca, cerveja preta, uísque, chá, água, etc.
Fumo: Charutos, cachimbos, fumo com ervas na palha, etc.
Pontos de Força: O do orixá correspondente ou o ponto de preferência do Caboclo.
Saudação: Okê Caboclo!

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Fontes:
Adaptação do texto original postado no site Instituto Cultural Sete Porteiras do Brasil.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Quem é Jesus na Umbanda?

Quem é Jesus na Umbanda?
Imagem: Jesus Cristo. Reprodução / Google
Esse post é dedicado aos umbandistas... E a todas as pessoas que se interessarem pelo assunto.
Esse texto representa a minha opinião. Ninguém é obrigado a gostar, e sobretudo, ninguém detém a verdade.

Esses tempos atrás vi um vídeo do sacerdote Marcel Oliveira do Templo Mãe Divina falando sobre Jesus e fiquei pensando nisso, em bolar um texto com minha opinião também.
Aí agora, com todo esse rebuliço de "profanação da imagem de Jesus na cruz", resolvi fazer esse texto.

Antes de começar, preciso enfatizar: Jesus não é Oxalá. Assim como São Sebastião não é Oxóssi, Nossa Senhora Aparecida não é Oxum, e por aí vai. Essa é uma sincretização, devido a Oxalá possuir qualidades muito semelhantes a de Jesus Cristo. Pára aí.
Mas então, quem é Jesus na Umbanda?
Em todo terreiro que já fui ou vi fotos, sempre vi um elemento em comum: uma imagem ou símbolo que remeta a Jesus. Seja um quadro, uma imagem de gesso, uma cruz (que não necessariamente esteja ligada a Omolu), um sagrado coração, enfim. Mas é uma figura que muitas vezes pode ser esquecida. Entre tantas louvações a Deus, aos Orixás e aos nossos amados Guias que nos protegem, às vezes nos esquecemos de Jesus e no que ele significa na Umbanda. Não que precisemos louvá-lo o tempo todo, mas precisamos nos recordar sempre do significado.
Em parte, credito esse """afastamento""" às igrejas evangélicas mais intolerantes. É como vi o youtuber PC Siqueira dizendo, alguns evangélicos acham que são donos de Jesus, e dessa forma, somente eles podem falar sobre, somente eles entendem seu real significado. Jesus abençoa/ama/salva somente aos evangélicos.
Ou ainda, quando vimos alguém falar de Jesus que não seja católico ou evangélico, certamente pensaremos que é espírita kardecista. Jesus é maior que as religiões, assim como Olorum, Orixás e Guias (muitos deles atuam em mesas brancas sob outras roupagens fluídicas, em cultos de Jurema, etc.). E Jesus não fundou religião alguma.

A Umbanda tem em si elementos de religiões afro, cristãs e indígenas. A Umbanda é, portanto, cristã. Claro que nossa visão de Cristo é diferente das demais religiões, mas cremos nele. Temos nele - a partir dele - os valores mais fortes da Umbanda: amor e caridade. Lembramos dele, muitas vezes, para entender o dia a dia do terreiro, a dinâmica do auxílio.
Independente de como você pense nele, no que você acredita ou não (referente à milagres e estilo de vida), é sabido que Jesus é um dos espíritos mais ativos no trabalho à humanidade. É um grande mestre, um trabalhador incansável que olha pelo Universo assim como tantos outros mestres ascensos que conhecemos.

- Se você acredita no Jesus da Bíblia, operador de todo o mistério da morte, ressurreição e vida plena como um ser isento de qualquer pecado bíblico, ótimo.
- Se você acredita em Jesus sendo um grande médium, porém um homem comum, que em vida pode ter experimentado experiências terrenas, não deixando de ser, entretanto, um espírito elevadíssimo, ótimo.
- Se você acredita em Jesus sendo apenas "um cara de bem" que pregou "sentimentos legais" e acabou "ficando famoso" por isso, ótimo.

Acho que a forma como vemos Jesus não importa muito, se soubermos absorver seus exemplos. Exemplos estes que são essenciais para a Umbanda! Por isso vemos imagens e símbolos nos terreiros; para que não nos esqueçamos nunca de seus exemplos, de seus ensinamentos. Praticar a caridade, respeitar o próximo, ser humilde, vigiar somente a si mesmo...
Escolhi a imagem dessa postagem com base no que penso sobre Jesus: ele foi, em vida, um homem simples, como eu e você. Não trajava vestes da nobreza, talvez nem possuísse uma beleza estonteante; mas seu coração era imenso e sua bondade ultrapassava qualquer elemento terreno. Era um homem bom que dedicou sua vida à ajudar o próximo e espalhar amor e conforto.
Já diria Jesus Cristo:

"Amai o próximo como a ti mesmo"
Amar. Amar é respeitar, auxiliar. É praticar a caridade sem esperar retorno, pois da mesma forma que fazemos para nós mesmos, se pudermos fazer para os outros, será magnífico. Relaciono essa frase à esta: "Não faça para os outros o que não deseja a si mesmo".


"Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus"

Adianta ir ao terreiro, vestir o branco e trabalhar se você não conseguiu absorver nenhum ensinamento? Se você não conseguiu trazer para sua vida a paz e a evolução?
Adianta ir ao terreiro, esperar para ser atendido, sair de lá e esquecer completamente os ensinamentos passados? Aplicar somente quando conveniente?
Adianta ser Umbandista, dizer que prega o amor, a caridade e a humildade se você é incapaz de espalhar paz e bondade e nunca estender a mão a quem precisa?

"Não julgueis para não serdes julgados. Pois com o julgamento com que julgais sereis julgados, e com a medida com que medis sereis medidos"
É a lei do retorno, sempre mencionada pelos Guias. Não devemos julgar cor da pele, orientação sexual, condição financeira, deficiência física ou qualquer outro fator. Não devemos julgar comportamentos, estilos de vida e o que quer que seja. O dedo que você aponta agora, será apontado a você mais tarde. Somente Olorum pode vigiar nossa vida, corrigir nossos deslizes, com o auxílio consentido de Orixás e Guias. Quem guarda a Lei Divina é Ogum, e quem falhar com a Lei que se entenda com Ogum. Quem guarda a Justiça Divina é Xangô, e quem falhar com a Justiça que se entenda com Xangô. 

"A boca fala do que está cheio o coração"
Fale de coisas boas, espalhe positividade. Encha seu coração de bons sentimentos. Livre-se das fofocas, julgamentos, inveja e discórdia. Seja positivo e passe isso pra frente.

Não importa que sua evolução seja lenta, apenas evolua. Jesus nunca desistiu; foi julgado, desmerecido, crucificado e morto pelo povo de sua época. Ainda sim nunca deixou de praticar o bem e de melhorar a si mesmo. Mire-se neste exemplo!

quarta-feira, 3 de junho de 2015

A dualidade e os aspectos negativos dos Orixás

A dualidade e os aspectos negativos dos Orixás
Imagem: Representação da Dualidade. Reprodução / Google
Dualidade: é a propriedade ou caráter do que é duplo, do que é dual, ou que contém em si duas naturezas, duas substâncias ou dois princípios.

A dualidade existe em todos os planos da Criação. Têm-se luz e trevas, vida e morte, frio e calor; um aspecto positivo e um negativo.
E nem sempre positivo quer dizer bom e negativo quer dizer mau, são apenas dois polos distintos da mesma face. E o caso é que essa dualidade é inerente à Criação, ou seja, é da essência e é necessário.
Nem todos compreendem muito bem a dualidade (vide Orixá Exu), mas compreendê-la é o primeiro passo para entender os aspectos negativos de todos os Orixás; e as lendas do Candomblé nos ajuda a entender perfeitamente.
Quando os Orixás foram humanizados nas lendas, foi trazido à tona seus aspectos positivos e negativos. Muitas vezes, ao ler uma lenda, ficamos assustados. Como pode Ogum matar toda uma aldeia? Como pode Oxum ter enganado friamente Obá somente para que Xangô ficasse com raiva dela e voltasse toda a sua atenção a Oxum? Ao ler uma lenda de Orixá, é necessário ter em mente a dualidade que rege a Criação, e perceber que para tudo existe o equilíbrio, e o equilíbrio depende de nós mesmos. Todos temos luz e trevas dentro de nós, mas escolhemos qual das duas deixamos agir.
Os Orixás irradiam até nós, o tempo todo, sua energia divina. O que fazemos dela é outra estória, conforme falei brevemente na postagem Afinal, quem são os Orixás?. Percebo, hoje, que a "energia perfeita" do Orixá (citada nessa antiga postagem) carrega essa dualidade, mas que de fato, pode sofrer alterações.
Quando rezo para os Orixás, peço para que irradiem seus aspectos positivos e neutralizem seus aspectos negativos, conforme me ensinou um grande amigo e sacerdote umbandista. Percebo assim, que os Orixás estão irradiando em mim toda a sua energia, mas na verdade, me ajudarão a neutralizar seu aspecto negativo - porque este, acredito eu, é um trabalho de cada um nós (embora recebamos auxílio dos Guias para lidar com esses excessos).
O fator positivo dos Orixás engrandece nossa essência, melhora nossa vibração e evolui. O fator negativo altera nossa vibração e atrai sentimentos negativos, até mesmo eguns.

Abaixo, alguns aspectos negativos da personalidade dos filhos de cada Orixá:

Filhos de Oxalá
Usam a falsidade como defesa, são muito apressados, sarcásticos, mentirosos, fúteis, hipocondríacos e gostam de intrigas e fofocas. São lentos, meticulosos, reacionários e exclusivistas. Mal-humorados e teimosos.

Filhos de Oxóssi
Extremamente ciumentos e às vezes inseguros. Egoístas, vaidosos (ao ponto de acharem que são melhores em tudo) e às vezes medrosos. São chegados ao nascisismo, querem sempre chegar primeiro e falar mais alto. Misteriosos, comodistas, feiticeiros e, de certa forma, avarentos, mas gastam muito naquilo que lhes convêm. Dominadores e muito rancorosos.

Filhos de Iansã 
São vingativos, difíceis de perdoar e se aborrecem facilmente. Chantagistas, mentirosos, gostam de intrigas. Extremamente agitados e confusos. Possessivos, ciumentos e dominadores. Atrás da meiguice se esconde um forte veneno. Podem falar demais e revelar segredos.

Filhos de Ogum
Vorazes, gananciosos e abusados, os filhos de Ogum não têm misericórdia. Não perdoam falhas, nem as suas próprias. São sábios para enredar e criar polêmicas e intrigas; confusos, muitas vezes. São rudes e extremamente exigentes e seu ponto preferido para o ataque é o coração. Impiedosos e malvados. Ostentam um grande valor de poder e grandeza, mesmo que na verdade não os tenha. Arrogantes, gananciosos e temperamentais.

Filhos de Xangô
Exigentes, são vingativos e não perdoam uma falha. Acham que só eles mesmos são capazes de realizar algo. Impiedosos, tem o prazer de fazer sofrer. Por falar demais não sabem guardar segredos. Se acham os donos da verdade, tornam-se arrogantes e autoritários.

Filhos de Yemanjá
Demasiadamente exigentes, quando com raiva, destroem uma pessoa com um simples olhar. Quando ofendidas perdoam, mas jamais esquecem. Cruéis e egoístas, se acham donos da verdade. Dramáticos e fatalistas, se irritam facilmente e sofrem demais por tudo. Muito materialistas.

Filhos de Oxum
Chantagistas, choram para ter a piedade dos outros. São dramáticos, matreiros, debochados, possessivos, exigentes, ciumentos e autoritários. Gostam de palpitar sobre os problemas alheios, adoram criticar. Fúteis e consumistas.

Filhos de Nanã
Impacientes, reacionários e muito mal-humorados. São ranzinzas e rabugentos, não aceitam críticas (especialmente dos mais novos) e reclamam de tudo. Rancorosos, remoem problemas antigos durante muito tempo, se não os fazem por toda a vida.

Filhos de Omolu
Rabugentos, ranzinzas, são do tipo nervosos e ansiosos, vingativos, jamais esquecem uma ofensa. Pessimistas, depressivos, teimosos e mal-humorados. Pensam que só eles sofrem verdadeiramente, nada está bom o suficiente e reclamam de tudo.


Parece terrível, não é? Mas quando nos analisamos friamente percebemos que talvez tenhamos muitos desses defeitos. E não existe problema algum em tê-los! Somos humanos e imperfeitos, mas temos (sim!) a obrigação de melhorar continuamente. E é aí que entra o nosso livre arbítrio e nosso esforço em buscar sempre o equilíbrio interior, buscando as qualidades de todos os pais e mães Orixás.
Saiba que virar um Buda pode ser muito chato, mas o controle é necessário para uma boa vivência com o mundo e as pessoas próximas. A não ser, é claro, que você ostente com orgulho os excessos de seus pais Orixás... Aí não há muito o que fazer.
Entenda a dualidade, entenda os Orixás... Mas principalmente, entenda a si mesmo!


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Fontes das características dos filhos de Orixás:
Site: Nova Era
Site: OrixásRS
Site: Candomblé Filosófico
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