terça-feira, 28 de julho de 2015

Linha de Marinheiros

Linha de Marinheiros
Imagem: Marinheiros da Umbanda. Editadas em conjunto / Google

Essa linha é regida por Yemanjá, embora cada Marinheiro e Marinheira venha na irradiação de um ou mais Orixás, pois eles próprios são filhos de determinado Orixá e perante outros Orixás foram iniciados para trabalharem em Seus Mistérios.
A Linha dos Marinheiros da Umbanda engloba espíritos que trabalham no auxílio a encarnados e desencarnados, a partir do seu magnetismo aquático e de seus conhecimentos sobre a manipulação do Mistério das Águas. Nela se apresentam espíritos que em últimas encarnações foram marinheiros de fato, navegadores, oficiais, pescadores, povos ribeirinhos, canoeiros, piratas, etc., ou espíritos que se agruparam à linha por afinidade energética. É o arquétipo do homem litorâneo, daquele que sobrevive do mar e dos rios. A linha dos Marinheiros tem a regência de Yemanjá, mas pode-se considerar Omolu o regente secundário. A partir deste princípio, Yemanjá rege toda a água do mar e Omolu rege a terra que há no fundo dos oceanos. Yemanjá dá sustentação e amparo aos espíritos que no mar (calunga grande) viveram de forma positiva, extraindo de suas águas recursos para alimentar vidas, e Omolu sustentando o eterno vai-e-vem das águas, atraindo para os seus domínios (calunga pequena) os espíritos que se utilizaram do mar de forma negativa, alimentando apenas seus instintos inferiores.

Esta linha de trabalho é também chamada de “Povo d'Água” e está relacionada a outras Mães d’Água como Oxum (águas doces) e Nanã (lagos e lagoas), sendo de Yemanjá, entretanto, a regência da linha.
Os Marinheiros trabalham ainda sob influência das Forças Naturais que enfrentam no mar, tais como as calmarias (Mistério de Oxalá), os raios (Mistério de Xangô), os tufões (Mistério de Yansã), os bancos de areia (Mistério de Omolu), os sargaços (Mistério de Oxóssi) e as correntes marinhas (Mistério de Ogum). Para lidar com essas energias, os Marinheiros precisam do conhecimento e da licença dos Orixás Regentes desses elementos, portanto, um Marinheiro de Umbanda é munido de grande conhecimento e preparo.
Nos Terreiros, a chegada dos Marinheiros traz uma alegria contagiante. Abraçam a todos, brincam com um jeito maroto, gingando pra lá e pra cá, parecendo embriagados. Mas não estão, como se poderia pensar; é o seu magnetismo aquático que os faz ficar “balançando”. Cada elemento tem o seu magnetismo e os espíritos que se manifestam naquela determinada irradiação têm magnetismo idêntico. O que faz o mar ondular é o magnetismo característico de Yemanjá, regente divina das águas salgadas e da linha dos Marinheiros. Logo, os Marinheiros também possuem esse magnetismo “ondulante”. Ao incorporar em seu médium, o Marinheiro “bambeia”, se movimenta como quem se equilibra no tombadilho de um navio ou de um barco em alto mar. Desta forma, ele libera energias em formas onduladas; é através dos seus “balanços” que lembram os movimentos de uma pessoa embriagada (se ficarmos algum tempo no mar, vamos entender melhor isso: ao voltar para terra firme, sentiremos estar “balançando”, “bambeando”, ainda sob o efeito do movimento ondulante do mar). Os “balanços” dos Marinheiros liberam ondas de forte magnetismo aquático que desagregam acúmulos negativos de origem externa e interna, equilibram nosso emocional e mental e nos dão condições de gerar coisas positivas em nossas vidas. Vale lembrar que as águas simbolizam as nossas emoções e estão ligadas à origem da vida.
Nas Giras de desenvolvimento, o magnetismo dos Marinheiros é um potente equilibrador emocional do médium, colaborando de forma essencial no processo.

A Linha atua preferencialmente na diluição de cargas trevosas e em trabalhos voltados para a cura emocional do consulente, muitas vezes com a ajuda de seres Elementais da Água que são atraídos com tal propósito. O contato com esses seres realiza uma potente limpeza em nosso campo magnético, uma verdadeira “explosão” de energia equilibradora. Os Marinheiros são Magos dos Mistérios Aquáticos. Atuam de forma única dentro da Umbanda, na manipulação de energias que nos libertam de bloqueios íntimos e nos dão equilíbrio emocional. Pode parecer pouco, mas hoje a própria ciência analisa e admite os efeitos dos distúrbios emocionais como geradores de várias enfermidades, de modo que a cura emocional é o primeiro grande passo para outras conquistas. Os Marujos lidam com os consulentes de forma simpática e extrovertida, “quebrando o gelo” e deixando o assistido muito à vontade, o que facilita a recepção dessas energias equilibradoras e curadoras.
Além dos trabalhos de descarrego e quebra de magias negativas, dão consultas e passes. Costumam ir direto ao ponto, sem rodeios, mas sabem como falar aos consulentes sem criar um clima desagradável ou de medo. São amigos, trazem uma mensagem de esperança e força. Sempre nos alertam para agir com fé e confiança e desbravar o desconhecido, seja do nosso interior ou do mundo que nos rodeia. 
Algumas vezes, ao incorporar, os Marinheiros precisam tomar alguma bebida alcoólica para não prejudicar o físico do médium, mas como se explica isso?
O uso da bebida dá fluidez e volatilidade às vibrações desses espíritos, expande seus campos magnéticos e possibilita a estabilização e o equilíbrio nas incorporações, bem como limpa e energiza. Como os Marinheiros vivem na irradiação aquática, quando incorporam parece-lhes que o solo está se movendo. Então, com funções inversas, o álcool lhes dá estabilidade e equilíbrio necessários para ficarem parados e darem atendimento às pessoas. O álcool, em condições normais, tira o equilíbrio de uma pessoa. Mas assim como o veneno de cobra é o único antídoto contra picadas de cobras, com os Marinheiros a ingestão de bebida alcoólica lhes dá estabilidade. Esse consumo, porém, precisará ser controlado e restrito a uma dose mínima!
Dentro de um trabalho espiritual, o excesso de bebida nunca se justifica. O Guia é um espírito que se preparou e obteve a permissão da Lei Divina para vir nos ajudar; é um mago que sabe como manipular os elementos e usa o mínimo necessário, pois não precisa de “quantidade”. Quando há excesso, isso se dá pela ignorância e despreparo, ou então pela vaidade do médium.

A linguagem da linha é bastante simbólica na maioria dos casos, podendo-se notar algum desses termos durante a consulta:
O mar: expressão que usam significando a nossa vida. Quando falam que “o mar tá bravo”, é porque o médium ou o consulente está com dificuldades na vida por não saber lidar com as emoções ou os desafios;
Barco: maneira pela qual designam o próprio médium ou o consulente;
Capitão Maior/Capitão do Navio: expressões para se referirem a Deus;
Correnteza: Dificuldades da vida.


Símbolos de representação da linha: Âncora, ondas, timão, barcos.
Cores: Azul claro, azul escuro, branco.
Ferramentas: Pedras, conchas, búzios, estrelas do mar, velas, areia, etc.
Flores: Cravo branco, palmas brancas, rosas brancas e flores brancas em geral.
Comidas: Frutas de polpa branca em geral, bem como frutas de Yemanjá.
Bebidas: Água de coco, rum, leite com mel, cerveja clara, conhaque com mel, aguardente, vinho.
Fumo: Cigarros de palha, charutos, cigarrilhas, fumos diversos de ervas enrolados na palha.
Pontos de Força: Mar ou pontos de força que contenham água.
Saudação: Salve a marujada!

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Fontes:
Adaptação do texto original postado no site Instituto Cultural Sete Porteiras do Brasil.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Não pise na Umbanda

Não pise na Umbanda
Imagem: Reprodução / Google
Eu estive refletindo um pouco, e sempre vejo na mídia, razões para se entrar e pisar na Umbanda, sobretudo a máxima “cuidado ao pisar na Umbanda, você pode se apaixonar”. Com certeza você pode se apaixonar, não tiro isso, mas há muitos poréns que devem ser considerados, a começar pelo fato da mera curiosidade que leva as pessoas a irem somente para ver o que tem do lado de lá da cortina, deixando de lado a fé e o coração aberto neste ponto.
Quanto aos médiuns vejo uma situação pior; médiuns entrando nos terreiros completamente despreparados e agindo com animismo e orgulho, dando o espaço de seus guias a obsessores que culminam por levar consulentes a acreditarem em situações ilusórias, como por exemplo trabalhos feitos, obsessão iniciada a séculos atrás, e a maior praxe de todas, eximir a pessoa das responsabilidades de suas ações.
Umbanda é algo a ser levado a sério, é algo que exige fé, estudo, dedicação, disciplina, irmandade e alegria, muita alegria. Posso dizer sem peso algum na minha consciência que levo a Umbanda muito a sério pois é a minha religião, é a minha fé e isso não deve ser jamais motivo de brincadeiras e piadas, por isso dispenso a piadinha, “você é macumbeiro”. Não sou, pois não toco macumba (um instrumento musical) e sou péssimo com qualquer outro instrumento musical.
Fé, na minha opinião é o mais difícil, e sabemos que temos fé quando nos ajoelhamos e temos a humildade de agradecer a Deus e aos Orixás pelas dádivas recebidas pelo nosso merecimento, principalmente quando estas vem em forma de trabalho. Pedir vem em segundo plano.
Estudo tudo o que posso e filtro o que julgo adequado para mim e meus filhos de fé do mesmo modo que ouço o que nossos guias tem a ensinar e a aconselhar sem vergonha alguma. Sou todo ouvidos.
Me dedico a Umbanda com afinco, mas as vezes, menos do que gostaria. Portanto, limpo meu terreiro, ouço os meus filhos com carinho, acendo as minhas velas, faço minhas preces e trago as praticas e crenças da Umbanda para o meu dia a dia.
Procuro ter disciplina em tudo que faço pela Umbanda, afinal, me sinto responsável pelo andamento de minha corrente, de meu terreiro e pela condução daqueles que são atendidos entre tantas outras coisas.
Entendo por fato que pessoas tem diferenças e estas devem ser trabalhadas e vencidas dentro de uma corrente, pois do contrário só teremos elos soltos espalhados pelo chão. Vejo claramente que as maiores expressões de irmandade se dão em momentos difíceis, quando um filho tem problema com outro, mas este reconhece a irmandade e levanta a bandeira para ajudar. Adoro quando isso acontece, pois vemos a nossa natureza, nossa essência.
A alegria é essencial, pois devemos sim, aproveitar desse sentimento em dias de trabalho, em dias de estudo, em festas e em dias de sacramento. Se alegre pelo trabalho que você terá na gira, se alegre pela limpeza de seu terreiro, se alegre pela sua mão estendida ao próximo, se alegre pelo seu irmão ao lado, se alegre pelo seu Sacerdote, se alegre pelas lições aprendidas e até mesmo pelo lanchinho depois da gira!

POR ISSO, SE VOCÊ ENXERGA A NOSSA FÉ COMO OBJETO DE CURIOSIDADE, NÃO PISE NA UMBANDA, SE VOCÊ ESPERA QUE TUDO SE RESOLVA SEM SEU TRABALHO, NÃO PISE NA UMBANDA, SE VOCÊ ENXERGA SOMENTE A BELEZA DO TECIDO BRANCO E DA SAIA RENDADA, NÃO PISE NA UMBANDA, SE VOCÊ NÃO QUISER SUA REFORMA ÍNTIMA, NÃO PISE NA UMBANDA, SE VOCÊ NÃO ENTENDE QUE A NATUREZA É NOSSO BEM MAIS PRECIOSO, NÃO PISE NA UMBANDA, SE VOCÊ NÃO CONSEGUE ENTENDER QUE A NOSSO TRABALHO É PELA CARIDADE, NÃO PISE NA UMBANDA, SE VOCÊ NÃO QUER COMPREENDER QUE TEMOS COMO AMPARO DEUS, NOSSOS ORIXÁS E NOSSOS GUIAS, NÃO PISE NA UMBANDA... ETC, ETC, E ETC,.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Cartilha do Médium: mandamentos para um trabalho na Umbanda

Cartilha do Médium: mandamentos para um trabalho na Umbanda
Imagem: Reprodução / Google
Muito se vê por aí sobre a Cartilha dos Médiuns Umbandistas. Tem até um livro do Norberto Peixoto com esse mesmo título (que ainda não tive a oportunidade de ler) mas que imagino ser excelente. No entanto, como tudo que eu faço por aqui leva uma opinião minha e/ou dos Guias que me orientam (mesmo nos textos com as fontes citadas), vou criar uma "cartilha" com sete princípios básicos, algo que penso ser essencial para qualquer casa, dentre "tantas Umbandas" da nossa linda Umbanda.
Como sempre, já deixo uma advertência: essa é uma verdade pessoal, não pretendo que seja universal.

Amor
Amor antes de caridade, sim. Porque uma hora a gente pode se sentir cansado. Porque uma hora a gente pode se sentir inútil e desnecessário, mesmo não sendo. E caridade pode ser prestada fora da Umbanda, de outras formas, mas só o amor nos mantém vivos na religião. Amor à Deus, aos Orixás, aos Guias maravilhosos que nos acompanham em nossa vida. Amor pelo nosso terreiro, pelo branco que se veste, por tudo. É o amor à Umbanda, acima de qualquer coisa. Estar na religião por obrigação ou medo de castigo das entidades não faz de ninguém um bom médium.

Caridade
Gostar de fazer o bem. Se doar com prazer para ser um instrumento da bondade e caridade dos Guias. Depois da gira sentir fome e cansaço pela drenagem energética mas se sentir em paz, de bem consigo mesmo e certo de que através de si, da sua doação energética, as entidades puderam ajudar muitos irmãos em situações adversas que precisavam de amparo.

Humildade
Não se sentir melhor que os outros por estar fazendo este trabalho, não sentir arrogância ou vaidade. "Sua entidade" não é mais poderosa que a de outro médium. "Sua entidade" não está aí para fazer espetáculo para ninguém. Contar vantagem sobre os feitos da "sua entidade" não engrandece a entidade, engrandece apenas o seu ego. Dentro de um terreiro, você faz o seu trabalho. Respeite o Orixá e o Guia chefe, respeite as regras e a hierarquia.

Estudo
Estude sempre. Escute o Guia, leia um livro. Reúna todo o conhecimento que puder sobre sua religião, mas principalmente, aprenda com os teus Guias. Alan Barbieri fala: aprenda sobre seu Guia a partir dele mesmo, não adianta buscar a essência do Guia em outro.
Além disso, estude as ritualísticas (inclusive as de outros terreiros), conheça outros terreiros e formas de trabalho, não há mal nenhum em visitar outras casas desde que seja feito com respeito e cuidado. Absorva ensinamentos diversos. Busque compreender a religião e não apenas aceitar tudo como é. Pergunte, não se satisfaça com meias palavras. Aprenda com os que sabem mais e ensine aos que sabem menos. Saiba compartilhar.

Confiança
Confie em si mesmo, nos Guias que te acompanham e no terreiro que você faz parte. Se você não tiver plena confiança em seu terreiro e em seu sacerdote, peça licença e procure um que você se sinta completamente à vontade para exercer seu trabalho. Dentro da normalidade e da lei de Umbanda, não existe terreiro bom ou ruim; existe o terreiro certo para você, que suas energias se afinizam.

Responsabilidade
Você é o responsável pelo seu atendimento. Busque sempre estar "bem conectado" com os Guias para não haver interferências na comunicação com o consulente. Desligue-se de seus problemas, integre-se no Todo da Criação, esforce-se para isso. Seja responsável também com as tarefas que lhe são dadas, nos horários e preceitos.

Reforma Íntima
Você, e apenas você, é responsável pela sua própria evolução; Guia ajuda quem quer ser ajudado. Reveja valores, medite sobre suas condutas.
"Devemos reconhecer e compreender nossas imperfeições para que possamos desenvolver nossas virtudes. Só dependemos de nós mesmos, pois o desenvolvimento espiritual é um caminho a ser trilhado individualmente".
A Umbanda não espera que ninguém seja perfeito, mas a evolução deve ser buscada. Deve-se estar alinhado com o propósito da própria Umbanda, da melhora interna de cada um. Acima de tudo, viver seus ensinamentos dentro e fora do terreiro.


São estes. Acredito que sejam essenciais para um bom trabalho, todo o resto pode ser alcançado aos poucos, ajustando aqui e ali o que se faz necessário para a casa que se trabalha.
Cada um tem um tipo de mediunidade, cada um tem uma energia específica, cada um tem o Orixá que rege. Tudo pode e deve ser melhorado, respeitando sempre o ritmo de sua própria evolução e entendimento. O importante é nunca desanimar; contar que a espiritualidade vai te ajudar a alcançar bons resultados, mas estar ciente que tudo começa em você e no seu esforço pessoal. 
Orai e Vigiai.

Paz e luz!

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Linha de Baianos

Linha de Baianos
Imagem: Baianos da Umbanda. Editadas em conjunto / Google

Essa linha é regida por Yansã, embora cada Baiano e Baiana venha na irradiação de um ou mais Orixás, pois eles próprios são filhos de determinado Orixá e perante outros Orixás foram iniciados para trabalharem em Seus Mistérios.
A Linha dos Baianos da Umbanda engloba não só os espíritos da Bahia, mas do norte e nordeste brasileiro como um todo. Possuem também uma ligação com o Orixá Oxalá, já que seu arquétipo de louvação diz respeito a questões da Fé e Religiosidade. Muitos viveram ou passaram parte de sua vida em Estados dessa região, em contato com os Mestres do Catimbó e da Pajelança indígena. Manifestam-se, em geral, de forma alegre e movimentada e gostam de uma boa conversa. São firmes, parecem “feitos de fé”. Não se cansam de louvar “o Senhor do Bonfim”. O Povo Baiano vem ao Terreiro para nos trazer seu axé, sua energia positiva, e têm muito a nos ensinar, sempre com uma resposta certeira e rápida para as nossas dúvidas e questionamentos. Na sua forma de trabalhar, trazem muito das qualidades de Yansã: são bastante ativos, movimentadores, irrequietos, despachados e descontraídos. Sua dança tem movimentos característicos, com gingados, “pisadas” e giros que dissolvem as energias densas acumuladas no ambiente e nas pessoas. Também são bons orientadores e doutrinadores. Sabem ouvir, dar bons conselhos e levantar o ânimo dos entristecidos. Neste caso conversam bastante, transmitindo conforto e segurança ao consulente. São consoladores por natureza.
Os Baianos nos contagiam com suas energias de alegria e de firmeza e nos ensinam a perseverar diante dos obstáculos, através da sua magia peculiar e das suas brincadeiras sadias. Alguns, entretanto, podem ser um pouco mais sérios, o que também é normal na linha.

Seu magnetismo é forte. São decididos ao ponto de nos fazer sentir mais leves e animados, o que nos leva a tomar um novo rumo na vida e a obter conquistas espirituais e materiais. Os Baianos nos ensinam muitas coisas. Seu magnetismo, entre outras coisas, estimula cada pessoa a não estagnar diante dos problemas, a não lastimar, mas agradecer pela vida e ir em frente; a confiar em si e na Providência Divina e montar um plano de ação para começar a resolver pendências, a cuidar bem de si mesmo, manter bons sentimentos e pensamentos firmes, através de orações, banhos, rezas etc. Nos ensinam a não olhar só “pro próprio umbigo”, ou seja, fazer alguma coisa em benefício dos mais necessitados, e lembrando que a maior ajuda é saber ouvir com respeito, dar uma boa palavra, fazer uma oração na intenção do necessitado, etc.
Admiram a disciplina e a organização dos trabalhos. Sabem “dar disciplina” de forma direta, quando preciso, por influência da própria Yansã. São poderosos aliados da Umbanda e nos ajudarão em tudo o que for permitido pela Lei Divina, mas desde que a pessoa não tenha má índole. Porque Baiano “não tem osso na língua” e diz o que tem a dizer, quer goste ou não. Seu objetivo é nos ajudar a manter uma conduta reta na vida, para que a Lei e a Justiça Divina nos amparem. Baiano é alegre, Baiano brinca. Mas também sabe falar sério, e nessas horas não corta caminho, vai direto ao ponto.
Quando precisam, trabalham na linha de esquerda para desfazer magias. Bons conhecedores do assunto que são, eles atuam fortemente na quebra de magias negativas, na desobsessão e na limpeza energética.
Suas oferendas podem ser feitas ao pé de um coqueiro ou palmeira, ou então no ponto de força do Orixá que os rege mais especificamente. Preferem os colares feitos de pedaços de coco seco e/ou de coquinhos e/ou de sementes (olho de boi, olho de cabra). Alguns intercalam búzios, pedras e mesmo contas de porcelana ou de cristal.

A origem da linha dos baianos remonta ao Astral. Organizaram-se, pouco a pouco, as Linhas de Trabalho Espiritual da Umbanda, a partir dos arquétipos do povo brasileiro. A de Caboclo homenageava o guerreiro nativo e forte, conhecedor da Natureza, corajoso; a de Preto Velho destacava a sabedoria, paciência, bondade e humildade dos anciãos que vieram da Mãe África; a das Crianças nos remetia à pureza infantil e à necessidade de despertá-la em nosso íntimo, bem como à valorização da infância e dos seus cuidados. Novas linhas foram se apresentando gradualmente, inclusive respondendo às mais novas e crescentes necessidades do nosso meio, já que toda essa estrutura de Trabalho Espiritual da Umbanda está voltada para a evolução da nossa humanidade e dos seres afins com a nossa realidade. Os Regentes Planetários fizeram por acompanhar as mudanças do nosso meio social e atender às necessidades humanas e, principalmente, humanitárias que delas emergiam. E não poderia ser de outra forma, pois a Umbanda é uma religião brasileira e reflete os valores culturais e religiosos do nosso povo. Assim, a cada Gira de Umbanda manifestam-se as diferentes qualidades, habilidades e saberes ancestrais desse nosso povo multicultural.

A Linha dos Baianos, também chamada de “Povo da Bahia”, traz uma referência ao início da descoberta do país, à colonização e às origens de um povo que é “a cara do Brasil”. A Bahia e seu povo sintetizam o grande “caldeirão” de diversidades que é o Brasil, seja quanto às origens dos povos que aqui vivem e convivem pacificamente, seja quanto aos seus valores culturais e religiosos etc. Com efeito, o povo baiano é fraterno, universalista, devoto, fervoroso, persistente, alegre, festeiro, cheio de ginga, de ritmo e magia. Há também as casas que englobam os cangaceiros na linha dos Baianos, como um só Povo da Bahia, já que Yansã também carrega em si as batalhas do dia a dia por uma vida melhor, exaltando a justiça em todos os setores da vida.
É cada vez maior o número de Baianos que se manifestam nos Terreiros de Umbanda, por isso encontramos Baianos e Baianas de todos os Orixás. Têm, ainda, um trânsito muito bom pelos caminhos de Exu.Vale lembrar que nem todos os Baianos que se manifestam na Umbanda realmente o foram em encarnações passadas. Como ocorre em todas as Linhas de Trabalho da Umbanda, esses espíritos agruparam-se por afinidades energéticas e especialidades de atuação, mas dentre eles há múltiplas origens. Quando um Baiano incorpora num médium e ouve, aconselha e direciona o consulente em sofrimento, ele está fazendo mais do que isto. Está mostrando que cada Povo tem seu valor, sua bagagem moral e cultural, seus valores religiosos e a “sua” maneira de fazer o Bem e que todos podem contribuir para o progresso comum. Acima de tudo, mostram que somos diferentes, mas isso não é ruim, pois o que de fato importa são os valores que carregamos no íntimo. E assim quebram-se preconceitos; sem alarde e sem armas de guerra. Isto se chama Fraternidade. Em silêncio e de forma simples, os Guias da Umbanda nos ensinam e auxiliam muito mais do que podemos imaginar, porque nos revelam que somos parte de uma única raça: a Raça Universal dos Filhos de Deus.


Símbolos de representação da linha: Cocos, coqueiros.
Cores: Amarelo, amarelo e preto, branco, vermelho.
Ferramentas: Cocos, facões, búzios, fitas, pembas, etc.
Flores: Girassol, cravo vermelho, palmas, gérberas amarelas e vermelhas, flores do campo e flores amarelas e vermelhas em geral.
Comidas: Frutas cítricas em geral, coco, cocada, farofa, rapadura, grãos, vatapá, bobó de camarão, cuscuz.
Bebidas: Aguardente, batidas de coco, licores, água de coco, caldo de cana, vinhos.
Fumo: Cigarros de palha, charutos, cigarros.
Pontos de Força: Pé de coqueiro e palmeira ou o ponto de preferência do Baiano.
Saudação: Salve a Bahia!

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Fontes:
Adaptação do texto original postado no site Instituto Cultural Sete Porteiras do Brasil.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

O sincretismo dos Orixás com os Santos Católicos

O sincretismo dos Orixás com os Santos Católicos
Imagem: Ogum e São Jorge. Editadas em conjunto / Google
Quase todo templo de Umbanda possui imagens de santos católicos. Muita gente se refere a Ogum por São Jorge, Oxum a Nossa Senhora Aparecida... Mas de onde veio esse costume?

Quando os africanos vieram para o Brasil escravizados pelos portugueses, trouxeram consigo toda sua bagagem cultural, ainda que não pudessem vivê-la em toda a sua expressão. Parte importante dessa rica cultura era o culto aos Orixás, Inkices e Voduns*. Obviamente, a religião sofreu algumas modificações, o Candomblé do Brasil é diferente do que acontece na África, mas o principal (a essência do culto) foi preservado.
Os africanos trabalhavam dia e noite para seus senhores, mas no domingo podiam obter folga se fossem à igreja católica. Isso tudo era uma jogada esperta para que os padres católicos pudessem tentar converter os escravos, já que o culto aos Orixás era visto como adoração ao diabo e forças do mal. Nunca deu claramente certo, e grande parte dos africanos nunca se converteu, mas perceberam ali uma forma de poder tocar seus cultos de forma que não chamasse a atenção dos brancos: sincretizando seus Orixás, Inkices e Voduns com os Santos Católicos. Isso se deu quando os africanos começaram a perceber características semelhantes entre os santos e suas divindades.
Os congás/altares dos escravos eram compostos de imagens católicas, mas embaixo estavam enterrados elementos específicos das divindades (como pedras, ervas, metais, etc.). Desta forma, se um terreiro fosse invadido pelos brancos por se pensar que eles estariam "fazendo macumbas", encontrariam apenas imagens católicas no altar (já que os atabaques e outros elementos eram escondidos às pressas).

Percebe-se que para entender muita coisa da Umbanda é preciso voltar-se ao Candomblé, para a origem dos costumes e de alguns fundamentos. Embora nossa religião tenha sua própria liturgia, muito foi herdado.
Não especificarei a lista completa dos Orixás "e seus Santos" pois alguns não são cultuados na Umbanda, mas listarei os mais comuns. Segue:

Oxalá: Jesus Cristo
Oxóssi: São Sebastião 
Ogum: São Jorge
Xangô: São João, São Pedro e São Jerônimo 
Iansã: Santa Bárbara
Yemanjá: Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora da Conceição 
Oxum: Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora da Conceição
Omolu (Obaluayê): São Roque e São Lázaro 
Nanã Buruquê: Santa Ana
Ibeji: Cosme e Damião
Exu: Santo Antônio
Oxumarê: São Bartolomeu


Até hoje existem terreiros de Candomblé que fazem o sincretismo, bem como os terreiros de Umbanda que herdaram esse costume. Muitos templos de Umbanda, entretanto, assumiram as imagens dos Orixás africanos para reforçar a pluralidade e manter a identidade da divindade tal qual imaginamos. Cada um mantém seu terreiro como preferir, só não pode fazer confusão; Orixá é um, Santo é outro!
Vale lembrar que a presença das imagens de Jesus em muitos terreiros, entretanto, é para a representação de Jesus realmente, e não Oxalá. Jesus é muito cultuado na Umbanda por seus ensinamentos de amor, caridade e humildade, valores máximos de nossa religião.

Paz e luz!

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*Inkices e Voduns: Do povo africano que veio ao Brasil, três nações destacam-se entre as demais: Jeje, Ketu e Angola. Inkices e Voduns são divindades que correspondem aos Orixás da nação Ketu, sendo os Inkices da nação Angola e os Voduns da nação Jeje. Ler mais em: Lila Menez: As três nações de Candomblé

Fontes:

domingo, 5 de julho de 2015

Linha de Erês

Linha de Erês
Imagem: Erês da Umbanda. Editadas em conjunto / Google

Essa linha é regida por Oxum, embora cada Erê venha na irradiação de um ou mais Orixás, pois eles próprios são filhos de determinado Orixá e perante outros Orixás foram iniciados para trabalharem em Seus Mistérios.
Ibejada, Yori, Erês, Dois-Dois, Crianças, Ibejis, são esses vários nomes para essas entidades que se apresentam de maneira infantil; quando chegam no terreiro transformam o ambiente em pura alegria.

Yori: um dos raros termos sagrados que se manteve sem nenhuma alteração. Esse termo, assim como Yorimá, era de pleno conhecimento da pura Raça Vermelha, só se apagando do mental do ser humano após a catástrofe da Atlântida. Ele ressurgiu através do Movimento Umbandista, em sua mais alta pureza e expressão. Traduzindo este vocábulo através do alfabeto Adâmico, temos: a Potência Divina Manifestando-se, a Potência dos Puros.
Ibeji: (ib: “nascer”; eji: “dois”) Orixás gêmeos africanos que correspondem, no sincretismo afrobrasileiro, aos santos católicos Cosme e Damião. Ibeji na nação Keto, ou Vunji nas nações Angola e Congo.
Dois Dois: Nome pela qual são designados os santos católicos Crispim e Crispiniano; os santos Cosme e Damião; o Orixá africano IBEJI e a falange das crianças na Umbanda.
Erê: Vem do yorubá iré que significa “brincadeira, divertimento”. Existe uma confusão latente entre o Orixá Ibeji e os Erês. É evidente que há uma relação, mas não se trata da mesma entidade. Ibeji são divindades gêmeas, sendo costumeiramente sincretizadas aos santos gêmeos católicos Cosme e Damião.

Os Erês são entidades de caráter infantil que incorporam na Umbanda. Possuem o poder de renovação e incrível capacidade de alegrar todos ao redor, o amor é a própria energia manipulada pelas crianças. São espíritos naturais que se dividem em dois grupos: os que estão agrupados no quinto plano de evolução como seres encantados (que nunca encarnaram) e os que, em sua minoria, saíram de seu plano e encarnaram, e por algum motivo, desencarnaram ainda crianças. São seres de imensa luz e sabedoria, que utilizam da roupagem infantil para nos trazer sabedoria através de um sorriso. Nem todos são crianças, mas todos os Erês são infantilizados.
No decorrer das consultas vão trabalhando com seu elemento de ação sobre o consulente, modificando e equilibrando sua vibração, regenerando os pontos de entrada de energia do corpo humano. Esses seres mesmo sendo puros, não são tolos, pois identificam muito rapidamente nossos erros e falhas humanas. E não se calam quando em consulta, pois nos alertam sobre eles. Por apresentarem aspecto infantil podem não ser levadas muito a sério, porém o seu poder de ação fica oculto. São conselheiros e curadores, por isso foram associados à Cosme e Damião, curadores que trabalhavam com a magia dos elementos. O elemento e a força da natureza correspondente a Ibeji são todos, pois ele poderá, de acordo com a necessidade, utilizar qualquer dos elementos.
Manipulam as energias elementais e são portadores naturais de poderes só encontrados nos próprios Orixás que os regem. Estas entidades são a verdadeira expressão da alegria e da honestidade, dessa forma, apesar da aparência frágil, são verdadeiros magos e conseguem atingir o seu objetivo com uma força imensa. Embora as crianças brinquem, dancem e cantem, exigem respeito para o seu trabalho, pois atrás dessa vibração infantil, se escondem espíritos de extraordinário conhecimento. É curioso imaginar uma criança possuir a experiência e a vivência de um homem velho e ainda gozar a imunidade própria dos inocentes, mas a entidade conhecida na umbanda por Erê é assim. Faz tipo de criança, pedindo materiais de trabalho como chupetas, bonecas, bolinhas de gude, pedras, doces, balas e as famosas águas de bolinha (refrigerantes) e chamando os mais velhos de tios e avôs.
Normalmente têm os nomes relacionados a nomes comuns, normalmente brasileiros, como Rosinha, Mariazinha, Ritinha, Pedrinho, Paulinho, Cosminho, Luizinho, Aninha, Miguelzinho, etc.
Comem bolos, balas, refrigerantes (normalmente guaraná) e frutas. Alguns deles incorporam pulando e gritando, outros descem chorando, outros estão sempre com fome, etc. Estas características, que às vezes nos passam despercebidas, são sempre formas que eles têm de exercer uma função específica, como a de descarregar o médium, o terreiro ou alguém da assistência.

A festa de Cosme e Damião (Ibejis) é uma das homenagens mais populares da Umbanda, feita em quase todos os terreiros do país. Reúne não só os adeptos da religião, como todos os curiosos e entusiastas da alegria das festas de crianças.

A linha de Erês está integrada à tríade da direita na Umbanda, formada por Caboclos, Pretos Velhos e Erês.

Símbolos de representação da linha: Pirulito, bala e pássaros.
Cores: Cor de rosa, azul claro, branco.
Ferramentas: Doces, pedras, chupetas, brinquedos, etc.
Flores: Rosa branca, rosa cor de rosa, flores do campo e flores claras em geral.
Comidas: Doces diversos, frutas diversas, arroz doce, cocadas, balas, pirulitos, bolos, etc. Muitas casas servem apenas doces claros para os erês, deixando os doces escuros para os exus mirins. Outras servem claros e escuros para ambos.
Bebidas: Refrigerantes, sucos de frutas, água.
Fumo: Não usam.
Pontos de Força: Campos abertos e limpos e todos os outros pontos de força.
Saudação: Oni Ibejada!

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Fontes:
Adaptação do texto original postado no site Instituto Cultural Sete Porteiras do Brasil.
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