Imagem: Ogum e São Jorge. Editadas em conjunto / Google |
Quase todo templo de Umbanda possui imagens de santos católicos. Muita gente se refere a Ogum por São Jorge, Oxum a Nossa Senhora Aparecida... Mas de onde veio esse costume?
Quando os africanos vieram para o Brasil escravizados pelos portugueses, trouxeram consigo toda sua bagagem cultural, ainda que não pudessem vivê-la em toda a sua expressão. Parte importante dessa rica cultura era o culto aos Orixás, Inkices e Voduns*. Obviamente, a religião sofreu algumas modificações, o Candomblé do Brasil é diferente do que acontece na África, mas o principal (a essência do culto) foi preservado.
Os africanos trabalhavam dia e noite para seus senhores, mas no domingo podiam obter folga se fossem à igreja católica. Isso tudo era uma jogada esperta para que os padres católicos pudessem tentar converter os escravos, já que o culto aos Orixás era visto como adoração ao diabo e forças do mal. Nunca deu claramente certo, e grande parte dos africanos nunca se converteu, mas perceberam ali uma forma de poder tocar seus cultos de forma que não chamasse a atenção dos brancos: sincretizando seus Orixás, Inkices e Voduns com os Santos Católicos. Isso se deu quando os africanos começaram a perceber características semelhantes entre os santos e suas divindades.
Os congás/altares dos escravos eram compostos de imagens católicas, mas embaixo estavam enterrados elementos específicos das divindades (como pedras, ervas, metais, etc.). Desta forma, se um terreiro fosse invadido pelos brancos por se pensar que eles estariam "fazendo macumbas", encontrariam apenas imagens católicas no altar (já que os atabaques e outros elementos eram escondidos às pressas).
Percebe-se que para entender muita coisa da Umbanda é preciso voltar-se ao Candomblé, para a origem dos costumes e de alguns fundamentos. Embora nossa religião tenha sua própria liturgia, muito foi herdado.
Não especificarei a lista completa dos Orixás "e seus Santos" pois alguns não são cultuados na Umbanda, mas listarei os mais comuns. Segue:
Oxalá: Jesus Cristo
Oxóssi: São Sebastião
Ogum: São Jorge
Xangô: São João, São Pedro e São Jerônimo
Iansã: Santa Bárbara
Yemanjá: Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora da Conceição
Oxum: Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora da Conceição
Omolu (Obaluayê): São Roque e São Lázaro
Nanã Buruquê: Santa Ana
Ibeji: Cosme e Damião
Exu: Santo Antônio
Oxumarê: São Bartolomeu
Até hoje existem terreiros de Candomblé que fazem o sincretismo, bem como os terreiros de Umbanda que herdaram esse costume. Muitos templos de Umbanda, entretanto, assumiram as imagens dos Orixás africanos para reforçar a pluralidade e manter a identidade da divindade tal qual imaginamos. Cada um mantém seu terreiro como preferir, só não pode fazer confusão; Orixá é um, Santo é outro!
Vale lembrar que a presença das imagens de Jesus em muitos terreiros, entretanto, é para a representação de Jesus realmente, e não Oxalá. Jesus é muito cultuado na Umbanda por seus ensinamentos de amor, caridade e humildade, valores máximos de nossa religião.
Paz e luz!
_______________
*Inkices e Voduns: Do povo africano que veio ao Brasil, três nações destacam-se entre as demais: Jeje, Ketu e Angola. Inkices e Voduns são divindades que correspondem aos Orixás da nação Ketu, sendo os Inkices da nação Angola e os Voduns da nação Jeje. Ler mais em: Lila Menez: As três nações de Candomblé
Fontes:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar, é muito bom ter você por aqui!
Aceitamos todo tipo de crítica, mas temos a moderação dos comentários para evitar que discursos de ódio gratuitos sejam postados. Evite palavrões e ofensas pessoais, estamos aqui única e exclusivamente para compartilhar conhecimento. Axé!