quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Afinal, quem são os Orixás?

Afinal, quem são os Orixás?
Imagem: Pintura dos Orixás. Reprodução / Google.
A visão que temos de Orixá hoje certamente é muito diferente da que tínhamos mais antigamente.
Isso não só porque a Umbanda evoluiu, mas principalmente porque NÓS evoluímos!
Falar de Orixá é fácil e é difícil.

Esse texto, como tudo que for postado por mim, representa a minha opinião.Tenho algumas referências, algumas inspirações, mas principalmente, representa a visão que eu tenho sobre nossos amados pais e mães.

Explicando o Orixá:
Segundo Iassan Pery em seu livro Umbanda: Mitos e Realidade, é preciso compreender que com a "criação" da Umbanda como forma de culto, houve uma condensação e absorção de vários Orixás do Candomblé, pois um dos objetivos da Umbanda é a simplicidade de culto e rito. Da própria vinda do ritual africano para o candomblé brasileiro muitos Orixás foram condensados, ou esquecidos.
Na Umbanda, os Orixás são complexos de energia manifestados na Terra através da força da natureza criada por Deus, ou seja, são qualidades divinas. São Tronos de Deus, são "pedaços" Dele. É correto apontá-los como divindades, pois de fato o são. Xangô é a Justiça Divina, é a qualidade da justiça de Deus. Ogum é a Lei Divina, é a qualidade da lei de Deus, e por aí vai.
Cada Orixá tem como representante uma força ou um reino da natureza específico e, consequentemente, com objetivos específicos para sua atuação aqui na Terra, e como a natureza, trabalham em absoluta e total harmonia entre si. Desdobram-se, confundem-se, transformam-se e conjungam-se de maneiras harmoniosamente simples e ao mesmo tempo complexas. Ao meu ver, não existem quizilas na Umbanda.

Compreendendo as lendas e seus aspectos negativos:
As lendas do Candomblé tem sua importância para que possamos compreender as características de suas energias e de seus filhos. Ao serem humanizados, compreendemos melhor os Orixás, mas entendemos que o Orixá é maior que tudo isso. Descrever é limitar, mas é essencial para a compreensão humana. 
Reconhecer o divino em cada centelha de vida no planeta é reconhecer Deus em suas "divisões", os Orixás. Partindo disso, compreendo o aspecto negativo de cada Orixá como a energia sagrada em desequilíbrio em nós mesmos, porque o Orixá por si só não haveria de possuir aspectos negativos, certo? Sendo energias emanadas diretamente do próprio Criador, são perfeitas e equilibradas. Acredito que essa energia se desequilibra em nós, por isso encontramos filhos de Nanã rabugentos, por exemplo. O Orixá que nos rege não haveria de nos influenciar negativamente, e acredito que é aí que entra nosso livre arbítrio, nosso esforço em busca do equilíbrio em todos os Orixás. Somos filhos de Deus, portanto de todos eles. 

Compreendendo a essência do Orixá e o que agrega em nós:
Precisamos, acima de tudo, compreender os Orixás e o que todos eles agregam em nossa vida (aliás, o que nós fazemos dessas energias). Temos sim nosso Orixá Ancestral e nosso Pai e Mãe regente da vida atual, mas temos, de todos, influências e fragmentos que estão presentes em todo nosso ser.
Temos a maior influência vinda de nosso Orixá de frente e a energia equilibradora do Adjuntó, em perfeita comunhão com a energia dos demais Orixás.
Eu, particularmente, cultuo igualmente meus Orixás regentes, sem privilegiar mais o de frente e menos o adjuntó. Como Orixás que me escolheram para filha, cultuo igualmente, pois para mim tem a mesma importância... Assim como o Orixá ancestral e todos os demais, a quem busco o equilíbrio que preciso.
Lembrei-me de um artigo do médium Nikolas Peripolli que li há algum tempo e muito me chamou a atenção, explicando bem a importância de se louvar não só os seus pais mas todos os Orixás e principalmente, compreender a essência de cada um deles e trazer isso a sua vida. Segue o trecho:

"Se estamos em uma religião, que tem toda a sua estrutura voltada para nossa evolução e ajuda ao próximo, a famosa caridade, que começa a partir de nosso íntimo e das pessoas que nos cercam e só depois para os outros irmãos, como podemos entender, cultuar ou sentir um Orixá apenas pelo lado automático ou litúrgico? O valor e a força de um Orixá está na sua vida igualmente como anda seus relacionamentos com quem está a sua volta."

E ainda:

"Repense o valor dos Orixás em sua vida, entenda que elas se humanizaram para nos auxiliar, nos ajudar em nossas evoluções, ou seja, tudo que eles emanam para nós deve ser absorvido e colocado em pratica no dia a dia, mas caso isso não aconteça, tente novamente, até sentir a real transformação na sua vida. Não adianta saber qual é a cor do Orixás, suas frutas, seus elementos litúrgicos, sua origem, se no seu dia a dia, você não “incorporou” os valores e sentimentos que eles enviam todos os dias até nós."

Compreender o Orixá é incorporar em si mesmo essa energia sagrada, equilibrando-a, sem deturpações e desculpas (como as famosas "sou assim, brigão, porquê sou filho de Ogum") e compreendendo que essas forças existem para a melhora do planeta. A maior quizila é a criada em sua própria mente!

Entendendo sua representação:
Orixá negro. Orixá branco. Oxum como Nossa Senhora Aparecida.
Não importa como você pense que o Orixá é, porque ele é da forma que você imaginar mesmo.
Nós nos acostumamos a ver o Orixá sincretizado ou o Orixá africanizado, mas o Orixá como energia divina, não tem uma forma específica, mas tem a forma que você der a ele, assim como a Deus em sua forma UNO.
O que é importante entender é que Oxum NÃO É Nossa Senhora Aparecida, a sincretização se fez necessária no Candomblé, onde os escravos africanos eram proibidos de cultuar qualquer entidade diferente dos santos católicos. Desta forma, os negros procuraram nos santos características parecidas com os seus Orixás, por isso comemoramos seus dias no mesmo dia dos santos, mas devo dizer: pára aí.
A Umbanda sendo uma religião cristã, agregou esse costume da sincretização, o que é perfeitamente normal e aceitável, mas o Orixá é um e o Santo é outro!
O Orixá negro da forma como é representado na figura do topo dessa postagem, é de acordo com a herança africana. Essa representação faz mais sentido já que a África é o berço do culto aos Orixás.
Com o tempo, artistas foram "clareando a pele" dos Orixás, e podemos ver aí, dentre tantos motivos, um reflexo de uma sociedade que ainda não aceita o negro (tema para outra postagem no futuro, não agora).
De qualquer forma, particularmente gosto da representação do Orixá africano e negro para reforçar essa origem e sobretudo, reforçar a igualdade de raças.

Entendendo seus símbolos:
Mesmo quando imaginamos os Orixás da forma que quisermos, ainda nos retemos a alguns símbolos a que são associados e representados, como por exemplo, o arco e flecha de Oxóssi.
Compreendemos Oxóssi como o Orixá do conhecimento, do direcionamento, o grande caçador das matas. Seu arco e flecha nos auxilia a compreender sua essência. É a ferramenta para a caça; o movimento da flecha sendo lançada é o direcionamento, a expansão, a ampliação do nosso conhecimento, sempre a frente, alcançando nosso alimento, nosso saber.
Os símbolos e ferramentas dos Orixás nos remete imediatamente a seu campo de atuação.
Quando pensamos no raio de Iansã, nos lembramos de sua força, sendo a mais guerreira das Orixás, de sua tempestade, de sua inquietação; Iansã é dona do movimento, por isso também o vento. Nela contém a força dos elementos, a energia sagrada que move tudo no planeta.

E por fim, entendendo a pluralidade da Umbanda na diferença do culto aos Orixás:
Algumas casas condensaram mais (ou menos) os Orixás, por isso vemos a diferença numérica entre os terreiros. Vemos terreiros que cultuam sete, nove, onze, catorze, dezesseis Orixás. Vemos ainda, terreiros que cultuam a qualidade dos Orixás separadamente, como Oxalá, Oxaguiã e Oxalufã ou Omolu e Obaluayê.
Cada terreiro tem sua visão, sua percepção, sua experiência. 
Vale ressaltar que os Orixás não deixam de existir por terem sido condensados, é só simplificação de rito. Tampouco multiplicam-se pelas suas qualidades. Temos em cada Orixá "diferentes facetas" dele mesmo, por isso é tão complexo defini-lo.

Olorum (Deus) em sua infinita particularidade é complexo demais para que entendamos, por isso o cultuamos separadamente e os chamamos de Orixás.
Simples... E complexo!
Como você os entende? Compartilhe sua opinião! :)

3 comentários:

  1. Adorei o texto Cris! Eu entendo como orixa exatamente como aqui descrito, como divindades manifestadoras da energia divina, onde juntas em perfeita harmonia forma o mistério de Deus, cada orixa representa uma qualidade destas energias e é por eles que nós humanos conseguimos entender melhor a manifestação do divino e Deus, alem disso os orixas pais e maes(frente e adjunto) representam a manifestação desta qualidade como a essência criadora de nos mesmos. (difícil por em palavras o que sentimos rs)
    bjus Te.

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  2. Amei a explicação , tenho muitas dúvidas e adoro ler esses artigos que me ajudam a esclarecer .. muito obrigada!!!!

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